O comércio internacional continuará a despencar nos próximos meses, enquanto as economias lutam para se recuperar das medidas de “lockdown” usadas para diminuir o surto da COVID-19. Novos dados da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD) divulgados nesta quinta-feira (11) mostram que o comércio exterior caiu 5% no primeiro trimestre do ano e apontam uma queda de 27% no segundo trimestre e um declínio anual de 20% em 2020.
“Ainda há muitas incertezas sobre a possibilidade de qualquer recuperação econômica na segunda metade do ano”, afirma Pamela Coke-Hamilton, diretora de comércio internacional da UNCTAD. Ela informou que o comércio internacional deve ficar abaixo dos níveis de 2019 mas o quanto dependerá da evolução da pandemia e o tipo e tamanho de políticas que os governos adotarão para recomeçar suas economias.
Os últimos dados da UNCTAD estão na primeira edição da Atualização Global de Comércio, o novo relatório trimestral da organização que dá um panorama amplo do comércio internacional e das principais razões afetando o fluxo de comércio.
Cenário preocupante para países em desenvolvimento – Embora a redução do comércio provocada pelo novo coronavírus não tenha poupado ninguém, as projeções mostram uma rápida deterioração para países em desenvolvimento. Enquanto o comércio Sul-Sul viu uma queda de apenas 2% no primeiro trimestre do ano, dados da UNCTAD mostram uma queda dramática de 14% em abril.
“Para países em desenvolvimento, enquanto as quedas nas exportações são provocadas pela redução na demanda dos mercados de destino, o declínio nas importações pode indicar não apenas redução da demanda mas também uma troca nos movimentos, com preocupações sobre débito e menor circulação de moeda estrangeira”, aponta o relatório.
Setores automotivo e de energia em colapso – O relatório mostra que a ruptura econômica provocada pela COVID-19 tem afetado alguns setores mais do que outros. No primeiro trimestre de 2020, têxteis e vestuário caíram quase 12% enquanto setores automotivo e de maquinário caíram cerca de 8%. Por outro lado, o valor do comércio internacional no setor de agropecuária e alimentar, que tem sido o menos volátil, cresceu cerca de 25%.
Dados preliminares de abril indicam quedas na maior parte dos setores, com forte contração na comercialização de energia (-40%) e produtos automotivos (-50%). Houve também significativa queda de 10% em químicos, maquinários e instrumentos de precisão. Por outro lado, equipamentos de escritório parece ter se recuperado em abril, muito por conta da performance positiva de exportações da China. Segundo o relatório, a variação entre os setores tem ocorrido pela diminuição da demanda e rupturas na capacidade de surpimento e cadeias globais de valor em função da COVID-19.
Suprimentos médicos em alta – Um efeito notável da pandemia de COVID-19 tem sido o aumento da demanda por equipamentos e suprimentos médicos, como ventiladores, monitores, termômetros, higienizadores, máscaras de proteção e aventais. Enquanto o comércio internacional destes bens diminuiu no início da pandemia, ele se recuperou em fevereiro e março e quase dobrou em abril, na medida em que países lutavam para conseguir equipamentos médicos e de proteção.
O relatório aponta que o fluxo de importação e exportação seguiu o avanço do vírus. Por exemplo, nos dois primeiros meses de 2020 houve aumento da demanda doméstica na China, resultando num salto na importação de produtos médicos, primariamente da Europa e dos Estados Unidos, que ainda não tinham sido significantemente impactados pela pandemia. Enquanto isso, as exportações destes equipamentos caíram 15% enquanto a produção nacional foi desviada para atender a demanda interna.
Dados de março mostram que na medida em que a pandemia avançou para a Europa, as importações de equipamentos médicos saltaram para 21% na região, enquanto continuaram a aumentar na China (41%). Em Abril, enquanto a COVID-19 desacelerava na China e continuava a se espalhar pelo mundo, as exportações chinesas de equipamento médicos tiveram um pico impressionante de 338%, provocadas pelas exportações de equipamento de proteção. Os dados do mês para os Estados Unidos refletem o avanço da COVID-19 no país, com aumento da importação de produtos médicos em quase 60%, enquanto as exportações caíram quase 20%.
O relatório completo (em inglês) está disponível aqui.
Fonte
O post “Comércio mundial despenca e ONU prevê queda de 20% em 2020” foi publicado em 11th June 2020 e pode ser visto originalmente diretamente na fonte ONU Brasil