O Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) promoveu nos dias 10 e 11 de outubro a oficina “Testagem rápida por amostra de fluido oral no âmbito das ações de prevenção combinada”. A capacitação ocorreu na cidade gaúcha de Porto Alegre para jovens da organização da sociedade civil SOMOS – Comunicação, Saúde e Sexualidade.
O encontro faz parte das ações de prevenção combinada do projeto #BoraSaber, e está inserido no Plano Conjunto da ONU sobre AIDS 2019.
Para a ação em Porto Alegre, a oficina contou com a parceria do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS (UNAIDS); do Departamento de IST, Aids e Hepatites Virais da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde; da Secretaria Estadual de Saúde; e da Secretaria Municipal de Saúde de Porto Alegre.
O objetivo do encontro foi capacitar os membros e colaboradores da SOMOS para oferta de ações de prevenção combinada e testagem rápida do HIV por amostra de fluido oral entre jovens pertencentes às populações-chave e populações prioritárias. Ao todo, foram treinados cerca de 35 jovens – estudantes e profissionais de várias áreas de atuação – durante a oficina.
“A parceria com o UNFPA e com o Ministério da Saúde é bastante inovadora. Agora temos novas áreas de atuação – ir a campo para fazer testagens com os jovens – e linhas de pensamento”, comentou o cuidador da ONG Somos, Vincent Goulart.
Goulart avalia que a epidemia está cada vez mais grave, por isso “chegou a hora de avançarmos no trabalho com esse grupo. Não podemos culpabilizar o jovem, e sim, ver como a realidade da pessoa influencia na sua situação”, apontou.
A organização SOMOS foi criada há 17 anos e trabalha especificamente com direitos humanos, temáticas LGBT, orientação sexual, direitos sexuais e reprodutivos, e prevenção de IST e HIV/AIDS.
Para o secretário municipal de Saúde da Prefeitura de Porto Alegre, Pablo Stürmer, a iniciativa atende a diversas necessidades de reorganização nas políticas de enfrentamento ao HIV, principalmente por conta do envolvimento do poder público e da sociedade civil.
“Quando falamos na necessidade de ampliar acesso a informações sobre prevenção e tratamento, e quando há articulação com movimentos mais representativos, temos mais efetividade e facilidade ao atendimento de saúde”, afirmou Stürmer.
Utilizando dados para avançar políticas públicas
De acordo com o último Boletim Epidemiológico de HIV/AIDS 2018 do Ministério da Saúde, Porto Alegre apresentou taxa de detecção de 60,8 casos de AIDS por 100.000 habitantes—o dobro da taxa para o Rio Grande do Sul e 3,3 vezes maior que a taxa do Brasil.
“Temos buscado reorganizar nossa rede para focar nas necessidades das pessoas em relação à oferta do serviço, organizando fluxos de atendimento e adequando locais de tratamento”, relatou o secretário municipal de saúde.
Manoela Coimbra faz parte de um grupo de Direito da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) que presta assessoria jurídica gratuita para mulheres e pessoas LGBTI+ vítimas de violência e discriminação. Ela, que também é a coordenadora da Parada Livre de Porto Alegre, avalia que o projeto é bastante inovador.
“Precisamos estar minimamente capacitados e conhecer a rede para saber orientar as pessoas de forma adequada”, apontou Coimbra.
Segundo ela, é muito importante trabalhar entre os pares. “Esse momento de esmiuçar as informações, explicar tudo, todo o trabalho que tem por trás, é fundamental.”
Para Laisla Pereira, estudante de Psicologia que trabalha na coordenação de ISTs, HIV, TB, Hepatites Virais e Hanseníase, além de ações do Programa Fique Sabendo do município, a oficina foi uma oportunidade de expandir conhecimentos.
“O treinamento pode melhorar muito o trabalho que já faço. A troca com pessoas diferentes e com experiências diversas é muito importante para que possamos fazer nosso trabalho da melhor forma”, avaliou Pereira.
Projeto #BoraSaber
O #BoraSaber prevê a participação de adolescentes e jovens na mobilização em prol da oferta de testagem, e de informação qualificada sobre prevenção do HIV e infecções sexualmente transmissíveis.
Além disso, casos identificados positivos são vinculados aos serviços de saúde para início imediato do tratamento.
“É uma estratégia inovadora, porque o jovem não estará sozinho, sempre estará amparado, acompanhado de um par quando precisar de acesso a um serviço de saúde”, informou Caio Oliveira, Oficial de Programa de Juventude e HIV do UNFPA.
Segundo ele, “É fundamental para o UNFPA priorizar o acesso de adolescentes e jovens ao serviço de saúde”.
O #BoraSaber é um projeto que busca somar esforços no trabalho que o Departamento de IST, Aids e Hepatites Virais da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde vem fazendo.
Nara Araújo, representante do Ministério da Saúde, avaliou que “Essas ações promovem a ampliação do acesso ao diagnóstico e à prevenção combinada. É uma parceria muito produtiva para a expansão do trabalho que tem sido feito no país atualmente, para chegar às populações onde não conseguimos chegar”.
Plano Conjunto da ONU sobre AIDS 2019-2020
O projeto é implementado pelo UNFPA como parte do Plano Conjunto da ONU sobre AIDS 2019-2020, coordenado pelo UNAIDS.
“É uma parceria muito importante, que vai trazer mais uma oportunidade de testagem e ampliação ao acesso para essa testagem para jovens de populações-chave em Porto Alegre”, afirmou Cleiton Euzébio de Lima, diretor interino do UNAIDS Brasil.
Lima também destacou a realização da oficina de capacitação em testagem rápida com uma organização local. “Um projeto liderado por uma ONG é fundamental para seu sucesso, visto que ele é de base comunitária”, concluiu.
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