Um ano após enfrentar o maior desastre natural de sua história, o Rio Grande do Sul terá que se adaptar para novos ciclos de cheias extremas – que se tornarão até cinco vezes mais frequentes em razão das mudanças climáticas.
O alerta consta de diagnóstico divulgado no fim de abril pela Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA), que contabilizou a extensão dos impactos econômicos, sociais e ambientais das chuvas sem precedentes registradas em abril e maio no Estado.
“O desastre de 2024 foi causado por chuvas com uma combinação de magnitude, duração, intensidade e abrangência espacial que jamais foi observada no Brasil (…) Mais de 15.000 km² ficaram submersos, com perdas humanas e sociais alarmantes”, aponta o documento, em um trecho.
Dos 497 municípios gaúchos, 478 foram afetados, de acordo com os boletins oficiais emitidos pela Secretaria de Comunicação do Estado. Foram quase 2 milhões e 400 mil pessoas impactadas, com 183 mortes, 806 feridos e 27 desaparecidos. Aproximadamente 150 mil pessoas foram desalojadas e outras 50 mil ficaram desabrigadas.
Quase 600 escolas foram atingidas, prejudicando 225 mil estudantes. Além disso, a inundação destruiu mais de 250 trechos de estrada, 140 pontes e deixou o Aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre, fechado por seis meses.
“Durante o evento, quase a totalidade das barragens do estado, seja para geração de energia, abastecimento ou irrigação, apresentou elevado risco de rompimento”, relatou a agência.
O impacto econômico, segundo a Confederação Nacional de Municípios (CNM), alcançou R$ 13,3 bilhões, sendo o setor privado o mais afetado: R$ 4,9 bilhões na agricultura, R$ 514,8 milhões na pecuária, R$ 293 milhões na indústria e R$ 143,4 milhões no comércio local.
Esses impactos, de acordo com o documento, foram em decorrência da maior chuva já registrada no país, com uma combinação sem precedentes de magnitude, duração, intensidade e abrangência espacial.
“Essas chuvas caíram justamente nas regiões mais elevadas, declivosas e com solos maisrasos da bacia hidrográfica da Lagoa dos Patos, produzindo altos volumes de escoamento (…).”
De acordo com a agência, a tragédia expõe a influência cada vez maior das mudanças climáticas sobre a hidrologia da região. Projeções publicadas neste ano indicam que a magnitude das vazões máximas dos rios da região Sul durante as cheias poderá aumentar 20%, potencializando o efeito devastador sentido no ano passado.
“Além disso, as cheias extremas podem se tornar até 5 vezes mais frequentes. Isso significa que um evento extremo que atualmente ocorre, em média, a cada 50 anos, no futuro poderia ocorrer, em média, a cada 10 anos, aumentando os impactos negativos.”
Por esse motivo, a agência recomenda no estudo a atualização dos parâmetros hidrológicos (vazões e precipitações máximas, por exemplo) para que as séries históricas reflitam o cenário atual. Isso é fundamental para o planejamento de obras de infraestrutura, que deverão considerar um horizonte com muito menos previsibilidade.
“As infraestruturas devem ser projetadas de forma flexível, permitindo futuras ampliações ou ajustes para lidar com eventos ainda mais extremos”, sugere a agência.
Outra medida inevitável será corrigir as fragilidades estruturais e na gestão do risco nas áreas urbanas do Estado. “A urbanização estabelecida, problemas na manutenção de infraestruturas de proteção contra cheias e alertas ineficazes ampliaram os danos e comprometeram a segurança da população”.(RODRIGO VARGAS)
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