Já perceberam como a direita adora usar a palavra liberdade (em vão)? É grito da liberdade, marcha da família com Deus pela liberdade, liberdade acima de tudo (como se alguém fora eles estivesse ameaçando a liberdade)…
Liberdade é, pelo menos na teoria, um conceito muito caro pra eles. Só que não se aplica às mulheres. Mulheres não são livres, ou melhor, são livres apenas para amar seu marido e seus filhos. Mas mulher tem que ser submissa. Porque Deus quis assim! E não é que ela é inferior! Ela só sabe o seu papel.
Hoje mesmo pela manha,
numa entrevista a Jovem Klan, a única jornalista que não parece ser uma reaça, Amanda Klein, perguntou a seu Jair sobre os imóveis comprados com dinheiro vivo pela família. Bolso respondeu “Você é casada com uma pessoa que vota em mim”. O que ele quis dizer com isso? Que o senhor e mestre dela deveria dar um jeito nela (ao ser lembrado que a vida particular dela não estava em pauta, Bolso perguntou: “E a minha está?”, esquecendo-se que é uma figura pública. Dizem até que é presidente!).
No sábado a nora de seu Jair
participou de um evento em Novo Hamburgo, RS, chamado “Mulheres pela Vida e pela Família” (sem liberdade). Ao lado da terceira-dama Micheque e da ex-ministra Damares, Heloísa, esposa de Dudu Bananinha, discursou que “Casamento é submissão. Não se engane, nenhuma mulher é insubmissa, independente e livre”. E, de lambuja, falou mal do feminismo, como toda mulher de direita deve fazer pra tentar ser aceita por misóginos bastante assumidos.
Uma leitora que prefere ficar anônima mas que usa Matrix como apelido me enviou este texto:
“Casamento é submissão. Não se engane, nenhuma mulher é insubmissa, independente e livre”.
Cara Heloísa, li na internet essa descrição que você fez sobre mulheres e casamento.
Na verdade fiquei uns 10 minutos lendo e relendo a sua explanação num discurso em Novo Hamburgo.
Enquanto mulher, casada, livre, autônoma e independente eu, realmente, me questionei se estou fazendo algo de errado no meu casamento que já dura 12 anos, três filhos (eram 4, uma faleceu há 2 anos), uma casa bem organizada, um marido trabalhador, eu professora do ensino fundamental, contas em dia, finais de semana de muita alegria e cada vez mais e mais amor entre nós (sexo em dia) e tudo isso apesar de todo o caos que o Exmo Presidente da República instalou em nosso país.
Então concluí que, se há algum “erro”, certamente não está em nós mulheres mas sim nas escolhas que cada uma de nós faz.
Você escolheu ser submissa, dependente e encarcerada. Não estenda sua escolha a todas nós.
Existe vida dentro de uma união homem/mulher.
Vida LIVRE, AUTÔNOMA e INDEPENDENTE, apenas com amor, cumplicidade, lealdade, respeito e companheirismo.
Não use a sua vida moldada em parâmetros patriarcais ultrapassados, cruéis, imorais por natureza, que fazem da mulher um mero objeto para consumo.
Enfim, não cabe no século XXI, ano 2022, essa sua afirmação medieval e autocrática.
Guarde para você e suas admiradoras tais “opiniões”, porque sua fala não é consenso sob hipótese nenhuma.
Ser livre, independente e autônoma é condição primordial para que possamos sobreviver ao patriarcado enquanto mulheres (casadas ou não) e ocupemos nossos lugares onde quer que desejarmos.
Sinto muitíssimo pela sua escolha decadente.
Aliviada por saber que existem milhares iguais a mim.