DO OC – A exposição a ondas de calor extremo, secas severas, incêndios florestais e doenças infecciosas alcançou níveis sem precedentes nos últimos 25 anos. A taxa média de mortes relacionadas ao calor saltou 63% no período, chegando a 550 mil casos anuais. É uma morte por minuto.
Apenas em 2024, ano mais quente já registrado, a poluição provocada por incêndios florestais resultou em um recorde de 154 mil mortes. E a dengue teve seu potencial médio global de transmissão elevado em 50% desde a década de 1950.
Os dados constam do 9º relatório anual de indicadores sobre saúde e mudanças climáticas do The Lancet, uma das principais revistas médicas do mundo. O principal fator para este quadro, descrito pelos pesquisadores como sombrio, é a queima crescente de combustíveis fósseis.
“A destruição de vidas e meios de subsistência continuará a aumentar até que acabemos com nosso vício em combustíveis fósseis e melhoremos drasticamente nossa capacidade de adaptação”, disse Marina Romanello, da University College London, coordenadora do trabalho.
O estudo selecionou e analisou 20 indicadores sobre potenciais ameaças à saúde humana. Entre eles, a temperatura média dos oceanos, o nível de exposição a incêndios florestais e as perdas econômicas relacionadas ao calor extremo, estimadas em US$ 1,09 trilhão (quase 1% do PIB global).
Em 12 desses tópicos foi constatada uma piora em níveis preocupantes, enquanto em outros seis houve a reversão de tendências antes positivas. No ano passado, por exemplo, a exposição a ondas de calor aumentou 389% e 304% para bebês e idosos, respectivamente, em relação à linha de base de 1986-2005.
“Globalmente, a pessoa média experimentou 19 dias de ondas de calor por ano. Desses, 84% (16 dias) não seriam esperados sem as mudanças climáticas, o que resultou em 530% mais dias do que seria esperado”, relata o estudo.
O estudo menciona ainda que em 2024 o mundo teve 60,7% de sua área terrestre sob o efeito de secas severas. E que, em relação às precipitações extremas, houve 64% de aumento nas ocorrências de 2015 a 2024, quando comparadas ao período de 1961 a 1990. Um cenário que coloca em risco a segurança hídrica, a segurança alimentar e o saneamento.
“Em todo o mundo, estamos vendo esses múltiplos impactos na saúde se agravarem mutuamente para desencadear uma cascata de danos que minam os próprios fundamentos sociais e econômicos que apoiam a saúde e o bem-estar das pessoas”, disse a Stella Hartinger, autora do relatório global.
Segundo ela, a população mundial paga o preço pelo “fracasso consistente dos líderes globais” em agir concretamente no combate às mudanças climáticas.
“Um preço pago mais severamente pelos países vulneráveis e que menos contribuíram para a crise”, concluiu.
Produzido em colaboração com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o trabalho reuniu 128 especialistas de 71 instituições, além de agências da ONU pelo mundo. A conclusão é que, embora com perspectivas nada boas para o momento, ainda há tempo e meios para reverter o desastre.
“Já temos as soluções em mãos para evitar uma catástrofe climática, e comunidades e governos locais em todo o mundo estão provando que o progresso é possível. Desde o crescimento de energia limpa até a adaptação urbana, a ação está em andamento e proporciona benefícios reais à saúde, mas devemos manter o impulso. A eliminação rápida dos combustíveis fósseis continua sendo a alavanca mais poderosa para desacelerar as mudanças climáticas e proteger vidas”, defendeu Romanello.
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O post “Calor extremo mata 550 mil pessoas por ano, diz Lancet” foi publicado em 29/10/2025 e pode ser visto originalmente na fonte Observatório do Clima
