Nos últimos dias, ganhou destaque a manchete de que o governo brasileiro estaria travando as tratativas para aprovar o orçamento de 2021 da Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB) das Nações Unidas. De acordo com o Ministério das Relações Exteriores, entretanto, não é bem assim. Procurado por ((o))eco, a assessoria do Itamaraty afirma que o Brasil não boicotou o avanço das negociações e que sua única preocupação – assim como a de outros países em desenvolvimento – é com a realização de negociações virtuais, em virtude da pandemia, que “podem não atender aos critérios de transparência e inclusão que devem pautar todo processo negociador multilateral”.
“Retratar a proposta brasileiro como tentativa de bloqueio é injusto, inclusive porque a proposta brasileira deveria ser considerada inofensiva por todos. Apenas solicitamos que se incluísse uma nota de rodapé no texto do orçamento, que esclareceria de forma meramente factual o estado em que se encontram as discussões entre as Partes da CDB sobre um tema em particular: a realização de negociações virtuais”, reforça o texto enviado por e-mail ao ((o))eco.
A resposta do Itamaraty esclarece ainda que a realização de negociações virtuais é objeto de controvérsia em outros foros ambientais entre países desenvolvidos e em desenvolvimento, já que é um formato que pode privilegiar a participação de nações mais ricas na discussão. “Numerosos países, da América Latina, da Ásia e da África compartilham as preocupações do Brasil de que negociações virtuais não são o ideal para levar adiante negociações tão complexas e importantes quanto as da CDB. Muitos países em desenvolvimento enfrentam problemas de conectividade de internet muito sérios, que não permitiriam que participassem de forma efetiva nas negociações”, defende o Ministério.
O texto conta ainda que ao menos um outro país encaminhou comunicação formal à Presidência e ao Secretariado do CDB com posição similar à brasileira e que os representantes brasileiros incluíram a proposta de nota de rodapé “porque o texto do orçamento parecia prejulgar o debate entre os países sobre o tema”.
Em comunicado oficial divulgado na última quinta-feira (19), a presidente da CDB, Yasmine Fouad, havia escrito que “devido a um comentário que foi enviado pelo Governo do Brasil visando a inserção de notas de rodapé nos projetos de decisão, não foi possível avançar. O comentário constituiu uma objeção à adoção destas decisões pelos respetivos órgãos” (leia aqui ). A nota, reverberada pela ONU, repercutiu inclusive entre entidades e ambientalistas, que assinaram um manifesto para o Brasil rever sua postura na Convenção.
“O Brasil não travou o avanço das negociações, e não é isso o que diz a nota da presidência da COP [Conferência das Partes]. O orçamento da CDB ainda está em negociação. Seu texto nunca foi fechado antes da COP. A COP foi convocada justamente para finalizá-lo e aprová-lo. Qualquer delegação tem o direito de solicitar alterações aos textos propostos, como fez o Brasil. O Brasil está apenas exercendo seu direito numa negociação. A negociação não foi suspensa em momento nenhum; a COP tem apenas seguido seus ritos usuais”, diz o Itamaraty.
No comunicado da presidente da CDB, Fouad, que ocupa o cargo de Ministra do Meio Ambiente do Egito, lembra que “a falha em adotar um orçamento antes do final de 2020 resultaria em um cessação completa das operações do Secretariado a partir de 1 de janeiro de 2021 devido à falta de autorização exigidas pelas regras financeiras. As implicações financeiras e legais de qualquer violação de contratos resultante pode implicar responsabilidade financeira adicional para as Partes”.
“Nunca houve ameaça de bloqueio do orçamento. Trata-se apenas de uma negociação. O texto poderá ser aprovado apenas quando todos os países estiverem de acordo”, rebate a nota enviada pela assessoria do Itamaraty ao ((o))eco.
Ainda de acordo com o Ministério das Relações Exteriores, a comunicação da presidente não identificou o Brasil “como responsável pelo bloqueio”. “A comunicação da Presidente seguiu, na realidade, um procedimento padrão nessas negociações: informou que uma delegação havia solicitado alteração ao texto do orçamento e indicou a necessidade de que sejam realizadas consultas a respeito com vistas à sua aprovação. Infelizmente, a nota tem sido mal interpretada por atores que não compreendem como funciona uma COP com procedimento de silêncio”, defende o Itamaraty, que confirma que o país está engajado construtivamente nas negociações do Marco Global da Biodiversidade Pós-2020.
As reuniões extraordinárias da Convenção, realizadas virtualmente, foram retomadas nesta quarta-feira (25) e irão até sexta-feira (27). Ao todo, 196 países são signatários da CDB. O responsável pelas negociações nas COPs do clima e biodiversidade é o ministro Leonardo Cleaver de Athayde, atual diretor do Departamento de Meio Ambiente do Itamaraty.
Leia também
Brasil trava negociações na Convenção sobre Diversidade Biológica
Manifesto pede que governo reveja sua postura na Convenção sobre Diversidade Biológica
O post Brasil não travou negociações da Convenção sobre Diversidade, diz Itamaraty apareceu primeiro em ((o))eco .
Fonte
O post “Brasil não travou negociações da Convenção sobre Diversidade, diz Itamaraty” foi publicado em 26th November 2020 e pode ser visto originalmente diretamente na fonte ((o))eco