Está difícil decidir o que tirará mais votos de Bolso até domingo. O “pintou um clima”? O atentado de seu aliado Bob Jeff contra a PF? Ou o plano do sinistro da Economia Paulo Guedes de, um dia depois do segundo turno, apresentar sua proposta para desindexar o salário mínimo e as aposentadorias da inflação?
Seja lá o que for, o TSE está proibindo que se fale em qualquer uma dessas coisas. Não entendi porquê, se são todas verdade. Neste caso do salário mínimo, só ficamos sabendo graças
a uma reportagem da
Folha de SP. Mas não é novidade. O ex-vice de Bolso e agora senador
Mourão já disse a empresários ser a favor de uma nova Constituição sem o 13o salário e a gratificação de 1/3 de férias para “desonerar os patrões”.
Se os planos de Guedes pro salário mínimo estivessem em vigor desde 2002, hoje ele seria de R$ 502 em vez de R$ 1.212. É mole ou quer mais (na verdade, menos)? O teto do INSS seria, hoje, de R$ 3.167 caso os planos de Guedes estivessem em vigor desde 2002. Hoje é de R$ 7.087.
35 milhões de trabalhadores (40% da população ocupada) ganha o salário mínimo. Outros 36 milhões de aposentados e pensionistas também. Imagina toda essa gente ganhando A METADE do que ganha hoje! É isso que BolsoGuedes quer! E, com esse Congresso comprado pelo Bolsolão (e o que vem aí é muito pior), querer é poder. Se reeleito, Bolso passará tudo que quiser. Tudo que for péssimo pro Brasil.
Agora que os planos nefastos de Guedes vieram à tona, Bolso promete que haverá ganho real para o salário mínimo. Ué, em nenhum dos quatro anos do pior governo de todos os tempos houve ganho real. Não dá pra acreditar no mentiroso! O cúmulo do cinismo foi Guedes sugerir que, com a desindexação, o salário mínimo poderia aumentar! Sim, acreditamos: assim como a reforma trabalhista iria gerar empregos e aumento salarial e a cobrança à parte das bagagens pelas companhias aéreas reduziriam os preços das passagens!
A economista Monica de Bolle fez uma thread para explicar o que vai acontecer caso Bolso seja reeleito e Guedes passe a boiada. Reproduzo-a aqui.
Para quem quiser explicar para alguém a perda de poder de compra do salário mínimo para quem recebe pensão (ou salário mínimo) caso haja desvinculação da inflação, como quer o governo, acompanhem o passo-a-passo aqui:
A inflação de 12 meses está em 7,2%. Arredondemos para 7% para simplificar a conta.
O salário mínimo está em R$ 1212. Trabalhemos com R$ 1200 também para simplificar.
Se o salário mínimo (SM) ficar congelado em janeiro de 2023 e a inflação de 12 meses for 7%: o poder de compra do SM será igual a 93% do valor de 2022 (isto é, 100% descontada a inflação de 7% = 93%). 93% de R$ 1200 é R$ 1116. Esse será o poder de compra do SM. A perda real é de R$ 84.
Ou seja, a pessoa recebe R$ 1200, mas a inflação comeu um pedaço do poder de compra. R$ 1200 não mais “compram” R$ 1200 em bens e serviços, mas sim R$ 1116, ou R$ 84 a menos.
Agora consideremos um pensionista que recebe 3 SMs de pensão, ou cerca de R$ 3640, hoje.
Usando o mesmo raciocínio anterior: se o SM for congelado e a inflação de 12 meses for de 7% em janeiro de 2023, esse pensionista receberá R$ 3640 que não mais valem R$ 3640.
A pensão agora vale 93% de R$ 3640, ou R$ 3385. A perda real é de R$ 255.
Por quê? Porque não houve reajuste para a inflação, logo o governo deixou que ela corroesse o poder de compra.
Se houvesse reajuste, o governo teria de pagar ao pensionista R$ 3894, que é o valor de R$ 3640 reajustado para a inflação de 7%.
É assim que funciona hoje. É isso que o governo quer mudar.
Se o governo emplacar a mudança, pensionistas irão perder e muito.
Mas, vejam só, as despesas do governo com a previdência vão diminuir. Esse corte de despesas ajudará a pagar as benesses que hoje compram votos. Também ajudará a cobrir o desvio de dinheiro público em benefício de interesses privados secretos. Isso mesmo, o orçamento secreto.
Portanto, quem vai pagar o orçamento secreto? Os pensionistas. As famílias que vivem de salário mínimo. Os 64 milhões de inadimplentes.
Esse é o lado sombrio da ajuda que muitos pensam estar recebendo. A ajuda é passageira. A conta a pagar, a desvinculação do SM da inflação, se vingar, será permanente.
Expliquem assim.