Como explica uma reportagem publicada na quarta no El País, comemorando os 25 anos das urnas eletrônicas, a “pregação de Bolsonaro contra urna eletrônica repete Trump e arrisca judicializar eleição de 2022”. Em janeiro, quando Trump tentou dar um golpe com a invasão do Capitólio, Bolso ameaçou: “Se não tivermos voto impresso em 2022, alguma maneira de auditar o voto, teremos problemas piores dos que nos EUA”.
Obviamente, Bolso não está interessado no voto impresso. O que ele quer é semear o caos, gerar dúvidas sobre o funcionamento das urnas eletrônicas para, assim, colocar toda a democracia em xeque caso ele não ganhe. Até quando ele ganhou, em 2018, ele disse que as eleições foram fraudadas. Afinal, ele deveria ter vencido no primeiro turno. Nunca mostrou uma prova sequer que sustente sua teoria conspiratória.
Pra piorar a situação, o PDT de Ciro Gomes decidiu também defender o voto impresso, dizendo ser um bandeira do partido desde Leonel Brizola (e fingindo ignorar o que Bolso realmente deseja ao se manifestar contra as urnas eletrônicas).
A escolha do PDT até rendeu um elogio da deputada bolsonarista Carla Zambelli: “Parabéns pelo posicionamento, Carlos Lupi. Eleições transparentes, seguras e confiáveis ão são pauta ‘da direita’ ou ‘da esquerda’, mas do Brasil”. A regra é clara: quando você está do mesmo lado da extrema-direita golpista, é sinal de que você está fazendo algo muito, muito errado.
Reproduzo aqui o editorial do El País (Brasil) contra o voto impresso.
A menos de um ano e meio para as eleições presidenciais, Jair Bolsonaro embarcou em uma lesiva campanha de descrédito do atual sistema de votação com urnas eletrônicas. Adotada há 25 anos, a urna eletrônica se destaca, segundo as autoridades eleitorais, por sua eficácia, segurança e transparência, sem ter dado lugar a nenhum incidente relevante em todo esse tempo. Com uma extensão de 8,5 milhões de quilômetros quadrados e algumas das zonas habitadas mais inacessíveis do mundo, o Brasil utiliza um sistema que, com razão, é admirado em muitos outros lugares.
Mas, seguindo o rastro de Donald Trump, Bolsonaro decidiu, antecipando-se à campanha pela reeleição, lançar a sombra da fraude, ao semear constantes dúvidas sobre a confiabilidade do sistema de votação. Não é a primeira vez que faz isso. Na campanha em que foi eleito, em 2018, insistiu repetidamente que só aceitaria o resultado se vencesse as eleições. E, numa repetição daquela estratégia, vem há meses alertando para “problemas piores que nos EUA” depois das eleições de 2022 no Brasil. Agora, uma comissão do Congresso pode debater uma reforma constitucional que permita a cada eleitor receber uma cópia impressa do seu voto, possibilidade que até agora era recusada.
A realidade é que, desde a implementação do atual sistema de voto por urna eletrônica , não houve prova alguma de fraude nas eleições feitas no Brasil. Além disso, seis meses antes de cada eleição a Justiça Eleitoral divulga o código-fonte do sistema para que seja auditado por diversos órgãos oficiais (como o Ministério Público) e privados (como a OAB). A partir daí, os controles são contínuos. Ao longo de todo o processo, a urna jamais é conectada à internet, e durante uma semana programadores, hackers, policiais e partidos políticos são convidados a atacar o sistema para detectar possíveis vulnerabilidades.
O resultado é que o sistema brasileiro não foi posto em xeque nem dentro nem fora do país, salvo em redutos conspiracionistas, até agora marginais, mas em cujas teses Bolsonaro se baseia, principalmente quanto à possibilidade de auditar a votação. A frase “voto impresso e auditável” se tornou um dos mantras dos partidários do presidente.
É legítimo ponderar formas de melhorar o sistema, mas não erodir a confiança no sistema. Bolsonaro solapa a democracia brasileira ao lançar suspeitas sobre o ato mais importante da cidadania. Seu objetivo não é a transparência, e sim o caos. Seria conveniente que um seguidor tão fervoroso de Trump recordasse o lamentável resultado da estratégia para o ex-presidente.
O post “BOLSO ARMA GOLPE CONTRA URNA ELETRÔNICA” foi publicado em 28th May 2021 e pode ser visto originalmente na fonte Escreva Lola Escreva