Cientistas chamam negociadores na chincha
Direto do Pavilhão da Ciência, alguns dos maiores nomes da pesquisa climática do mundo mandaram um recado para os negociadores da COP30: “precisamos ter uma relação muito mais próxima”. Em manifesto, nove cientistas – incluindo o brasileiro Carlos Nobre, o sueco Johan Rockström e a alemã Ricarda Winkelmann – explicaram que, para evitar os pontos de não-retorno dos quais o planeta se aproxima perigosamente, a humanidade precisa reduzir as emissões de gases de efeito estufa em 5% ao ano. E isso, reafirmaram, é impossível sem eliminar rapidamente o uso de combustíveis fósseis. Segundo os cientistas, a tarefa inadiável torna a COP30 tão importante quanto a de 2015, que aprovou o Acordo de Paris.
Inundação de lobistas
A sexta-feira teve recorde de participação quebrado na COP30 – para a derrota do planeta. Levantamento da coalizão Kick Big Polluters Out (KBPO) confirmou que a conferência de Belém tem o maior número proporcional de lobistas da indústria fóssil desde que o mapeamento começou a ser feito, em 2021: 1.602 pessoas. Representantes de empresas de óleo e gás e de grupos comerciais associados à indústria são um em cada 25 participantes da conferência, formando uma delegação maior que a dos dez países mais vulneráveis à crise do clima somados. Chade, Eritreia, Guiné-Bissau, Ilhas Salomão, Micronésia, Níger, Serra Leoa, Somália, Sudão e Tonga têm juntos 1.061 representantes na COP30.
Zona verde e amarela 1
Povos indígenas da região dos rios Tapajós e Arapiuns movimentaram com protestos o principal acesso aos pavilhões da zona azul na COP30 em Belém (PA) nesta sexta-feira (14). Com faixas e cantos, cobraram a demarcação de terras, a revogação de um decreto federal sobre hidrovias e o arquivamento do projeto da Ferrogrão. No início da manhã, a concentração de representantes dos Munduruku obrigou as equipes de segurança a organizar uma rota alternativa para a entrada dos participantes credenciados, o que resultou em longas filas. Ao meio-dia, representantes das outras 13 etnias que, juntamente com os Munduruku, integram o CITA (Conselho Indígena Tapajós Arapiuns), voltaram a se concentrar no mesmo local.
Zona verde e amarela 2
Em ambos os casos, o impasse em potencial foi contornado com a intervenção do presidente Lula, que encaminhou aos indígenas uma comissão formada pelas ministras Marina Silva (Meio Ambiente) e Sônia Guajajara (povos Indígenas), além do embaixador André Corrêa do Lago, presidente da conferência. A primeira conversa começou do lado de fora do pavilhão e resultou no desbloqueio do acesso principal e em uma imagem que correu o mundo, com Corrêa do Lago segurando nos braços uma criança indígena. O segundo tempo dos debates ocorreu em um auditório no prédio do Tribunal de Justiça do Pará, bem ao lado dos pavilhões da COP30. O espaço foi cedido para o que a ministra Marina Silva chamou de “zona azul nacional”, para discutir questões que não estão na pauta da conferência. “Hoje pela manhã o presidente Lula ligou para Soninha, preocupado com a situação de todas essas questões que são nossas, que são do Brasil. E, antes de eu vir para cá, falei com ele e ele falou com o André e disse: ‘É para dialogar’”, disse. Duas novas demarcações foram anunciadas.
Crise do clima afetou o açaí, contam indígenas
Três indígenas da região do médio rio Negro contaram na quinta-feira (13), na Zona Azul, como as mudanças do clima vem afetando a frutificação do açaí (que antes ocorria em maio e agora acontece em outubro) e o comportamento das queixadas (uma espécie de porco selvagem que têm invadido roçados por não encontrar frutos para se alimentar). O mapeamento das mudanças climáticas no cotidiano dos indígenas é coordenado pelo Instituto Socioambiental.
Europa quer plano para transição justa
A União Europeia propôs nesta sexta-feira um “plano de ação” para a transição justa. O objetivo é facilitar a partilha de conhecimentos (medidas para uma ação climática justa e inclusiva, impactos nos trabalhadores e comunidades). O movimento parece feito sob medida para esvaziar a proposta da sociedade civil, apresentada pelo G-77 (o grupo dos países em desenvolvimento), de um mecanismo para transição justa, o BAM (Mecanismo de Ação de Belém), que seria uma instituição nova criada dentro da Convenção do Clima e, portanto, demandaria que os países ricos abrissem o bolso. Esse tipo de contraproposta é raro, mas acontece muito em COPs: em 1997, o Brasil pediu na conferência de Kyoto um fundo de desenvolvimento limpo para os países pobres. Os EUA fizeram a contraproposta de um mecanismo, o MDL, que existe até hoje.
EUA ganham Fóssil do Dia
O maior poluidor da história da Terra foi agraciado nesta sexta-feira com o antiprêmio Fóssil do Dia, concedido pela coalizão de ONGs Climate Action Network (CAN). O troféu, dado todos os dias nas COPs aos países que mais atrapalham as negociações, foi concedido “in absentia”, já que os americanos se retiraram (de novo) do Acordo de Paris neste ano. Os EUA são, ao lado da Arábia Saudita, o país que mais recebeu o troféu de gozação da CAN.
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O post “Belenenses: notas sobre a COP30 (dia 5)” foi publicado em 17/11/2025 e pode ser visto originalmente na fonte Observatório do Clima
