Por Lise Kingo*
Bem-vindos e bem-vindas à Década da Ação: enquanto adentramos 2020, permitam-me compartilhar com vocês algumas reflexões sobre meus medos, esperanças e boas expectativas para um ano importante — o limiar de uma década crucial que o secretário-geral da ONU, António Guterres, chamou de “A Década da Ação” .
Eu temo estarmos correndo contra o tempo: na linha de largada da Década da Ação, o mundo está perdendo a corrida para evitar a crise climática. Dois mil e dezenove foi o ano mais quente já registrado, encerrando a década mais quente já registrada, e a tendência deve continuar.
Em novembro de 2019, 11 mil cientistas especializados em clima soaram o alarme dizendo que a Terra está “claramente e inequivocamente” enfrentando uma emergência climática e advertindo que estamos esgotando o tempo de reverter esta tendência.
Nós somos todos impactados pelas mudanças do clima. Ondas de calor, queimadas, tempestades, secas, inundações e o aumento do nível dos oceanos estão ameaçando os meios de sustento e a segurança de bilhões de pessoas.
Para alguns, a sobrevivência depende da liderança global de agir AGORA. Em maio de 2019, o secretário-geral da ONU visitou Tuvalu, um país que, junto com outros países insulares no Oceano Pacífico, enfrenta um aumento do nível do oceano quatro vezes maior que a média global.
Ainda assim, apesar de todos os dados e provas científicas, todos saímos desapontados da COP25 (Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas) em Madri e de seu chamado urgente aos governos para que façam a transição a uma economia independente de combustíveis fósseis. Na verdade, em vez de cair, as emissões de CO2 continuam a aumentar.
Com a adoção da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável em 2015, 193 países-membros da ONU prometeram não deixar ninguém para trás. Mas a realidade é que, cinco anos depois, desigualdades estão crescendo entre ricos e pobres, homens e mulheres, Norte e Sul.
E a nossa falha em evitar as mudanças do clima deixarão os mais vulneráveis ainda mais para trás. Esta preocupação também foi apontada no nosso CEO Study de 2019, conduzido em parceria com a Accenture, no qual 88% dos CEOs apontaram a necessidade de redirecionar o nosso sistema econômico global para a inclusão.
Eu tenho esperança na próxima geração e na liderança de negócios: 2019 também foi o ano em que o mundo acordou com relação à emergência climática. Armada com dados científicos, a ativista Greta Thunberg incentivou milhões de pessoas a pedir ação climática dos líderes globais.
Jovens tomaram as ruas todas as sextas-feiras, crescendo em número de semana a semana. Suas preocupações são legítimas e suas vozes são necessárias no debate sobre o futuro que é deles.
Na verdade, de acordo com pesquisa da Anistia Internacional com 10 mil jovens de idades entre 18 e 25 anos, de seis continentes, as mudanças do clima são o assunto mais preocupante para 41% dos entrevistados. Eles não têm paciência para declarações que não são seguidas por ações audaciosas e transformadoras.
Como estudantes e futuros funcionários, empreendedores, consumidores, investidores e eleitores, eles estão determinados a mudar o mundo.
No Pacto Global, também decidimos capturar energia, imaginação e impaciência de jovens profissionais que trabalham em nossas empresas participantes. Lançamos um programa de aceleração chamado “Jovens Inovadores em ODS”, ativando futuros líderes transformadores a desenvolver e guiar soluções inovadoras e modelos de negócio voltados aos objetivos de sustentabilidade de suas empresas.
Na intenção de convidar os jovens a se sentar à mesa, em nosso Leaders Summit de 2019, também celebramos 15 jovens SDG Pioneers, que através do seu trabalho materializam uma nova era para a liderança corporativa sustentável. Esses são os exemplos da próxima geração que me enchem de esperança.
Dois mil e dezenove também foi o ano em que líderes empresariais tomaram a liderança e se posicionaram por um futuro em que o aumento da temperatura da Terra não ultrapasse 1,5ºC acima de níveis pré-industriais — porque este é o nosso único futuro.
Até a COP25, em dezembro, 177 empresas tinham se comprometido com a meta ambiciosa reduzir suas emissões de gases causadores do efeito estufa de forma alinhada com o futuro de 1,5º C. Coletivamente, estas empresas representam mais de 5,8 milhões de trabalhadores, abrangem 36 setores, e tem sedes em 36 países.
Com um valor de mercado combinado de 2,8 trilhões de dólares e representando um volume de emissões anuais equivalente ao da França, o comprometimento dessas empresas oferece um ponto de virada real. Tenho confiança de que estamos testemunhando o início de uma nova economia de carbono neutro.
Tenho grandes expectativas para um ano de união: 2020 marca o início da “Década de Ação”. Uma década de oportunidades para entregar a visão audaciosa estabelecida pela Agenda 2030 — para criar um futuro melhor para todos em um planeta saudável.
Dois mil e vinte marca o aniversário de 75 anos da Organização das Nações Unidas. Construída das cinzas de duas guerras mundiais e inimagináveis crimes contra a humanidade, a ONU foi formada a partir do entendimento que as nações precisam trabalhar juntas em unidade pelo bem comum e no serviço da humanidade.
Na próxima década, todos nós seremos definidos pela forma como lidamos com os desafios mundiais em tudo que fazemos — como indivíduos e através das plataformas públicas e privadas que nos foram confiadas.
Dois mil e vinte também marca os 20 anos do Pacto Global, unindo empresas por um mundo melhor. Conforme nos lançamos na Década da Ação para entregar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, não há melhor momento para celebrar a visão do nosso fundador, o ex-secretário-geral da ONU Kofi Annan.
Em 2000, ele teve a visão de iniciar um “pacto global de valores e princípios compartilhados” entre as Nações Unidas e as empresas para “dar uma face humana ao mercado global”.
A sua visão estará iluminada enquanto levaremos mais de 1,5 mil líderes de todo o mundo ao Leaders Summit de 2020, que acontece em 15 e 16 de junho, em Nova Iorque. Juntos, vamos reimaginar, reiniciar e redefinir ambições, liderança e ação para entregar o mundo que queremos.
Eu convido você a se unir a mim em nosso Leaders Summit, no qual passarei o bastão ao novo CEO do Pacto Global. Foi uma honra e um prazer liderar a iniciativa nos últimos cinco anos.
Então, faremos de 2020 o ano em que cumpriremos nossas promessas para funcionários, família, comunidade, atores e, não menos importante, para a próxima geração, ao abraçar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável — sempre guiados pelos Dez Princípios.
*CEO e diretora-executiva do Pacto Global da ONU
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