Por Claudia Valenzuela e Fernando Pieroni*
Vivemos um momento de extrema complexidade, que tem nos exigido estar longe das pessoas e de lugares que nos fazem bem, como os parques. Se antes da pandemia esses espaços já exerciam um papel importante para a qualidade de vida da população, após o período de isolamento eles possivelmente assumirão um novo patamar no cotidiano e no imaginário social, ajudando a sociedade a se reconectar com a natureza e a novamente compartilhar o espaço público para as atividades de lazer, cultura e esporte.
Essa vocação democrática dos parques incide também sobre uma agenda que vem sendo cada vez mais necessária nos tempos atuais: a questão da diversidade. A promoção de áreas verdes que contemplem essa pauta está prevista em uma das metas globais da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, que visa “proporcionar o acesso universal a espaços públicos seguros, inclusivos, acessíveis e verdes, particularmente para mulheres e crianças, pessoas idosas e pessoas com deficiência”.
Considerar a diversidade como uma das diretrizes para a gestão de parques é, portanto, condição essencial para garantir a plena função social dessas áreas e fortalecer outras formas de se apropriar do espaço público. Diante do cenário desafiador da administração dos parques e da eminente demanda de usuários e usuárias que desejam ou já utilizam esses espaços, como e por onde começar a implementar a perspectiva da diversidade? Vejamos algumas das orientações propostas pela publicação Parques para Todas e Todos, lançada recentemente por UNOPS e Semeia, em parceria com ONU Mulheres e UNAIDS.
O primeiro passo é entender justamente as diferentes necessidades que existem em nossa sociedade, cada vez mais plural. É preciso, então, que os parques ofereçam opções para todas as pessoas. Incluir a participação equitativa de todos os grupos envolvidos nesse espaço público, sobretudo durante os processos de elaboração dos projetos de infraestrutura e na tomada de decisão é, portanto, fundamental.
Um segundo passo diz respeito à própria estrutura organizacional dos parques, que também precisa refletir a diversidade em seu corpo técnico, em todos os níveis de cargos. Incentivar a candidatura de pessoas dos mais diversos grupos sociais em processos seletivos ou, ainda, priorizar a contratação de empresas comprometidas com a diversidade são exemplos concretos e possíveis de se alcançar no âmbito da gestão.
Além dessas orientações, existem muitas outras possibilidades de integrar a diversidade nesta agenda. O fato é que pensar a cidade e seus espaços para cidadãs e cidadãos exige escutar quem está ali. Esses espaços públicos podem ser áreas fundamentais para se fomentar a igualdade entre mulheres e homens de diferentes idades, orientação sexual, identidade de gênero, renda e raça —desde que esse seja seu objetivo. E isso pode ser feito sem o aumento de custos de execução ou manutenção, apenas com medidas simples, efetivas e inclusivas.
*Claudia Valenzuela é representante do Escritório das Nações Unidas de Serviços para Projetos (UNOPS) no Brasil e Fernando Pieroni é diretor-presidente do Instituto Semeia e especialista em parcerias público-privadas.
Fonte
O post “ARTIGO: Como criar parques para a diversidade?” foi publicado em 24th August 2020 e pode ser visto originalmente diretamente na fonte ONU Brasil