Presidente Manuelito não descarta assumir serviços em outros municípios
No ano em que celebrará meio século de atividade, marcado por investimentos recordes em Campinas, o diretor-presidente da Sociedade de Abastecimento de Água e Saneamento S.A. (Sanasa), Manuelito Pereira Magalhães Junior, revelou com exclusividade ao Correio Popular a perspectiva de transformar as consultorias da empresa campineira em um novo empreendimento. Essa iniciativa busca estender os serviços de saneamento a outras cidades por meio de uma subsidiária, embora seja destacado que essa possibilidade ainda encontra-se em estágio embrionário.
Em uma entrevista concedida ao jornal a convite do presidente-executivo, Ítalo Hamilton Barioni, Manuelito abordou as 100 obras em andamento, detalhando o planejamento para a segurança hídrica em Campinas, a redução de perdas e a construção de vinte novos reservatórios, ampliando a capacidade de armazenamento de 12 para 20 horas.
Quanto aos investimentos, o presidente da Sanasa anunciou que a Prefeitura de Campinas e a própria Sanasa planejam investir conjuntamente R$ 2 bilhões em obras de saneamento básico, distribuição e fornecimento de água na cidade. Segundo ele, trata-se do maior aporte em infraestrutura em 50 anos, estabelecendo um recorde. Em 2023, a Sanasa concretizou o maior investimento de sua história, ultrapassando a marca de R$ 300 milhões no ano. A entrevista completa pode ser conferida na íntegra.
O senhor possui uma extensa trajetória no âmbito público. Poderia compartilhar conosco como se deu seu ingresso e desenvolvimento nesse cenário?
Iniciei minha carreira na vida pública em Campinas, posteriormente, atuei no governo federal na área da saúde. Passei pelo Congresso Nacional, retornei ao governo federal, novamente na esfera da saúde. Em seguida, assumi responsabilidades na Prefeitura de São Paulo e posteriormente no governo do Estado. Finalmente, retornei ao meu atual cargo na Sanasa.
A Sanasa representa um desafio único?
Bem, tudo o que se propõe a ser feito com excelência é, por si só, um desafio. Isso envolve, primeiramente, realizar uma análise precisa da situação atual e um planejamento estratégico sólido para definir nossos objetivos futuros. Este é um desafio real, pois a alternativa seria simplesmente repetir o que já foi feito. Se almejamos romper com a rotina habitual, cada empreendimento se transforma em um desafio. O primeiro passo é compreender completamente nossa posição atual e estabelecer claramente para onde desejamos ir.
Neste momento em que a empresa se aproxima do marco de 50 anos, qual avaliação o senhor pode fornecer em relação ao atual nível de investimentos da companhia?
Não podemos ignorar a importante lição que aprendemos em 2014 e 2015, quando enfrentamos condições climáticas extremas. Atualmente, vivenciamos períodos de chuvas intensas, e o reservatório do Cantareira está cheio. No entanto, é crucial não perder de vista a possibilidade de retornarmos a períodos de seca. A água não pode ser um obstáculo para o crescimento da cidade, especialmente considerando o constante desenvolvimento de Campinas. Durante os últimos quatro anos, realizamos significativos investimentos. Para dar uma ideia, a Prefeitura está investindo R$ 1 bilhão, enquanto a Sanasa está comprometida com um investimento adicional de R$ 1 bilhão. Juntos, totalizamos impressionantes dois bilhões de reais investidos em uma única gestão na cidade de Campinas. Isso é particularmente notável quando se compara com o orçamento municipal, que varia entre R$ 6 bilhões a R$ 7 bilhões. Este ano marca o 50º aniversário da Sanasa, e em 2023 registramos o maior investimento de sua história. O número ainda não posso revelar porque não foi divulgado, mas ultrapassa a marca de R$ 300 milhões, um feito recorde. Estamos buscando financiamentos junto a organismos multilaterais, como o Banco Mundial, o International Finance Corporation (IFC) e a Corporação Andina de Fomento (CAF). Essas parcerias permitem taxas mais acessíveis e prazos mais extensos para equacionar as dívidas e viabilizar nossos ambiciosos planos de investimento. Com mais de 100 obras em andamento na cidade, a Sanasa está presente em praticamente todos os cantos de Campinas, refletindo nosso compromisso contínuo com o desenvolvimento e a qualidade dos serviços de água e saneamento.
Campinas conseguiu reduzir as perdas de água para qual patamar?
Apesar de termos um programa de controle de perdas considerado exemplar, com reconhecimento internacional ao ponto de sermos convidados para apresentá-lo no Japão, referência no controle de perdas, as médias nacionais indicam cerca de 40% de perdas na distribuição. Na Sanasa, alcançamos indicadores em torno de 20%, chegando a 18% em alguns meses do ano passado, e ainda estamos aguardando a finalização dos dados de 2023. Nas áreas em que realizamos a substituição da rede, nossos índices assemelham-se aos do Japão. A relevância desse feito reside no compromisso ambiental, pois desde a criação do programa em 1994 até 2023, deixamos de retirar quase 650 bilhões de litros de água dos rios, beneficiando a vitalidade das bacias hidrográficas. Além disso, a redução de perdas implica na diminuição do uso de produtos químicos, contribuindo para a entrega de água de qualidade superior e garantindo uma maior regularidade no abastecimento. No quesito de rompimentos, em 2019, tínhamos uma média internacional de 0,44 rompimentos por quilômetro de rede, e embora os dados de 2023 ainda estejam sendo consolidados, a média deverá atingir 0,32, representando uma redução significativa de quase 25%, um dado fantástico. Entre 1994 e 2020, Campinas substituiu 450 quilômetros de rede, e entre 2021 e 2024, planejamos substituir mais 450 quilômetros, superando nossas metas. Em dezembro e janeiro, já celebramos a conclusão de 350 quilômetros, evidenciando que não se trata apenas de uma meta, mas de uma conquista concreta.
Como é empregado o método não-destrutivo na substituição de redes?
Esse método aproveita a tubulação existente para inserir a nova, um processo no qual a tubulação antiga é tracionada, retirando-a enquanto introduz a tubulação nova. É um procedimento interligado, pois a rede antiga serve de guia para a implantação da nova. A opção por realizar a troca de forma aérea é estratégica, pois evita o risco de perda da tubulação antiga durante o processo. Esse método não-destrutivo opera como um “tatuzinho”, impulsionando e puxando do outro lado.
Atualmente, encontram-se em processo de construção 20 novos reservatórios. Quais serão os impactos dessa iniciativa na capacidade total de armazenamento de água?
Esses 20 novos reservatórios resultarão em um aumento significativo tanto na quantidade quanto na capacidade total de armazenamento de água. A importância desse empreendimento pode não ser imediatamente evidente para todos, mas é ilustrada por eventos recentes, como o ocorrido há duas ou três semanas em Joinville, que ficou vários dias sem água devido ao derramamento de produtos químicos em um rio, impedindo a captação e tratamento da água. Para evitar situações semelhantes, é essencial contar com reservatórios de água potável já tratada. Estamos ampliando nossa capacidade de armazenamento de 12 para 20 horas, totalizando 93 reservatórios em comparação aos anteriores 73. Essa expansão representa um acréscimo de 54 milhões de litros na capacidade total de armazenamento. Para contextualizar de maneira mais específica, destaco o caso da região do Ouro Verde, onde estamos construindo três novos reservatórios e ampliando a capacidade de armazenamento em 40%. Essa região é densamente populosa e está em constante crescimento, e nosso planejamento visa atender eficientemente a essa população, especialmente em momentos de emergência.
Os indicadores da Sanasa apresentam-se todos próximos à marca dos 100%. Um aspecto crucial é o tratamento do esgoto, sendo essa uma das principais preocupações da empresa?
Atualmente, já contamos com estações em funcionamento, e nosso foco está na expansão dessas estruturas. A legislação determina um mínimo de 90%, e Campinas já ultrapassou essa marca, alcançando cerca de 92% de esgoto coletado e tratado. Podemos afirmar que a cidade atingiu um patamar de universalização nesse sentido. Contudo, o progresso não para, e nossa meta é conectar mais residências às estações, visando alcançar a capacidade total de tratamento de 100%. Reconhecemos a importância de investir tanto em água quanto em esgoto. Estamos em processo de reforma da Estação Anhumas, a maior estação de tratamento, e também estamos ampliando e modernizando outras Etes, como Capivari, Piçarrão, Nova América e San Martin. Essas medidas são fundamentais para acompanhar o crescimento constante da cidade. A Sanasa permanece atenta e comprometida em garantir a qualidade dos serviços à medida que Campinas se desenvolve.
Quais são as previsões para a entrega dos reservatórios e quais são as ações ambientais mais impactantes?
As entregas dos reservatórios estão previstas para começar já em março, seguindo uma sequência que se estenderá até agosto ou setembro. É importante ressaltar que a atuação da Sanasa, por si só, é uma ação ambiental. Ao coletar e tratar o esgoto, a empresa desempenha um papel essencial como prestadora de serviços à sociedade, mitigando o impacto do esgoto produzido pela comunidade e impedindo sua contaminação nos cursos d’água. Essa iniciativa representa uma contribuição significativa para o meio ambiente. Além disso, a Sanasa realiza outras ações ambientais, como o plantio de árvores. Entre 2021 e 2023, já foram plantadas mais de 110 mil árvores, demonstrando um compromisso tangível com a sustentabilidade. Destacam-se também programas específicos, como o de redução de perdas de água, que contribui para a vitalidade das bacias hidrográficas ao preservar quase 650 bilhões de litros de água dos rios. O programa de água de reuso é outra frente relevante, permitindo o uso de água reciclada para regar praças, parques, limpar ruas e combater incêndios, reduzindo a demanda por água das bacias naturais. Adicionalmente, a Sanasa realiza um trabalho constante de conscientização ambiental, refletido na redução do consumo médio de água per capita em Campinas, que passou de 224 litros por dia em 2012 para uma média estimada de 180 a 185 litros por dia em 2023, representando uma redução significativa de aproximadamente 17%. O Museu da Água também desempenha um papel crucial, envolvendo crianças e adolescentes na formação de cidadãos conscientes do meio ambiente, que levam essa consciência para dentro de suas próprias residências.
Por ser uma referência nacional, a Sanasa é frequentemente procurada por outras empresas em busca de trocas de experiências? Essa colaboração pode se transformar em uma prestação de serviços?
Atualmente, temos abordado essa dinâmica sob a perspectiva de colaboração. No setor de saneamento, é comum estabelecermos parcerias e visitarmos outras cidades e países em busca de soluções inovadoras que possam ser aplicadas aqui. Essa prática é recorrente e contribui para o aprimoramento constante do setor. No entanto, é válido destacar que estamos considerando a possibilidade de expandir essa abordagem para uma dimensão mais comercial. Reconhecemos que, como empresa, é essencial buscar oportunidades de exportação, crescimento e negócios, e sempre que surge a oportunidade, estamos prontos para explorá-la.
A Sanasa conquistou o título de melhor empresa de saneamento do país em 2023, estabelecendo um padrão elevado. Como manter esse nível de excelência daqui para frente?
Manter esse padrão requer dedicação à população, um constante comprometimento e um acompanhamento minucioso. Esses princípios são aplicáveis a empresas de todos os tamanhos e setores. A gestão eficaz envolve um acompanhamento constante do que acontece na empresa. Se não houver um acompanhamento atento, é natural que a qualidade diminua ao longo do tempo. É essencial estar ciente do que ocorre, mas, acima de tudo, é crucial ter uma estratégia clara. Ao alinhar os objetivos em todos os níveis de gestão e definir claramente o destino desejado, é possível direcionar todos os esforços na mesma direção. A Sanasa mantém não apenas uma sólida sustentabilidade financeira, mas também uma preocupação destacada com a sustentabilidade ambiental. No entanto, acima de tudo, ela preserva sua posição como uma empresa de excelência técnica. Nos próximos anos, a Sanasa passará por uma transição geracional. Embora eu não vá mencionar exemplos específicos, observei essa transição em outras empresas, inclusive no setor de saneamento, e o que testemunhei não me proporcionou tranquilidade. Em resposta a isso, implementamos recentemente um programa de retenção na empresa. Esse programa visa identificar proativamente quem deixará a empresa, permitindo-nos realizar uma transição ordenada ao longo do tempo. Portanto, reforço os pilares fundamentais da Sanasa: sustentabilidade financeira, ambiental e a excelência técnica. Se a empresa continuar nesse caminho nos próximos 10 anos, Campinas continuará sendo bem atendida.
A Sanasa consideraria participar de um consórcio para adquirir a Sabesp, por exemplo?
A possibilidade de participar, por exemplo, em várias capitais brasileiras, em um cenário de privatização, seria viável, talvez com exceção de São Paulo. Contudo, integrar um consórcio não apresentaria problemas, desde que o negócio seja avaliado como vantajoso.
Essa possibilidade está sendo considerada pela Sanasa?
Quanto à Sabesp, não está nos planos. No entanto, se surgirem oportunidades em outras cidades, nós as avaliaremos. No início do governo Dário (Saadi), assinamos alguns memorandos de entendimento com outras cidades, mas estamos estudando essas possibilidades. É importante notar que esses processos são complexos e, embora tenhamos analisado algumas operações, optamos por não prosseguir.
Atualmente, a Sanasa atende exclusivamente Campinas?
Diretamente, sim. Embora tenhamos avaliado oportunidades em outros municípios, nossa operação está solidamente consolidada em Campinas. A expansão para outras localidades é um passo que requer uma análise cuidadosa e, para operar em outro município, seria necessário ter uma lei municipal autorizando.
Se a Sanasa começasse a operar em outros municípios, seria como a Sanasa ou por meio de subsidiárias?
Seria necessariamente por meio de subsidiárias.
Sobre o imbróglio envolvendo as represas, a Sanasa tem alguma preocupação específica?
Não, pelo contrário, as represas representam uma solução para a Sanasa. A questão da água não deve ser um impedimento para o crescimento econômico da cidade. Reduzir a dependência do Rio Atibaia é fundamental, e as represas de Pedreira, especialmente, e Amparo são soluções para esse desafio. A captação na represa do Jaguari (Pedreira) já está em processo, com autorização ambiental e licitação em breve. Isso trará mais água para Campinas, diminuindo a dependência do sistema do Rio Atibaia. Espero compartilhar boas notícias ao longo deste ano.
Em relação aos boatos sobre privatização após a questão da Sabesp, há algum fundamento?
Não, absolutamente não. São realidades completamente distintas. A Sanasa tem um contrato perpétuo com a cidade de Campinas, sendo criada exclusivamente para esse propósito.
E quanto à dependência de Campinas do Sistema Cantareira?
Isso é crucial. Quem regula o Cantareira é a ANA (Agência Nacional de Águas), mas a Sabesp controla a distribuição. Essa dinâmica mudará se ela for privatizada? É uma questão relevante para quem está do lado de cá do Cantareira. Estou tranquilo, pois recebemos garantias do corpo técnico do Governo do Estado de que a regulamentação será eficaz no processo de desestatização da Sabesp. Vamos acompanhar.
Sobre o projeto RAC e Sanasa, como enxerga essa oportunidade de levar iniciativas de preservação ambiental à sociedade?
Parabenizo o RAC e Sanasa por sua iniciativa consolidada ao longo de 17 anos. É de extrema importância. Ao reconhecer e fomentar iniciativas de preservação ambiental, estimulamos novas ações. A Sanasa tem orgulho de se associar a esse tipo de projeto, especialmente pela audiência e popularidade que o Correio Popular proporciona.
A Sanasa possui um núcleo de pensamento estratégico para analisar mudanças climáticas e a questão da inteligência artificial?
Sim, temos uma equipe dedicada à inovação tecnológica, monitorando o que está sendo feito em outras cidades, com foco nas mudanças climáticas. A preocupação com esse tema é compartilhada por praticamente todas as empresas de saneamento no Brasil, e a Sanasa participa ativamente de fóruns importantes de discussão.
A Sanasa completará 50 anos em agosto. Qual é a programação?
Nossa celebração é o trabalho contínuo, entregando tudo o que nos propusemos, como os 20 reservatórios, 450 km de troca de redes, 39 km de adutora, e o Plano Campinas 2030 se concretizando antes da meta inicial. Nossa comemoração é, como sempre, o trabalho constante de uma empresa que opera 24 horas por dia, sete dias por semana.
O senhor introduziu novos hobbies ou mudou seus hábitos?
(risos) Agora que o Bahia começou a ganhar, por que eu pararia de assistir jogos? Continuo com meus hobbies. Gente velha não muda (risos).
Fonte: CORREIO POPULAR
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O post “Aos 50 anos, Sanasa estuda se abrir para novos negócios” foi publicado em 22/02/2024 e pode ser visto originalmente diretamente na fonte Tratamento de Água