Projeto piloto com a Intercement testa resíduos da mineração da bauxita como insumo que pode ajudar a reduzir a pegada climática das cimenteiras
A cada tonelada de alumínio produzida, sobram outras duas toneladas de resíduos da mineração da bauxita. Tradicionalmente, esse material é depositado em barragens, uma operação custosa e que envolve potenciais riscos ambientais.
A Alcoa, uma das maiores empresas de alumínio do mundo, quer transformar o descarte em produto. A ideia é que os rejeitos possam ajudar na descarbonização da indústria do cimento, responsável por cerca de 8% das emissões globais de efeito estufa.
A mineradora americana fechou uma parceria com a Intercement, no grupo Mover (ex-Camargo Correa), para que os resíduos de sua planta de Poços de Caldas (MG) sirvam de matéria-prima para a produção de cimento.
“O nosso produto já foi estudado e agora está sendo validado e testado industrialmente”, diz Lívia Mello, gerente de reúso de resíduos da Alcoa Brasil.
Uma fábrica de cimento emite muito CO2. O gás é produzido naturalmente numa etapa do processo em que calcário e argila são aquecidos a altíssimas temperaturas em fornalhas para a obtenção do clínquer, que é moído para dar origem ao cimento.
Os rejeitos da Alcoa podem substituir até 5% dessa composição de matérias-primas, potencialmente diminuindo as emissões de gases de efeito estufa e de outros poluentes resultantes da clinquerização.
Caso o piloto seja bem-sucedido, a Alcoa vislumbra ganhos também em sua operação. Além das receitas com a venda dos resíduos, a empresa vai aumentar a vida útil do pátio que hoje recebe os rejeitos.
O modelo de negócios ainda precisa ser desenhado, e o principal entrave é logístico. A Intercement conduz os testes com resíduos que viajaram 800 km entre Poços de Caldas e sua planta de Cezarina, em Goiás.
Cezarina foi escolhida por já ter a licença necessária para manusear o resíduo e ser uma das unidades da Intercement com aplicações de transição energética.
Mello afirma que a conta não fecha se a distância for maior que 225 km. Mesmo assim, a iniciativa é importante pois abre portas para a Alcoa se aproximar de outras cimenteiras.
“A própria Intercement já sinalizou a possibilidade de usar o resíduo em outras plantas mais próximas de Poços.”
O diretor de operações da Alcoa em Poços de Caldas, Fabio Martins, é mais cauteloso ao tratar dos números.
“Precisamos ainda mensurar o valor desse material para o mercado. Vamos esperar os testes serem finalizados, comprovar a utilização e quais os ganhos.”
As 5 mil toneladas usadas no piloto correspondem aos rejeitos gerados em uma semana pela unidade. Mundialmente, estima-se que os resíduos de bauxita somem 150 milhões de toneladas.
Martins afirma que, além dos experimentos com reúso pela indústria cimenteira por aqui, há outras iniciativas. Na Austrália, por exemplo, a Alcoa testa o material em pavimentação e como insumo de fertilizantes.
O problema das barragens
A iniciativa só é possível porque a indústria mineradora, por força de lei, tem mudado a forma como lida com seus resíduos depois dos rompimentos de barragens da Vale e da Samarco em Brumadinho e Mariana, também em Minas Gerais.
Em 2020, entrou em vigor a nova Política Nacional de Barragens, que proíbe a construção das barragens “a montante”, em que o rejeito é depositado em camadas e depende da auto sustentação.
Há pouco mais de um ano, a Alcoa investiu R$ 330 milhões em um sistema que permite que a operação de Poços de Caldas faça todo o empilhamento a seco dos resíduos de sua refinaria, um modo de descarte mais seguro que as barragens úmidas.
O processo de refino do minério de bauxita resulta na alumina (hidróxido de alumínio) e uma lama vermelha residual. Essa lama passa por um processo de filtragem: a água é reaproveitada na própria planta, e os restos secos são compactados e descartados em uma área vizinha.
É esse o material que a empresa quer transformar em mais um produto da unidade, além da alumina não-metálica, hidróxido de alumínio e pó de alumínio, que têm aplicações diversas – como em pastas de dente, espumas de colchão, retardante de chamas e combustíveis.
O outro foco da empresa é a descarbonização, afirma Martins. A planta de Poços adquiriu neste ano duas caldeiras elétricas para o processo de calcinação da bauxita, com as quais realiza 85% do processo. As antigas, que queimavam a gás natural, emitem quase seis vezes mais CO2, segundo a empresa.
Fonte: reset
ÚLTIMAS NOTÍCIAS: CIENTISTAS CHAMAM A ATENÇÃO PARA DOENÇAS NEGLIGENCIADAS, QUE SÃO IGNORADAS PELA INDÚSTRIA FARMACÊUTICA
ÚLTIMAS NOTÍCIAS: GOVERNADORES ASSINAM TRATADO DA MATA ATLÂNTICA PARA PLANTIO DE 100 MILHÕES DE ESPÉCIES NATIVAS NO BIOMA
O post Alcoa testa venda de rejeitos para descarbonizar o cimento apareceu primeiro em Tratamento de Água .
Fonte
O post “Alcoa testa venda de rejeitos para descarbonizar o cimento” foi publicado em 01/11/2023 e pode ser visto originalmente diretamente na fonte Tratamento de Água