Um dos grandes desafios dos mais de mil indígenas venezuelanos das etnias Warao e E’ñepás que vivem nos centros de abrigamento emergencial para refugiados e migrantes nas cidades de Boa Vista e Pacaraima é a adaptação a este novo ambiente – muito diferente das suas comunidades de origem.
Famílias que tiveram que deixar suas comunidades para procurar proteção e refúgio no Brasil passaram a viver em um contexto completamente diferente daquele em que estavam habituados e enfrentaram a necessidade de se adequar a novos hábitos de alimentação, recreação, moradia e higiene.
Para apoiar essas comunidades nesse processo de adaptação e integração, a Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) juntamente com a Fraternidade – Federação Humanitária Internacional (FFHI) têm formulado campanhas de conscientização para atrair a atenção dessas populações e os auxiliar no ajuste de seus comportamentos e atitudes à nova realidade que os cerca.
Difundindo saúde através da arte
Em Boa Vista, o abrigo Pintolâdia é dedicado exclusivamente à população indígena. Neste local, ACNUR e FFHI têm realizado um trabalho contínuo de conscientização de práticas de higiene através de campanhas, projetos e ações educativas.
Nesse abrigo, atividades artísticas têm sido usadas com esta estratégia. A população abrigada é convidada a representar seus hábitos tradicionais de higiene por meio de desenhos, dando margem a uma discussão coletiva sobre os hábitos mais adequados à preservação da saúde e à proteção dessas pessoas.
A exposição dos desenhos foi acompanhada de uma campanha de vermifugação promovida em parceria com a Agência Adventista de Desenvolvimento e Recursos Assistenciais (ADRA); a ONG Médicos Sem Fronteiras (MSF); e as equipes da Força Tarefa Logística e Humanitária para Roraima, coordenada pelo Ministério da Defesa.
Assegurando qualidade de vida para crianças e idosos
Os resultados da campanha já podem ser notados. Indígenas como Egardo Rivero, da etnia Warao, teve seu desenho exposto enquanto os profissionais de saúde atendiam as pessoas abrigadas em Pintolândia.
“Como preparamos nossa comida em fogões à lenha, desenhei uma de nossas mulheres cozinhando. E entendo que quando vamos cozinhar, precisamos que tudo esteja o mais limpo e organizado possível. Ferver as coisas é uma forma de evitar a contaminação dos alimentos”, contou Egardo.
Aos 22 anos, o jovem Warao entende que essas informações são importantes para reforçar as condições de saúde dentro do abrigo.
“Esse tipo de conscientização é importante principalmente para as crianças e as pessoas mais velhas, que são mais vulneráveis fisicamente. Podemos cozinhar nossa comida, mas precisamos saber como deixar tudo limpo antes e depois das refeições”, avaliou.
Boas práticas para salvar vidas
Em torno de 666 indígenas foram beneficiados nessa ação em Pintolândia, onde doses de vermífugo foram distribuídas para as pessoas do abrigo.
A ação recebeu o apoio financeiro da União Europeia, que investe no fortalecimento da resposta humanitária aos venezuelanos que chegam à região norte do Brasil através de projetos que promovem a proteção das populações em maior situação de vulnerabilidade social, como os indígenas.
Lila Noli, assistente de campo do ACNUR em Roraima, explica que como muitos dos abrigados indígenas vieram de um contexto não urbano, vários deles não tinham informações suficientes de hábitos de higiene adequados ao novo ambiente.
“O trabalho de conscientizar a comunidade de como deve ser uma rotina de higiene em um abrigo de contexto urbano é essencial para garantir a saúde da população”, afirmou a assistente.
Noli lembra que esse é um processo contínuo e que cartilhas com informações estão sendo elaboradas – assim como outras iniciativas que contam com a colaboração de artistas indígenas do próprio abrigo.
“O acompanhamento e o suporte é constante e realizado sempre pelas várias equipes de saúde e pela equipe da organização parceira, a ADRA”, concluiu Noli.
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