Ser um agente masculino em nossa sociedade é suprimir tudo aquilo que é tido como fraqueza, e muitas vezes, essa fraqueza são elementos tidos e expostos como feminilidade.
Todo homem que desvie desse padrão de masculinidade deve ser punido. E toda mulher que também desvirtue do seu papel de gênero deve ser punida. E quando os homens fracassam nessa ótica do que eles deveriam ser e ter, atacam todos aqueles outros que não fazem parte dessa teatralidade de papéis.
Quando um homem fracassa no que ele entende como lugar no mundo por direito, ele se refugia em seus iguais. Ele busca a solidariedade em quem, assim como ele, fracassou.
Esse ressentimento em relação à sociedade e essa busca eterna pelo poder, o desejo de ter o lugar que “é seu por direito”, faz com que homens e meninos busquem na deep web um espaço de acolhimento para as suas frustrações.
A minha geração cresceu com a popularização da internet que tornou-se terreno fértil para que homens com inabilidade social e que fracassaram na ideia de potência de sua própria masculinidade proliferassem ódio a todos aqueles que entendem como culpados pelos problemas do seu mundo ideal.
Surge então a figura do INCEL , que muitas vezes é encarada não como um problema social, e sim como uma parcela mínima da população masculina que não devemos levar muito a sério, pois o potencial destrutivo é mínimo.
Em qualquer ida ao 4chan, ou a grupos de vocês sabem quem no telegram ou wpp, é possível observar o mesmo padrão: fetichismo em relação a armas, exaltação à masculinidade viril, ódio a tudo aquilo que é diferente, e culto à própria masculinidade. Por ser um sintoma social subjetivo, e não físico, material, não levamos tão a sério o que cientistas sociais, antropólogos, feministas, e tantos outros expõem há décadas: MASCULINIDADE MATA.
Quando a mídia reportou sobre o massacre em Suzano, a tragédia foi anunciada sem expor os contornos da situação, os atiradores — um jovem e um homem adulto — atiraram de forma letal contra mulheres, e de forma não letal contra homens. O massacre de Realengo havia sido nesse mesmo padrão.
Por que essas informações não foram massivamente veiculadas? Há muitos outros massacres com esse mesmo perfil.
No início deste ano o assassinato de Sol também não permeou os debates de ódio às mulheres e grupos de incels na internet, mesmo que o assassino tenha escrito que odiava mulheres tanto no seu livro, que foi enviado a Lola Aronovich, quando em vários fóruns da internet. Por que não nos debruçamos sobre a materialidade que compõe esse tipo de crime?
Lola Aronovich não conhecia o assassino do caso de Sol , mas ele a conhecia. Lola é autora de um blog feminista desde 2008, professora de Literatura em Língua Inglesa na Universidade Federal do Ceará, casada, e foi/é vítima de ódio massivo desses grupos de incels, que à época nomeou de MASCUS em seu blog.
Recomendo que pesquisem sobre o CASO LOLA ARONOVICH pois ela e sua família foram/são perseguidas por incels, que Olavo de Carvalho ajudou a divulgar. E apenas um adendo breve, pois, nesse caso, o hackerativismo do Anonymous foi fundamental para que a resolução fosse positiva.
Em abril de 2018 foi sancionada a lei nº 13.642/18, conhecida como lei Lola, que concerne à investigação de crimes praticados por meio da rede mundial de computadores que difundam conteúdo misógino, definidos como aqueles que propagam o ódio ou a aversão às mulheres.
Mas, como a maior parte das leis no Brasil, não há efetividade no cumprimento desta lei. Qualquer ida a vários sites podem comprovar tal questão, é uma estrutura complexa e precisamos modificá-la desde já.
Subvertam!