Mais de 200 mil haitianos que morreram no devastador terremoto que atingiu a nação insular há dez anos foram homenageados nesta sexta-feira (17) em uma cerimônia solene na sede da ONU, em Nova Iorque. A homenagem incluiu os 102 funcionários das Nações Unidas vitimados pela tragédia.
Os haitianos estavam começando um novo ano com otimismo, lembrou o secretário-geral da ONU, António Guterres, durante a cerimônia, mas “em alguns segundos, suas esperanças se transformaram em pó”.
“Nunca esquecerei o choque e a tristeza em todo o mundo e nas Nações Unidas quando a escala da tragédia ficou clara”, acrescentou.
Embora o dia 12 de janeiro de 2010 tenha sido um dos mais sombrios de sua história, o Haiti “se baseou na coragem e determinação de seu povo e na assistência de seus muitos amigos. As estradas foram limpas, as casas foram reconstruídas, as escolas foram reabertas, as empresas voltaram ao trabalho”, observou Guterres.
O chefe da ONU teve um momento em seu discurso para refletir sobre vários aspectos dos esforços das Nações Unidas no Haiti que causaram mais danos do que benefícios, lembrando a epidemia de cólera que começou em 2010, que se acredita ter sido importada por forças de paz.
“Entre os muitos desafios, as Nações Unidas lamentam profundamente a perda de vidas e o sofrimento causados pela epidemia de cólera. Dou boas-vindas ao progresso significativo que foi feito para eliminar a doença. Também estamos comprometidos com a resolução de casos pendentes de exploração e abuso sexual”, afirmou Guterres.
Ele também observou a falta de progresso em termos de desenvolvimento econômico, político e social do Haiti, com uma crise de liderança nos últimos meses lançando a nação em turbulências. “Hoje, a insegurança e o lento crescimento econômico estão contribuindo para o aumento das tensões sociais e a deterioração da situação humanitária.”
“Peço aos haitianos que resolvam suas diferenças através do diálogo e resistam a qualquer escalada que possa reverter os ganhos da década passada.”
Ele disse que o novo Escritório Integrado no Haiti (BINUH), que substituiu a operação de manutenção da paz e as 19 agências, fundos e programas presentes no país, “continuará trabalhando em parceria com o povo haitiano no caminho da recuperação e da prosperidade”.
Funcionários da ONU mortos
Antes da cerimônia, o chefe da ONU visitou o memorial intitulado “A Breath” (um suspiro), que saiu de Porto Príncipe e agora fica na sede da ONU no centro de Manhattan.
“Agradeço o escultor Davide Dormino e todos que ajudaram a transportá-lo. Fiquei particularmente impressionado com o uso de escombros do Hotel Christopher, onde muitos de nossos colegas morreram.”
Ele disse que os funcionários da ONU que morreram no Haiti estavam no país “para ajudar a construir a estabilidade e a prosperidade e consolidar a paz e a segurança com parceiros internacionais, nacionais e locais”. “Entre eles estavam conselheiros políticos, oficiais políticos, humanitários, especialistas em desenvolvimento, oficiais de segurança, soldados, advogados, motoristas e médicos.”
“Quando o terremoto ocorreu, muitos funcionários das Nações Unidas participaram de operações de busca e resgate e levaram pessoas feridas para o complexo das Nações Unidas. Alguns tiveram o difícil trabalho de acompanhar o corpo de um colega para a casa de seus entes queridos, para enterro ou cremação.”
A tragédia reuniu o Haiti e a ONU, disse Guterres, “e nunca esqueceremos”.
A melhor maneira de honrar a memória dos mortos seria “trabalhando ao lado do povo e do governo do Haiti e com os amigos e apoiadores do país em toda a comunidade internacional”.
“Juntos, protegeremos o futuro do Haiti e construiremos vidas de paz, prosperidade e dignidade para todos os haitianos”, concluiu.
‘Mantenha viva a chama da solidariedade’
Falando em nome do governo haitiano, Patrick Saint-Hilaire, da Missão da ONU, disse que dez anos depois, os sinais do terremoto “ainda são evidentes em todos os lugares”.
Ele disse que o corajoso povo do Haiti ainda está “pagando profundamente” pela “adversidade que se abateu sobre o país” desde então.
Agradecendo à ONU e a todos os que se uniram ao Haiti em solidariedade após o desastre, ele declarou que agora “cabe a nós haitianos, antes de tudo, assumir a responsabilidade pelos desafios atuais e tomar a iniciativa necessária para melhorar o estado de saúde de nossa nação”. “Hoje, porém, mais do que nunca, nosso país precisa continuar a criar solidariedade, nacional e internacional, concreta e consistente com as aspirações do povo haitiano.”
Há “muito trabalho a ser feito”, disse ele, acrescentando que, como marca o 10º aniversário, “não é tarde demais para aceitar o desafio da reconstrução completa do Haiti”.
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