Em uma manhã nublada, a jovem síria Maya Ghazal subiu na cabine de um pequeno avião em um aeródromo a oeste de Londres. Verificou os controles e moveu a aeronave lentamente até o final da pista.
Aos 20 anos, ela estava prestes a fazer seu primeiro voo solo como aprendiz de piloto . “Estou animada, um pouco nervosa, mas confiante também”, disse.
Este evento faz parte da vida de poucos jovens, mas o histórico de Maya não é nada comum. Quatro anos atrás, ela foi forçada a abandonar sua cidade natal na Síria e chegou ao Reino Unido. O mundo a via apenas como refugiada. No entanto, ela tinha outras ideias sobre si.
Todos os refugiados chegam a um novo país esperando um recomeço, mas Maya se destaca pela determinação com que foi atrás de seus objetivos. Ao mesmo tempo, abraçou a causa dos jovens refugiados. “A educação é muito importante para os refugiados.”
Maya foi uma co-patrocinadora do primeiro Fórum Global sobre Refugiados que aconteceu em dezembro de 2019 em Genebra. Ela destacou a importância do acesso de refugiados à educação, que segundo ela deve estar no topo das pautas de ministros, líderes empresariais e religiosos e organizações não governamentais.
O Fórum promoveu a ideia de que a educação é um direito humano fundamental e o acesso a ele deve estar disponível para todos, inclusive para os refugiados. “A educação é muito importante para os refugiados realizarem seus sonhos”, disse.
Maya cresceu em Damasco e diz que sua infância foi comum. Na escola, sonhava em trabalhar como diplomata. Quando o conflito eclodiu em 2011, tudo mudou. A vida de sua família ficou cada vez mais difícil à medida que os combates se aproximavam.
Ela se lembra de um dia estar a caminho da escola quando alguns mísseis caíram nas proximidades, deixando-a insegura sobre seguir em frente ou voltar para casa.
Seu pai viajou ao Reino Unido, pediu refúgio e, em 2015, o restante da família se juntou a ele em um programa de reunião familiar.
No país, a família estava segura, mas começar de novo aos 16 anos não foi fácil. Várias escolas recusaram Maya e, durante semanas, ela ficou em casa, muitas vezes sozinha, imaginando o que o futuro reservava. Ela ocupou seu tempo aprendendo a tocar violão. Eventualmente, foi aceita em uma escola.
O sonho de se tornar diplomata não existia mais, mas a vida apresentava uma nova possibilidade. Certo dia, ela estava perto do aeroporto de Heathrow com a mãe, assistindo por uma janela os aviões decolarem e pousarem.
Inspirada, decidiu seguir um novo caminho: estudar engenharia da aviação e treinar para ser uma piloto comercial. “Meu sonho é me tornar a primeira piloto refugiada da Síria”, disse.
Ao mesmo tempo, Maya trabalhou duro para desenvolver suas habilidades como oradora e começou a trabalhar com o ACNUR. Seus discursos impressionaram o público no Reino Unido e na Europa, que ficou impressionado com sua história pessoal de conquistas diante das adversidades.
Ela também transmite uma mensagem aos refugiados: “quero mostrar às pessoas (refugiadas) o que passei. Quero dizer aos outros que as coisas vão melhorar”, afirmou. “Não há limites.”
O primeiro voo solo é uma parte essencial da obtenção de uma licença de piloto e nenhum instrutor permitiria que um aprendiz o fizesse antes de estar pronto. Ainda assim, trata-se de um evento importante. A centenas de metros no ar, não há ninguém no assento do co-piloto, caso o nervosismo apareça ou algo dê errado.
“É uma meta que eu queria alcançar. Foi difícil. Eu tive muitas provações. Fiquei desanimada às vezes, mas sabia que iria conseguir e acreditava em mim mesma”, disse. Maya também queria desafiar estereótipos sobre jovens muçulmanas e refugiadas.
Sua mãe, Rimah Darkachli, apoiou seu treinamento, mas disse que ainda tinha as “preocupações de mãe” quando se tratava de ver sua filha voando sozinha.
No dia do primeiro voo solo, o avião de Maya acelerou pela pista e subiu. Ela percorreu um amplo circuito do aeródromo e pousou graciosamente. Depois, refletiu: “nada está realmente controlando você, a não ser o espaço aéreo. Eu estou no controle do avião. Não há limites.”
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