DO OC – Parece paradoxo, mas é só aquecimento global. O calor crescente, que aumenta a demanda por aparelhos de ar-condicionado, pode tornar o mundo mais quente, justamente por causa do ar condicionado. A conclusão, que traz números precisos, consta do relatório “Global Cooling Watch” , divulgado nesta terça-feira (11/11), durante a COP30, pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA). A apresentação à imprensa foi conduzida pela diretora-executiva do PNUMA, Inger Anderson.
Aparelhos de ar condicionado e geladeiras emitem gases de efeito estufa de duas formas. Em vida, pela energia que precisam para permanecer ligados, e em morte, depois de usados, pela liberação dos gases que eram usados para fazer o resfriamento do ar (por vezes, no entanto, esses gases escapam durante a vida útil dos aparelhos). Em 2022, a emissão global estimada desses aparelhos foi de 4,1 bilhões de toneladas de carbono equivalente.
O PNUMA crê que o aumento do calor, aliado ao aumento da população mundial, pode levar a demanda por aparelhos de refrigeração a triplicar até 2050, resultando em uma emissão de 7,6 bilhões de toneladas de carbono equivalente (o cálculo já leva em conta soluções de mitigação que devem estar em funcionamento até lá, por isso ele não é três vezes maior).
A boa notícia, segundo o documento, é que essa curva crescente pode ter sua trajetória modificada. Um investimento em aparelhos mais eficientes poderiam resultar em uma previsão 64% menor para 2050, em relação aos números de hoje. Isso protegeria 3 bilhões de pessoas do calor extremo, além de gerar uma economia de mais de US$30 trilhões. Há ainda um cenário mais ambicioso, combinado com a descarbonização do setor energético e de resíduos, que resultaria em emissões 97% abaixo dos níveis atuais.
“Durante ondas de calor, acesso ao resfriamento pode significar a diferença entre a vida e morte”, diz o texto, que sugere também a adoção de soluções urbanísticas para resfriar as cidades. “Projetar cidades mais frescas deve ser fundamental para o desenvolvimento. Soluções baseadas na natureza, como sombreamento, ventilação natural e corredores verdes são a nossa primeira linha de defesa. Elas reduzem o estresse térmico, reduzem as ilhas de calor urbanas e aliviam a pressão sobre redes elétricas sobrecarregadas.”
O secretário nacional de Meio Ambiente do governo federal, Adalberto Maluf, que estava na mesa, lembrou que o problema não se restringe às áreas urbanas. A temperatura média na Amazônia brasileira esteve 1,5ºC acima da média em 2024, e a do Pantanal, 1,8ºC, de acordo com dados recentes do MapBiomas. “No Brasil apenas um terço das escolas têm refrigeração. Em alguns estados, apenas 3%”, lamentou.
Ravi Menon, embaixador de Singapura para a Ação Climática, que também estava no evento, disse que 1 bilhão de pessoas no sudeste da Ásia podem ser afetadas pelo calor extremo nos próximos anos.
Thiago Pietrobon, diretor de Meio Ambiente da Abrava, a Associação Brasileira de Refrigeração, Ar Condicionado, Ventilação e Aquecimento, estava na plateia durante a apresentação. Ele contou que a venda de aparelhos de ar condicionado bateu recordes consecutivos nos últimos dois anos no país. “São 6 milhões de aparelhos split por ano para abastecer o mercado brasileiro.” A demanda só cresce. A demanda por soluções também precisa crescer.
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O post “O frio que esquenta: demanda por refrigeradores pode triplicar até 2050, aumentando emissões” foi publicado em 11/11/2025 e pode ser visto originalmente na fonte Observatório do Clima
