DA COALIZÃO NEGRA POR DIREITOS
PRESS RELEASE
A Coalizão Negra por Direitos — articulação nacional que reúne 248 organizações do movimento negro e aliadas — lançou um chamado firme ao Estado brasileiro e à presidência da Conferência: não haverá justiça climática sem o enfrentamento ao racismo ambiental.
O manifesto entregue ao governo denuncia que, apesar de o Brasil se apresentar ao mundo como liderança climática e anfitrião da COP30, o país ainda não incorporou de forma concreta a dimensão racial nas políticas de clima. O documento lembra que 56% da população brasileira é afrodescendente, e que são justamente as comunidades negras, periféricas, quilombolas, ribeirinhas e tradicionais as mais atingidas pelos desastres climáticos e pelas violações de direitos que deles decorrem.
A Coalizão reforça que a emergência climática escancara desigualdades estruturais, herdeiras diretas da colonialidade racista e do patriarcado. No Brasil, 55% das pessoas que vivem em áreas de risco de deslizamento são negras, e nas enchentes de 2023, mais de 70% das vítimas fatais eram mulheres e crianças negras. Esses dados revelam que o racismo ambiental não é uma metáfora: é uma política de morte.
O manifesto também critica o apagamento da questão racial nos documentos oficiais da presidência da COP30. A primeira carta política da Conferência não mencionou o termo “afrodescendentes”, e a segunda tratou de “justiça climática” e “transição justa” de maneira superficial, sem ligação com as realidades concretas da população negra. Para a Coalizão, isso reforça um pacto de branquitude e exclusão que precisa ser rompido se o país quiser, de fato, “liderar pelo exemplo”.
Além da denúncia, o documento apresenta recomendações claras e concretas. Entre elas, o reconhecimento formal dos afrodescendentes nos textos de negociação da ONU, a inclusão de raça, gênero, idade, deficiência, território e sexualidade nos indicadores globais de adaptação climática e a aprovação de um Plano de Ação de Gênero com abordagem interseccional. A Coalizão também propõe mecanismos permanentes de participação e denúncia no contexto das políticas de transição justa e adaptação, garantindo que mulheres e comunidades negras estejam nos espaços de decisão.
Outro ponto central é o acesso direto e desburocratizado a financiamento climático para territórios periféricos, quilombolas, indígenas e tradicionais, com gestão dos próprios povos e comunidades. A Coalizão defende que sem redistribuição de poder e recursos não há transição justa possível.
As recomendações não se limitam ao plano técnico: elas propõem uma nova ética política e civilizatória. Inspirada nas Marchas das Mulheres Negras — a de 2015 e a que acontecerá novamente logo após a COP30 —, a Coalizão aponta para a construção de um outro modelo de sociedade, que coloque a vida acima do lucro e valorize os saberes ancestrais, as práticas coletivas e o bem viver como horizonte.
Ao final, a Coalizão convoca o governo brasileiro e a sociedade civil internacional a romperem com a lógica de exclusão e silenciamento que marca a política climática. A COP30, realizada em território amazônico e majoritariamente negro, precisa ser o ponto de virada — o momento em que o Brasil assume o combate ao racismo ambiental como eixo central da sua liderança climática.
Mais do que uma carta de recomendações, o documento é uma convocação à responsabilidade histórica. Como afirma a Coalizão Negra por Direitos, “por reparação, por memória e por bem viver: não haverá justiça climática sem enfrentamento ao racismo ambiental.”

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O post “Coalizão Negra por Direitos lança manifesto sobre a COP30 ao governo brasileiro” foi publicado em 11/11/2025 e pode ser visto originalmente na fonte Observatório do Clima
