PRESS RELEASE
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu nesta quinta-feira (6) em Belém a necessidade de produzir “mapas do caminho” para reverter o desmatamento e superar a dependência de combustíveis fósseis. A declaração funciona como uma autorização para a COP30, que começa nesta segunda-feira (10), possa tratar do que interessa: as causas do aquecimento global.
Lula discursou na abertura da Cúpula de Líderes da conferência do clima de Belém, que ouviu alertas da ciência e do secretário-geral da ONU, António Guterres. E disse que o encontro no Brasil “honrará os legados” das COPs 28 e 29.
“Acelerar a transição energética e proteger a natureza são as duas maneiras mais efetivas de conter o aquecimento global”, afirmou o presidente. “Estou convencido de que, apesar das nossas dificuldades e contradições, precisamos de mapas do caminho para, de forma justa e planejada, reverter o desmatamento, superar a dependência dos combustíveis fósseis e mobilizar os recursos necessários para esses objetivos.”
O discurso de Lula fornece o impulso político necessário para o assunto poder vir à mesa em Belém. Havia dúvidas sobre se o presidente faria isso, dados os interesses petroleiros de áreas importantes do governo. Versões anteriores dos documentos da cúpula sugeriam uma abordagem mais genérica sobre combustíveis fósseis, que respondem por 70% das emissões de gases de efeito estufa.
O tema virou tabu nas negociações depois da conferência de Dubai, em 2023: países como Arábia Saudita e Índia têm se oposto veementemente a qualquer menção a eles em qualquer negociação de clima, e conseguiram eliminá-la da declaração de líderes do G20 e da Cúpula do Futuro, no ano passado.
Embora Dubai tenha adotado a decisão de fazer a “transição justa, ordenada e equitativa para longe dos combustíveis fósseis nos sistemas energéticos”, o calendário dessa transição não foi fixado, muito menos os critérios para qualificar justiça, ordem e equidade. Por isso a decisão da COP28 não é auto-implementável: à parte Brasil e Reino Unido, todos os grandes emissores do mundo que apresentaram NDCs para 2035 limitaram-se a repetir a linguagem de Dubai, sem especificar como fariam a transição em seus próprios países. O Reino Unido afirmou que pararia a expansão fóssil, e o Brasil declarou que daria as boas-vindas a um calendário internacional para essa transição.
Após a falha da COP29 em sequer tocar no assunto, Belém tornou-se a COP na qual esse debate precisa ser iniciado, sob pena de a humanidade perder a janela de ação até 2030. Só que o tema não apenas não está na agenda formal da negociação como enfrenta oposição ferrenha do bloco mais poderoso de países da COP30, o LMDC (o grupo dos países em desenvolvimento alinhados, que inclui árabes, Bolívia, Índia e eventualmente China).
A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, tem sido a principal voz a defender o estabelecimento de critérios “internacionalmente consensuados” para orientar os países a incluir compromissos reais de transição em suas NDCs. A dupla da presidência da COP, André Corrêa do Lago e Ana Toni, também apoia os mapas do caminho, mas ambos dependiam de apoio político de alto nível para poder movimentar a agenda de combustíveis fósseis e desmatamento durante a COP. Será uma batalha longa, sangrenta e sem garantia de sucesso, dada a resistência do LMDC. Mas Lula ao menos mantém viva a chance de a COP travá-la.
“Em seu discurso, o presidente Lula afirmou que precisamos de um mapa do caminho para acabar com o desmatamento e o uso dos combustíveis fósseis. É exatamente o que precisamos e é exatamente o que esperamos que a presidência da conferência coloque como proposta sobre a mesa”, disse Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima. “O sucesso da COP 30 se dará ao transformar as palavras do presidente brasileiro em resolução final.”
Sobre o Observatório do Clima – Fundado em 2002, é a principal rede da sociedade civil brasileira com atuação na agenda climática. Reúne hoje 162 integrantes, entre organizações socioambientais, institutos de pesquisa e movimentos sociais. Seu objetivo é ajudar a construir um Brasil descarbonizado, igualitário, próspero e sustentável. O OC publica desde 2013 o SEEG, estimativa anual das emissões de gases de efeito estufa no país.
Informações para imprensa
Solange A. Barreira – Observatório do Clima solange@pbcomunica.com.br
+ 55 11 9 8108-7272
O post Lula abre Cúpula de Líderes falando do que importa apareceu primeiro em Observatório do Clima .
O post “Lula abre Cúpula de Líderes falando do que importa” foi publicado em 06/11/2025 e pode ser visto originalmente na fonte Observatório do Clima
