DO OC – Morreu nesta terça-feira (12/8), aos 75 anos, o pesquisador Yosio Edemir Shimabukuro, da Divisão de Sensoriamento Remoto do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), pioneiro no uso de imagens de satélite para o combate ao desmatamento na Amazônia.
Engenheiro florestal, mestre em sensoriamento remoto e PhD em ciências florestais, Shimabukuro atuou por mais de cinco décadas no instituto e foi diretamente responsável por conceber ou aprimorar metodologias que formam a base do sistema de monitoramento no país, como o Prodes e o Deter.
“Yosio foi um grande pesquisador e uma referência. O modelo linear de mistura espectral, desenvolvido por ele em seu doutorado, mudou a maneira como é feito o monitoramento de florestas tropicais”, disse Cláudio Almeida, atual coordenador do Programa de Monitoramento da Amazônia e Demais Biomas do Inpe.
O modelo criado por Shimabukuro, contou Almeida, permite identificar a proporção dos principais componentes (vegetação nativa, sombra e solo, por exemplo) mesmo na menor unidade possível de uma imagem digital, o pixel. “Isso permite você entender o que está acontecendo com a vegetação.”
O pesquisador atuou ainda como professor-orientador no curso de pós-graduação em sensoriamento remoto do Inpe e contribuiu para formar gerações de novos especialistas que também marcaram a instituição.
Foi o caso da bióloga Liana Anderson, que chegou ao mestrado do Inpe sem jamais ter visto uma imagem de satélite. Embora seu interesse inicial fosse o estudo de plantas aquáticas, acabou convencida por Shimabukuro a aceitar uma missão que mudaria sua vida.
O pesquisador, juntamente com outros colegas como Valdete Duarte e Egídio Arai, queria saber se dois novos satélites lançados pela Nasa (Terra e Aqua) poderiam servir para detectar mudanças recentes na cobertura vegetal do solo.
A possibilidade era compatível com um sensor especial que ambos carregavam. Chamado de Modis (da sigla em inglês para Espectrorradiômetro de Imageamento de Resolução Moderada), o mecanismo trabalhava com imagens de resolução mais baixa, mas em compensação produzia novas imagens diariamente, o que permitiria detectar uma derrubada em tempo quase real.
O trabalho foi desenvolvido na região nordeste de Mato Grosso e obteve resultados que alcançaram 95% de compatibilidade com os dados do satélite Landsat, que era de fato mais preciso, mas que operava com um intervalo de 16 dias a cada passagem para coleta de imagens.
Quando defendeu sua dissertação de mestrado sob orientação de Shimabukuro, em junho de 2004, Liana apresentou os fundamentos do que mais tarde seria o Deter, ferramenta até hoje fundamental no combate ao desmatamento – o sistema emite alertas diários para apoiar a fiscalização em campo realizada por agentes do Ibama e do ICMBio.
“A experiência e visão da ciência de Yosio conduziram-me no mestrado para uma posição diferenciada de destaque, o que abriu portas em minha carreira e em razão da qual colho frutos até hoje. Sua integridade como mentor e cientista inspirou meus passos e assim sigo, de alguma forma, os caminhos que ele me ajudou a construir”, disse a bióloga ao OC.
Pesquisador da Embrapa desde 1993, o geógrafo Adriano Venturieri também foi aluno de Shimabukuro no mestrado do Inpe e o definiu como uma “pessoa dedicada à ciência e que ajudou muito na formação de jovens pesquisadores”.
“Com todo seu reconhecimento nacional e internacional, foi uma pessoa humilde e que estava sempre disposta a ajudar os alunos da pós-graduação com seus conhecimentos e experiência”, declarou.
O pesquisador Gilberto Câmara, diretor do Inpe de 2005 a 2012, qualificou o colega como “um dos grandes nomes da pesquisa em sensoriamento remoto no Brasil”. Ele lembrou da perda recente de Dalton Valeriano , que também ajudou a construir a história da instituição neste campo.
“O Inpe perde um pesquisador de alto nível e, além disso, alguém com uma generosidade e amabilidade sem par. Passo a passo, a geração pioneira em sensoriamento remoto no Brasil está nos deixando. O Inpe precisará de uma forte renovação de quadros de alto nível para buscar pesquisadores à altura de Yosio Shimabukuro e Dalton Valeriano.”
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O post “Morre Yosio Shimabukuro, ‘avô’ do Deter” foi publicado em 13/08/2025 e pode ser visto originalmente na fonte OC | Observatório do Clima