Conhecer diferentes realidades e demandas, mobilizar profissionais para o tema da gravidez não intencional na adolescência e reforçar a rede de atendimento a adolescentes nos 51 municípios que aderiram ao projeto conjunto entre a ITAIPU Binacional e o Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) .
Essa tem sido a rotina da equipe do UNFPA alocada em Foz do Iguaçu (PR), formada em março de 2019 para se dedicar ao projeto Prevenção e Redução da Gravidez Não Intencional na Adolescência nos Municípios.
Em pouco mais de oito meses, a equipe percorreu cerca de 9 mil quilômetros. O objetivo das viagens foi conhecer a realidade em todos os 51 municípios do projeto e instruir profissionais que trabalham com adolescentes.
Apenas nesse período, foram realizadas 52 visitas e 25 capacitações e encontros para articulações e debates em diferentes localidades. Ao todo, foram mais de 100 horas de diálogos com os profissionais e gestores, com a capacitação de 361 profissionais da saúde, educação e assistência social.
Histórico e construção de diálogos
Uma característica específica do projeto é ter uma rotina de trabalho em que boa parte é realizada fora do ambiente do escritório. O ponto de partida das capacitações é o escritório do projeto, localizado dentro do Parque Tecnológico de Itaipu, em Foz do Iguaçu.
No escritório, a equipe se reúne para mobilizar, organizar e estruturar as ações das capacitações. Utilizam os conhecimentos de comunicação, operações, assessoria técnica e de educação, de acordo também com critérios validados internacionalmente e utilizados pela ONU.
Em abril, a equipe iniciou uma série de visitas e reuniões presenciais nos municípios para mobilizar sobre o tema e iniciar a formação de equipes de profissionais que participariam de capacitações.
Em junho, foram realizadas as primeiras capacitações, reunindo profissionais de diferentes áreas – assistentes sociais, enfermeiros, psicólogos, técnicos e auxiliares administrativos, diretores, coordenadores e agentes de saúde, profissionais e coordenadores pedagógicos, médicos e educadores sociais.
Dos debates iniciais da equipe, surgiu a divisão do ciclo de capacitações em seis módulos: Adolescência e Direitos, Corporalidades e Afetividades, Adolescências e Diversidades, Violências no Contexto das Adolescências e Boas Práticas na Atenção Integral a Adolescentes.
Os cinco primeiros módulos aconteceram de junho a dezembro de 2019. O sexto e último está sendo estruturado para finalizar em fevereiro de 2020. Também está previsto um novo ciclo de capacitações para um perfil de público e formato diferenciados.
Grandes distâncias e experiências
Os municípios participantes do projeto que ficam mais distantes de Foz do Iguaçu são Cantagalo, a mais de 300 quilômetros na direção Leste, e Guaíra, a 215 quilômetros ao Norte.
Com viagens de ida e volta, partindo de Foz do Iguaçu, ou em roteiros com dois ou três municípios visitados no mesmo dia, as viagens realizadas pela equipe ao longo dos oito meses somaram cerca de 9 mil quilômetros.
Essa quilometragem equivale a mais que o dobro da distância entre os pontos mais ao Norte e ao Sul do Brasil – Monte Caburaí, em Roraima, até Arroio Chuí, no Rio Grande do Sul, distantes 4.394 quilômetros em linha reta.
De municípios com menos de 8 mil habitantes a cidades com os mais de 100 mil, o projeto conseguiu juntar profissionais oriundos de misturas étnicas, de tradições e costumes. Os encontros das capacitações foram organizados em cinco microrregiões, unindo municípios próximos territorialmente.
Assim, a cada módulo, com o auxílio de pontos focais nessas regiões, os profissionais do Oeste do Paraná se mobilizam e se encontram para participar das capacitações – uma rotina que têm complementado os conhecimentos adquiridos, na convivência de perto com a realidade de cada um.
Com esse intercâmbio, os participantes têm a possibilidade de atuar com profissionais de várias outras áreas e de municípios que nem sempre são da mesma regional de saúde ou de educação do estado. Também têm acesso a um rico conteúdo sobre assuntos pouco debatidos, com foco em auxiliar no trabalho junto aos sujeitos principais do projeto: os e as adolescentes.
Um outro motivo que desperta o interesse dos profissionais para participar das capacitações é o trabalho com a autoestima, autoconhecimento e a superação de preconceitos. Segundo Cintia Cruz, analista técnica do UNFPA que vem coordenando as capacitações, “esses espaços são de fortalecimento. Na medida em que a gente se desnuda dos próprios preconceitos, também aprendemos outras formas de encarar as coisas que fazemos”.
Troca de experiência e aprendizado
Para a participante das capacitações, psicóloga e orientadora social Camila Fabiane Damacena da Silva, a adolescência é uma fase peculiar, com demandas específicas, sendo importante estar preparado para compreendê-la.
“A saúde e a educação devem ser a porta de entrada para falar com adolescentes. Trabalhar sobre isso, desenvolver um projeto em que nós nos capacitamos para passar para frente, é o grande momento dessa educação. Saber conversar com eles, ter a linguagem deles é fundamental. Todos deveriam entender melhor a demanda dos e das adolescentes”, diz.
Segundo o fisioterapeuta Fabiano Sartori, as capacitações são importantes para quebrar o receio de lidar com esses temas difíceis, principalmente com questões voltadas para adolescentes e a gravidez não planejada nesse período.
Sartori percebe que há uma certa resistência de pequenos municípios em introduzir esses temas no trabalho, mas que com a troca de experiências com os municípios vizinhos, é possível agregar novas ideias.
“Vamos percebendo que esse tipo de assunto não é tão difícil assim de introduzir em nosso dia a dia. Então, eu vejo como um avanço todo esse período de capacitação, por que não é algo isolado, é uma capacitação continuada, percebemos que nossa equipe está evoluindo bastante e com certeza a longo prazo vamos colher frutos bastante interessantes em nossa região”, destaca.
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