3ª Festa da Quebra do Cacau em Taboquinhas, Itacaré, no Sul da Bahia.

Religiosidade, cultura e entretenimento marcam a 3ª Festa da Quebra do Cacau em Taboquinhas, Itacaré, no Sul da Bahia. O evento ocorreu em julho de 2024 e foi organizado pela Comissão de Festejos da Paróquia do Bom Jesus, com apoio das Secretarias Municipais de Agricultura e de Comunicação.

Em missa celebrada pelo Padre Bira, foram abençoados os frutos. Bênçãos e proteção para a região Sul da Bahia também caracterizam a celebração. Após a missa os presentes puderam também acompanhar uma palestra sobre boas práticas no cultivo e beneficiamento de cacau.

Com cacau doado pelos agricultores, os jogos de arremesso do cacau no balaio e a disputa da quebra do cacau (na qual ganha quem quebra mais em menos tempo), são aguardados com grande expectativa pelos presentes. Durante o jogo da quebra do cacau, seu Jerônimo, agricultor e bi-campeão na brincadeira, desafiava os demais competidores.

Competição de arremesso de cacau no balaio. Fotos: Aline Camargo Assis.

Os vencedores foram premiados com brindes como facões, botas e tesouras de poda, doados por lojistas do município. Troféus também foram entregues.

A Festa da Quebra do Cacau atraiu visitantes da área urbana de Itacaré que vieram prestigiar o evento e desgustar a fruta e o mel de cacau. Afrodite Maria Souza, participante da Festa, destacou: “este é o verdadeiro ritual do cacau”, referindo-se aos trabalhadores e trabalhadoras celebrarem a colheita.

Taboquinhas – distrito rural de Itacaré-BA

A cultura cacaueira em Itacaré remonta ao século XVIII, quando o cacau foi introduzido em toda a região sul da Bahia, conhecida hoje também como Costa do Cacau. Taboquinhas é um distrito na área rural de Itacaré, nas margens do Rio de Contas, que prosperou no passado, como o centro econômico do município, devido à abundante produção de cacau. A chegada da vassoura-de-bruxa, doença causada pelo fungo Moniliophtora perneciosa, que atacou as lavouras de cacau no final da década de 1980, impactou drasticamente a economia da região.

Naquele mesmo período, o município de Itacaré, que está situado numa Área de Preservação Ambiental -APA Itacaré- Serra Grande, começou a se tornar um pólo turístico reconhecido pelas belas praias cercadas pela natureza exuberante da Mata Atlântica, deslocando assim o desenvolvimento econômico para a zona costeira do município. Já a área rural de Itacaré, manteve-se um pouco mais distante do turismo massivo, povoada em sua grande maioria pela população “nativa”, com poucos residentes forasteiros; diferente da zona costeira marcada pelos impactos do turismo de veraneio, em especial a substituição da população local nas áreas mais valorizadas.

Essas características tornam Taboquinhas um lugar com potencial para o desenvolvimento de turismo de base comunitária . Taboquinhas abriga fazendas de cacau, cachoeiras, trilhas, praias no Rio de Contas, empresas de rafting e festividades populares como a Festa da Quebra do Cacau e as cavalgadas e romarias.

O motivo da Festa

O cacau, ou manjar dos deuses, como os antigos guerreiros astecas o apelidaram, é a fruta de uma planta, o cacaueiro (Theobroma cacao). Árvore nativa da Amazônia, chegou ao sul Bahia em 1746 . Daí por diante, o Sul da Bahia passou a ser um dos principais polos cacaueiros do mundo, onde estão localizadas grandes moageiras multinacionais. Parte da história da região foi imortalizada pela literatura de Jorge Amado, em livros como “Cacau” e “Terras sem fim”. Ao mesmo tempo, desenvolveu saberes e experiências locais como o reconhecido sistema cabruca , um tipo de plantio tradicional do cacau.

O plantio do cacau sob a sombra das árvores da Mata Atlântica e originalmente da floresta amazônica faz com que o cacau seja uma planta que possibilita o consórcio estratificado e biodiverso, o que favorece um desenvolvimento rural sustentável. Na safra 2023/2024, o Brasil passou a ser o 5º maior produtor de cacau do mundo. O mercado está aquecido, a tonelada do cacau bateu preço recorde em abril de 2024, devido a quebra da safra em um dos grandes produtores dessa fruta em África. No entanto, o atual cenário de oferta e demanda ainda é insuficiente para atender tanto quem quer comprar quanto quem quer produzir com produtividade, sem dívidas e justiça social .

Texto elabolaro por Aline Camargo Assis e colaboradores.