Por Matheus Sylvestre
A cineasta Ava Duverney está fazendo história e deixando um legado de representatividade, apoio e luta para a juventude, principalmente para mulheres negras. Hoje ela está em uma posição privilegiada, mas ainda assim escassa, por ser uma das poucas diretoras negras de grande referência e notoriedade em Hollywood. Em 2014, ela foi a primeira mulher negra indicada ao Globo de Ouro na categoria melhor direção pelo filme “Selma: Uma Luta Pela Igualdade”. Seu engajamento para ser uma voz ativa e presente nos debates raciais a fez fundar, em 2010, a ARRAY, uma distribuidora de filmes independentes para diretores/as negros/as. A empresa vem expandindo a educação cinematográfica entre jovens negros e negras e incentivando-os/as a ocupar lugares com as suas respectivas produções.
Olhos que Condenam estreou neste 31 de maio na Netflix e é uma das produções da empresa mais assistida do ano. A série marca um momento importante na carreira de Duverney e expõe o posicionamento de Donald Trump, atual presidente dos EUA, sobre o caso dos quatro jovens negros e latinos acusados injustamente por estupro coletivo contra uma mulher branca e rica. Trump reforçava o racismo em suas falas, pediu a pena de morte dos meninos e suas declarações foram amplamente divulgadas nos jornais de Nova York. Todos cumpriram a sentença de 6 a 13 anos de prisão, e só vieram a ser inocentados em 2014, após o verdadeiro culpado assumir o crime. Vivem hoje em dia com uma indenização avaliada em torno de 41 milhões de dólares, pelo tempo que ficaram presos, e com os traumas emocionais dos abusos e violência que sofreram neste processo.
A série pode despertar um gatilho de revolta e impotência no telespectador. Esses sentimentos de sensibilidade e empatia do público refletem a abordagem da cineasta, que conseguiu construir, em quatro episódios, uma mensagem real e crua sobre a realidade do racismo institucional. Todos os fatos narrados são reais e fazem ponte com o que é possível observar hoje em dia. Na série vemos a polícia abusar psicologicamente e fisicamente dos jovens para assumirem o crime que não cometeram. Sendo alguns deles menores de idade, interrogados em salas sem seus familiares e sem direito de defesa judicial imediata.
Duverney transita pelos episódios abordando toda a situação vulnerável dos meninos e suas famílias antes, durante e após o encarceramento. Dentre as gravidades expostas pela cineasta, uma das mais chocantes é como a polícia e a promotoria pública construíram uma narrativa falsa das acusações, priorizando a versão testemunhada pelos policiais. A tragédia aconteceu trinta anos atrás, mas ainda assim conversa diretamente com casos como o do jovem brasileiro Rafael Braga . Em 2013, ele foi acusado de portar material explosivo consigo nas manifestações das Jornadas de Junho, quando na verdade carregava dois produtos de limpeza em sua bolsa. Rafael ficou 5 anos preso e após ter tuberculose na prisão, recebeu direito a cumprir a pena em regime domiciliar.
Foto: Reprodução | Netflix
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O post “ITTC Recomenda: Olhos que condenam” foi publicado em 29th October 2019 e pode ser visto originalmente na fonte Instituto Terra, Trabalho e Cidadania – ITTC