DO OC – Na manhã deste sábado (2/12), durante um encontro com a sociedade civil na COP28, conferência do clima que ocorre em Dubai, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi cobrado a liderar a agenda climática com foco no fim do uso dos combustíveis fósseis, principais emissores de gases de efeito estufa. “A gente precisa de pessoas como o senhor, com a sua capacidade para liderar essa agenda global. Uma agenda para colocarmos na mesa uma proposta real pelo fim do uso dos combustíveis fósseis. Se não, vamos continuar tendo vidas perdidas”, disse Márcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima, ao presidente.
Astrini lembrou que a discussão sobre petróleo, carvão e gás tem sido ignorada nas conferências de clima. “Não acabar com o problema significa que as pessoas vão morrer. Se a gente não atacar o problema principal, que é o petróleo, os combustíveis fósseis, nós vamos continuar discutindo coisas importantes também, mas que não vão resolver o problema”, argumentou.
O discurso de Astrini não é baseado em opiniões. Há décadas cientistas têm mostrado evidências do impacto negativo do uso de fósseis para o clima. A própria Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês) disse, em seu relatório anual, publicado em outubro, que o crescimento nos investimentos em energia renovável não será suficiente para conter a crise climática se a demanda por combustíveis fósseis não diminuir rapidamente.
O encontro foi promovido pela Secretaria Geral da Presidência e reuniu representantes de 135 organizações da sociedade civil e de movimentos sociais. Lula começou a falar logo após Astrini. Antes, no entanto, precisou escutar gritos contra o petróleo. O presidente falou por quase 25 minutos, mas se manteve escorregadio ao citar a descarbonização. “Acabar com os combustíveis fósseis é um desejo, chegar lá é uma guerra, é uma luta. O primeiro é vencer os obstáculos tecnológicos”, disse.
O petista exaltou o potencial do Brasil na produção de energia verde. O elefante na sala era a entrada do país na Organização dos Países Exportadores de Petróleo e Aliados (Opep+), e Lula fez uma declaração que começou arrancando aplausos. “Não vamos entrar na Opep”, disse. A ovação, no entanto, foi interrompida quando o presidente emendou “Vamos entrar na Opep+”, frustrando a alegria da audiência. Lula tentou justificar: “Entramos nesse clube para ajudar a convencer os maiores produtores de petróleo de que eles precisam usar seus lucros para fazer uma transição justa para energia renovável”, disse.
A Opep é uma organização fundada em 1960 no Iraque que conta com 13 membros, países que são grandes produtores de combustíveis fósseis como a Arábia Saudita e a Venezuela, com poder para influenciar o preço internacional do petróleo. A Opep+ é o grupo dos associados e aliados, que não têm direito a voto nas decisões do grupo. Hoje, há dez países nesta situação, sendo o México o único da América até o momento.
“Anunciar a entrada do Brasil na organização em pleno ano de 2023, enquanto deveríamos estar preocupados em acelerar a transição energética do país e criar planos para eliminar os combustíveis fósseis progressivamente, é uma decisão equivocada e perigosa”, opina Leandro Ramos, diretor de programas do Greenpeace Brasil. Para Ramos, não basta o país se comprometer em zerar o desmatamento. É preciso também se posicionar contra os combustíveis fósseis.”Essa incoerência poderá colocar em xeque a sua posição para cobrar metas mais ambiciosas dos países desenvolvidos e custará caro à política climática brasileira”, completa.
Em marcha lenta para abrir mão dos combustíveis fósseis, o Brasil tem agendado para o dia 13 de dezembro um leilão da Agência Nacional de Petróleo (ANP) que conta com 609 blocos exploratórios. Alguns desses blocos estão em áreas com mais sensibilidade ambiental, como os localizados no mar próximos ao arquipélago de Fernando de Noronha e os em terra no Amazonas. O país ainda tem na mesa do Ibama um pedido de licenciamento para a exploração de um bloco na Margem Equatorial próximo ao Amapá.
Enquanto Lula não tem uma posição forte para reduzir gradualmente a produção de combustíveis fósseis, o vizinho Gustavo Petro, presidente da Colômbia, permanece em um tipo de caminhada solitária na América Latina para se desvencilhar da dependência dos fósseis.
A Colômbia anunciou neste sábado a entrada no bloco de países que buscam negociar um Tratado de Não Proliferação de Combustíveis Fósseis . A Colômbia é a primeira nação da América Latina a se unir ao grupo que era composto por nove estados. (PRISCILA PACHECO)
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