DO OC – Cientistas da organização americana Climate Central analisaram as temperaturas do ar registradas nos últimos 12 meses (1° de novembro de 2022 a 31 de outubro de 2023) em todo o mundo e averiguaram que houve um aumento na temperatura global de 1,32°C em comparação aos índices da era pré-industrial (1850-1900). Segundo o estudo publicado nesta quinta-feira (9), a tendência de aumento é impulsionada principalmente pelo excesso de gases de efeito estufa liberados por ações humanas, como a queima de combustíveis fósseis.
“Enquanto a humanidade continuar a queimar carvão, petróleo e gás natural, as temperaturas aumentarão e os impactos vão acelerar e se espalhar. A análise ressalta como os esforços para reduzir as emissões e limitar o aquecimento beneficiarão as populações em todo o mundo”, diz o artigo. O aumento da temperatura também teve influência da redução das emissões de gases poluentes de aerossóis que causam resfriamento. Os pesquisadores também constataram que o impacto do El Niño, fenômeno oceânico-climático, ainda é menor do que o dos gases de efeito estufa. O aumento recorde tirou a liderança do período de outubro de 2015 a setembro de 2016, quando a temperatura ficou 1,29 °C mais quente.
Os pesquisadores utilizaram o Índice de Mudanças Climáticas (CSI, na sigla em inglês) para quantificar como as mudanças climáticas alteraram a probabilidade de haver calor extremo. De novembro de 2022 a abril de 2023, por exemplo, 58% da população mundial foi exposta a 10 ou mais dias com altas temperaturas com um nível de CSI 3, o que significa que as ondas de calor desses dias foram pelo menos três vezes mais prováveis devido às alterações climáticas. O percentual subiu para 82% dos habitantes entre maio e outubro. Durante todos os 12 meses, 90% da população (7,3 bilhões) enfrentaram pelo menos 10 dias de calor extremo e 73% (5,8 bilhões) vivenciaram mais de um mês. A Jamaica é um exemplo de país que apresentou um CSI nos últimos 12 meses no valor de 4,5 de um máximo de cinco.
A análise reforçou que os impactos climáticos recaem com mais força sobre os países que contribuíram menos para o problema. Os pequenos países insulares em desenvolvimento tiveram um CSI médio de 2,7. Em contrapartida, o G20, grupo que reúne as 20 maiores economias mundiais, ficou com uma média ICS de 0,8.
Embora os impactos estejam fortes nos países mais pobres, foi concluído que há um aceleramento dos efeitos nas grandes economias. Entre novembro e abril, a Arábia Saudita (1,2), a Indonésia (1,9) e o México (1,2) foram os únicos países do G20 a terem um CSI médio superior a 1. No segundo período, de maio a outubro, Índia, Itália, Japão, Brasil, França e Turquia se juntaram ao trio. Com exceção da Alemanha, Rússia, Canadá e Argentina, os outros países também tiveram algum aumento no CSI.
O estudo ainda mostra que a média do CSI de alguns estados e cidades foi elevada, apesar da média nacional ser relativamente baixa. Um caso é o Brasil, que apresentou uma média de 1,4 de maio a outubro, mas possui 14 estados com média maior no mesmo período: Amapá (4,6), Pará (4), Amazonas (3,7), Roraima (3,7), Ceará (3,2), Acre (2,7), Rondônia (2,6), Rio Grande do Norte (2,5), Pernambuco (2,1), Alagoas (1,9), Paraíba (1,8), Sergipe (1,8), Bahia (1,7), Mato Grosso (1,5).
Quando a lupa é colocada nas grandes cidades, Manaus (AM) aparece com CSI médio no valor de 5. A capital do Amazonas está na relação das grandes cidades que tiveram ondas de calor de cinco dias ou mais. As 10 cidades que tiveram as ondas de calor mais longas durante os 12 meses também apresentaram CSI médio no valor de 5. Houston, nos Estados Unidos, enfrentou temperaturas extremas que perduraram por 22 dias seguidos. Na segunda posição, com 17 dias, estão Jacarta e Tangerang (Indonésia) e Nova Orleans (EUA). Qujing (China) e Austin (EUA) enfrentaram 16 dias seguidos. San Antonio (EUA), Zapopan e Guadalajara (México) e Bekasi (Indonésia) fecharam o ranking com uma onda de calor de 15 dias seguidos.
“Eventos de nível 5 do CSI seriam muito difíceis de encontrar em um mundo sem alterações climáticas – não impossível, mas extremamente improvável”, diz a pesquisa. Os cientistas analisaram dados meteorológicos de 175 países, 154 estados e 920 grandes cidades.
Por fim, o artigo desta quinta-feira apresentou uma retrospectiva sobre eventos extremos ocorridos no último um ano no cenário da crise climática. Nos Estados Unidos, foram registrados 24 eventos climáticos extremos que mataram pelo menos 383 pessoas e geraram perdas financeiras superiores a US$ 67 bilhões de dólares. A Argentina teve uma redução do PIB estimada em 3% por causa de uma seca, o Amazonas secou rios volumosos, o Canal do Panamá, que opera cerca de 5% do comércio global, teve a navegação comercial interrompida por causa de uma seca prolongada.
O planeta também tem sido afetado por ciclones, tufões e tempestades Em setembro, inundações destruíram terras agrícolas e deslocaram quase 26 mil pessoas – a maioria mulheres e crianças – no Gana, país localizado na África Ocidental. No Chifre da África, o calor tem contribuído para a insegurança alimentar aguda de mais de 23 milhões de pessoas e para o deslocamento de 2,7 milhões de habitantes. O Canadá teve que evacuar 1 a cada 200 pessoas por causa dos incêndios florestais intensificados pelas mudanças climáticas. Na Itália, os hospitais não deram conta de atender pessoas que passavam mal por causa da temperatura que ultrapassou 40 °C em agosto e setembro. (PRISCILA PACHECO)
O post Planeta ficou 1,3 °C mais quente nos últimos 12 meses apareceu primeiro em OC | Observatório do Clima .
O post “Planeta ficou 1,3 °C mais quente nos últimos 12 meses” foi publicado em 09/11/2023 e pode ser visto originalmente na fonte OC | Observatório do Clima