Na celebração do Bicentenário da Independência, em 7 de setembro de 2022, 28 tratores desfilaram como estrelas do evento, representando o agronegócio brasileiro, setor alinhado ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Questionados pela Agência Pùblica à época, alguns produtores rurais responderam que a celebração era patriota e apartidária, enquanto outros assumiram o alinhamento ao bolsonarismo. Um ano depois, agora com o ex-presidente inelegível e investigado em diversos inquéritos, nenhum dos dois grupos pretende ir às ruas. Em contraponto aos tratores e ao agronegócio, a comemoração que acontece amanhã tem a defesa da Amazônia como um dos eixos temáticos .
O Movimento Brasil Verde e Amarelo (MBVA), que reúne entidades ligadas ao setor, por exemplo, não está se mobilizando para o 7 de setembro deste ano. Em 2022, eles encabeçaram as negociações com o governo Bolsonaro para colocar os tratores no centro do desfile da Independência. Também foram responsáveis por organizar caravanas que levaram produtores rurais a Brasília e pagaram pelo trio elétrico no qual o ex-presidente e seus aliados subiram e pediram votos em meio a campanha eleitoral, que já estava a todo vapor.
Ainda assim, Júlio Nunes disse à Agência Pública que a participação no último evento não teve relação com a ligação do movimento com o bolsonarismo. “O ato cívico militar não tem nada a ver com política partidária, às vezes as pessoas confundem, mas isso é uma festa, que nem o ano passado”, afirmou na última segunda-feira (4/9). Para justificar a desmobilização este ano, Nunes argumentou que o agronegócio vive um “mau momento”: “Está muito ruim o nosso segmento. Está todo mundo preocupado, está todo mundo descapitalizado, então não tem como fazer nada”.
Fato é que o possível uso do evento oficial para fins eleitoreiros no 7 de setembro do ano passado rendeu a Bolsonaro, Júlio Nunes e aos donos dos tratores que desfilaram em Brasília uma ação de investigação por abuso de poder político e econômico, que segue tramitando no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
A Pública identificou à época os proprietários de 24 dos 28 veículos que participaram do evento na Esplanada, e que foram citados na ação ajuizada pela coligação do então candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em setembro de 2022. Na lista, havia nomes de grandes empresários de implementos e maquinários agrícolas, produtores rurais e representantes de sindicatos regionais do agro. Segundo relataram à reportagem, os donos investiram de R$ 4 mil a R$ 15 mil para garantir a presença de seus veículos no desfile.
“Foi um baita orgulho pra gente ter participado da comemoração dos 200 anos (da Independência), e a gente tomou um processo por uso político da data, sendo que não tem nada a ver”, defendeu Nunes, acrescentando que o movimento era crítico à política agrícola do ex-presidente, na tentativa de desvincular a ligação do MBVA com Bolsonaro.
A Agência Brasileira de Inteligência (Abin), no entanto, identificou a participação do grupo em atos em apoio a Jair Bolsonaro. De acordo com relatórios do órgão enviados à CPMI do 8 de janeiro e obtidos pela reportagem, o grupo foi “um dos principais articuladores dos atos intervencionistas e em apoio a Bolsonaro nos últimos anos”. O próprio Nunes é apontado pela Abin como uma “liderança de bloqueio” que contestava o resultado das últimas eleições em Campo Grande, no Mato Grosso do Sul.
O principal líder do grupo, apontado pelos pares como “general” do movimento – conforme destacado no relatório da Abin – o presidente da Aprosoja, Antonio Galvan, foi um dos convidados de honra de Jair Bolsonaro no evento. Ele é alvo do inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF) que apura os atos antidemocráticos.
“Muitos dos caminhões que partiram em comboio para Brasília após a eleição para apoiar o acampamento em frente ao Quartel-General do Exército partiram de regiões de influência do MBVA”, destaca a Abin em seu relatório, acrescentando: “O MBVA possui recursos econômicos e disposição para financiar transporte de manifestantes e ações extremistas, como as ocorridas em Brasília em 8 jan. 2023”.
Fonte
O post “Sem Bolsonaro, agronegócio abandona comemoração do 7 de setembro” foi publicado em 06/09/2023 e pode ser visto originalmente diretamente na fonte Agência Pública