O total de mortes por intervenção policial quase dobrou na Baixada Santista, litoral de São Paulo, durante os meses da Operação Escudo, da PM, mas a média de prisões e armas apreendidas se manteve estável na localidade. Nos aproximadamente 30 dias em que as forças policiais realizaram ações de combate ao tráfico de drogas, entre julho e agosto, foram registradas 24 mortes – 18 no Guarujá e 6 em Santos. Nos seis meses anteriores, 14 pessoas tinham sido mortas pela polícia na região, segundo dados do Ministério Público de São Paulo (MPSP).
Por outro lado, a quantidade de prisões e de armas apreendidas se manteve dentro da média mensal da região. De acordo com balanço da Secretaria de Segurança Pública (SSP), entre janeiro e junho, 3.650 pessoas foram presas na Baixada Santista, uma média de 608 prisões por mês. Enquanto a Operação Escudo estava em curso, foram realizadas 634 prisões na região. As apreensões de armas também não cresceram muito. Entre janeiro e junho, a polícia apreendeu 435 armas de fogo na Baixada Santista. Na média, foram 72 armas apreendidas por mês. No decorrer da Operação Escudo, 84 armas foram apreendidas.
A primeira morte no Guarujá aconteceu no dia 26 de julho, seis dias depois da a SSP anunciar a segunda fase da Operação Impacto “SULMaSSP – Divisas Integradas II” – fruto do 2° encontro de secretários de segurança pública de cinco estados: Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Mato Grosso do Sul e São Paulo – que tinha como objetivo combater a atuação de organizações criminosas em divisas do Estado.
No dia 28 de julho, logo após a morte do soldado da Rota, Patrick Bastas Reis, a SSP anunciou o início da Operação Escudo. Na mesma data, três pessoas foram mortas no Guarujá, no dia seguinte três, no outro duas e no posterior mais três, totalizando 12 mortes em seis dias – até o dia 26 não havia ocorrido nenhuma morte por intervenção policial no município.
No ano passado, 22 pessoas foram mortas nas regiões de Santos (9) e Guarujá (13) em decorrência de intervenção policial. Em entrevista ao programa Jornal da Manhã, da Jovem Pan, o secretário de Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite, disse que a Operação Escudo continuará por tempo indeterminado. “Enquanto nós tivermos capturando procurados, apreendendo drogas e tirando armas ilegais das mãos de criminosos a operação continuará”, disse.
De acordo com a SSP, durante o período da Operação Escudo, 905 kg de entorpecentes foram apreendidos na Baixada Santista. A maneira como a SSP tem divulgado as apreensões de drogas no período da Operação Escudo, não permite que seja feita a comparação com os dados apresentados no primeiro semestre. Nos comunicados, o órgão tem mencionado a quantidade de entorpecentes apreendidos, no entanto, na estatística divulgada mensalmente, a SSP informava número de ocorrências, ou seja, quantidade de apreensões sem o volume apreendido.
Esse dado só será disponibilizado após o dia 25 de setembro, segundo a SSP.
Prisões não aumentaram na região
No dia 18 de agosto, a Defensoria Pública de São Paulo publicou um relatório preliminar que analisou o perfil de 264 prisões realizadas na Baixada Santista, durante a operação da PM. O levantamento se restringe ao período de audiências de custódia das prisões em flagrante realizadas entre os dias 27 de julho e 15 de agosto, no âmbito da 1ª Circunscrição Judiciária de Santos, que abarca as Comarca de Bertioga, Cubatão, Praia Grande, Santos e São Vicente.
Na amostra analisada foram identificadas 170 prisões em flagrante por “supostos delitos sem violência ou grave ameaça”. Dessas, 94 pessoas foram presas em decorrência de capturas pela Justiça, o que quer dizer que as pessoas tinham mandado de prisão em aberto.
Ao todo, 51,8% das prisões em flagrante foram de pessoas entre 18 e 29 anos. Delas, 55% não tinham antecedentes criminais e 73% tinham passagens por crimes sem violência ou grave ameaça. Em 67%, a pessoas detidas foram apreendidas com drogas. Não houve apreensão de armas em 90% dos casos. Nos registros de ocorrência, apenas 8% faziam menção à Operação Escudo.
Operação Escudo
A Operação Escudo foi deflagrada pelas Polícias Militar e Civil, com efetivo de 600 policiais e o objetivo de identificar, localizar e prender os envolvidos no ataque que causou a morte do soldado da ROTA (Rondas Ostensivas Tobias Aguiar) Patrick Bastos Reis, de 30 anos.
No dia 27 de julho, o policial foi atingido por um disparo de arma de fogo na região do tórax, enquanto fazia patrulhamento na Vila Júlia, no Guarujá. Ele morreu no Pronto Atendimento da Rodoviária (PAM). No ataque, o cabo Fabiano Oliveira Marin Alfaya foi baleado na mão esquerda.
No dia 30, Erickson David da Silva, conhecido como Deivinho – apontado como autor dos disparos –, se entregou à polícia na Zona Sul de São Paulo. Ele fez um vídeo pedindo o fim da matança no Guarujá. “Quero falar para o Tarcísio e o Derrite para de fazer a matança aí, matando uma pá de gente inocente, querendo pegar minha família, sendo que eu não tenho nada a ver. Estão me acusando aí. É o seguinte, vou me entregar”.
Na madrugada do dia 2 de agosto, a polícia prendeu o último suspeito de participar da ação que resultou na morte do soldado Reis. Em 4 de agosto, três suspeitos foram indiciados por homicídio, tentativa de homicídio e associação ao tráfico de drogas. A prisão dos acusados de envolvimento no ataque a guarnição da Rota não mitigou a atuação das forças de segurança e as mortes e prisões continuam acontecendo na Baixada Santista.
Fonte
O post “Operação no Guarujá: mortes pela polícia aumentaram, mas prisões e apreensão de armas não” foi publicado em 04/09/2023 e pode ser visto originalmente diretamente na fonte Agência Pública