DO OC – Gustavo Petro, presidente da Colômbia, voltou a defender o fim da exploração de combustíveis fósseis na Amazônia e enfatizou que o combate à emergência climática exige mais do que zerar o desmatamento. “O planeta precisa deixar de usar o petróleo, o gás e o carvão”, declarou. Os outros representantes de países amazônicos, porém, nem citaram a importância de limitar a indústria petroleira. O discurso isolado de Petro ocorreu no início da Cúpula da Amazônia , nesta terça-feira (8/8), em Belém (PA).
O primeiro chefe de Estado a falar foi o anfitrião, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Lula destacou a queda do desmatamento nas primeiras gestões petistas no início dos anos 2000 e a retomada da governança ambiental: entre janeiro e julho, a queda nos alertas na Amazônia foi de 42,5%, na comparação com o mesmo período do ano anterior.
Lula também declarou que o seu governo está engajado para desenvolver uma transição justa. “Vamos planejar o crescimento apostando na industrialização e infraestrutura verdes, na sociobioeconomia, e nas energias renováveis. O Brasil desempenhará papel central na transição energética, liderando a produção de fontes limpas como a energia solar, a biomassa, o etanol e o hidrogênio verde”, disse. O presidente falou ainda sobre a criação do Painel Técnico-Científico Intergovernamental, uma versão amazônica do IPCC, que deve unir cientistas e especialistas da Amazônia para fundamentar decisões em colaboração com outros painéis científicos internacionais.
Lula não fez menção aos combustíveis fósseis. O petista, inclusive, disse em entrevista na última quinta-feira (3/8) que o Amapá poderia” continuar sonhando” com a exploração de petróleo na foz do Amazonas, onde a Petrobras teve um pedido de licença para perfuração negado pelo Ibama em maio.
Petro, o terceiro a discursar, não conteve palavras. Para o colombiano, é um “contrassenso total” continuar extraindo petróleo e gás da Amazônia enquanto o mundo está padecendo diante das mudanças climáticas, que têm como catalisadoras as emissões de gases geradas pelos combustíveis fósseis. Petro criticou a insistência nos fósseis e disse que existe um tipo de negacionismo que também atinge a esquerda, ancorado no “adiamento de decisões” sobre a extinção da exploração desses combustíveis.
A crítica foi endereçada ao consenso dos países da Cúpula (que, até agora , deixa de fora o petróleo e não fixa metas comuns para o desmatamento zero). O presidente colombiano lembrou que, sem corte de emissões no setor de energia e políticas de regeneração florestal, não há controle do desmatamento que segure o ponto de não-retorno no bioma amazônico. “A necessidade do Norte é deixar o capital fóssil, e a nossa é proteger a ‘esponja’ – e isso não consiste apenas em chegar ao desmatamento zero, porque com o tempo, chegaremos ao ponto de não-retorno da Amazônia. O dano já produzido e acumulado até aqui acabaria com a floresta “, disse o político, que defende uma renovação do sistema econômico mundial para se livrar dos combustíveis fósseis e a regenerar tudo o que já foi destruído da Amazônia. “No caso da Colômbia, precisamos regenerar florestas. Ver como uma plantação de soja pode voltar a ser floresta”, comentou, indicando que essa mudança sistêmica passa também pela ruptura com os modelos agro-exportadores e das monoculturas em larga escala.
Petro também repetiu uma proposta que fez no início do ano no Fórum Econômico Mundial: a troca das dívidas externas (das quais países ricos são credores) por ações climáticas efetivas. Para Petro, essa troca liberaria o orçamento dos países em desenvolvimento, permitindo a construção de um plano mundial com investimento permanente para “gerar o motor econômico da revitalização da floresta amazônica”. Petro defende uma “reforma do sistema financeiro global” que coloque a ação climática e a defesa do planeta no centro da agenda.
O colombiano também propôs a criação de um tribunal de justiça ambiental amazônica para julgar crimes ambientais e de um tratado militar com poder de interdições “de tudo que possa ser contra a floresta”.
Os outros representantes de Estado discursaram como se os combustíveis fósseis não existissem. Delcy Rodriguez, vice-presidenta da Venezuela, por exemplo, criticou a existência de grandes empresas farmacêuticas e produtoras de alimentos, mas não fez menção à atuação de petroleiras. Apesar de o país sofrer embargo econômico dos Estados Unidos, algumas gigantes do petróleo, como a americana Chevron, que chegou ao país em 1923, receberam licenças temporárias para retomarem operações na Venezuela.
Já Gustavo Miranda, chanceler do Equador, ignorou que no dia 20 de agosto haverá um plebiscito exigido pela sociedade civil para tentar barrar a exploração de petróleo no Parque Nacional de Yasuní. Representantes da Bolívia, Peru, Guiana e Suriname também fizeram discurso.
As falas completas podem ser assistidas aqui . (PRISCILA PACHECO E LEILA SALIM)
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