A certa altura, os residentes ficaram limitados a apenas 50 litros por dia. Para ter uma referência, uma lavagem de roupa pode usar até cerca de 70 litros, dependendo da máquina.
“Lembro-me de como era difícil conviver com essas restrições severas, em termos de redução de nossos limites diários de água”, disse à DW por telefone a especialista em biodiversidade, natureza e saúde da Cidade do Cabo.
No final, a Cidade do Cabo conseguiu evitar o “Dia Zero”, introduzindo limites estritos de água para empresas e residentes, como lembra Coetzee. A cidade aumentou as tarifas de água e as multas por uso excessivo e trabalhou com o setor agrícola para reduzir o consumo de água e reter a umidade do solo.
Coetzee disse que uma extensa campanha de conscientização pública pediu às pessoas que reduzissem ou eliminassem atividades que consomem muita água, como lavar roupas ou carros, e as aconselhou a tomar banhos mais curtos – assim como a reutilizar a água do chuveiro para dar descarga no vaso sanitário.
“Muitos proprietários de casas, especialmente aqueles que podiam pagar, instalaram tanques de coleta de água da chuva, mas a realidade é que a maioria das pessoas não tinha esses luxos e realmente enfrentaram dificuldades”, disse ela.
Soluções na natureza
Desde a seca, Coetzee disse que a cidade também encontrou maneiras de aumentar o abastecimento de água trabalhando com órgãos públicos. Juntamente com empresas privadas e comunidades locais para restaurar as áreas de captação de águas superficiais e aquíferos.
“Uma solução baseada na natureza, na forma de remoção de vegetação exótica invasora nas áreas de captação da cidade e restauração dessas áreas, provou ser a medida mais econômica e eficiente com os melhores rendimentos”, disse Coetzee, diretora da seção para a África da ONG Governos Locais para a Sustentabilidade (ICLEI ).
Espécies invasoras como pinheiros e eucaliptos absorvem muito mais água do que o arbusto nativo fynbos e restringem o abastecimento de água da cidade.
“Os esforços até agora geraram 55 bilhões de litros de água adicionais a cada ano, a um décimo do custo da opção mais barata para esse nível de rendimento”, disse Coetzee.
Essa solução, juntamente com o retorno das chuvas e as medidas de conservação aprendidas durante a crise de 2018, ajudaram a reabastecer as barragens da cidade e aliviar significativamente as preocupações com a água – pelo menos por enquanto.
Aumentar conscientização
Muitas outras cidades ao redor do mundo investiram em medidas de eficiência para ajudar a economizar água. Tóquio, por exemplo, atualizou sua infraestrutura e investiu em uma pronta detecção e reparo de vazamentos para reduzir o desperdício de água pela metade de 2002 a 2012, para apenas 3%.
Em lugares onde o abastecimento já está ameaçado devido às mudanças climáticas, tais esforços são ainda mais críticos. Como muitos californianos, 3,3 milhões de residentes no condado de San Diego, na fronteira sul dos EUA com o México, enfrentaram várias secas severas nos últimos 20 anos.
Mas, graças às restrições de água, educação pública e investimentos para aumentar a capacidade de reservatórios e reparos de canais para evitar infiltrações. Além disso, o município reduziu o uso de água per capita em quase 50% nas últimas três décadas.
Juntamente com soluções tecnológicas como usinas de dessalinização, que removem o sal da água do oceano para torná-la potável, e planos futuros para purificar a água usada. Ainda mais, o condado disse que será capaz de atender à demanda local até pelo menos 2045 – embora não sem um investimento financeiro significativo.