Revolta na Itália, com toda razão. Eis o caso:
Em abril do ano passado, uma adolescente de 17 anos estava subindo as escadas ao lado de uma amiga na escola onde estudava, em Roma. O zelador de 66 anos foi por trás, abaixou as calças dela, e pôs a mão na sua bunda e na sua calcinha. Em seguida, disse para a menina: “Amor, você sabe que eu estava brincando”.
Ela denunciou o assédio (ou importunação sexual). Um promotor pediu três anos e meio de prisão para o zelador. Mas um tribunal na semana retrasada o absolveu. Os juízes decidiram que não houve intenção de violência sexual (oi?!), e, pior ainda, que não foi crime porque o negócio levou menos de dez segundos.
Na sentença, os juízes escreveram que o que fez o zelador “não permite a configuração do dolo libidinoso ou libidinoso geralmente exigido pela lei penal”. Lembra alguma coisa? Pra mim, lembrou a sentença que absolveu o estuprador de Mari Ferrer, aquela decisão ultrajante do “estupro doloso “, ou seja, estupro sem intenção!
Desde o julgamento na semana retrasada, termos como palpata breve e a tag #10secondi viralizaram nas redes sociais italianas. Um ator, Paolo Camilli (de White Lotus), fez o primeiro vídeo apalpando seu próprio peito e cronometrando 10 segundos. Muitas outras pessoas fizeram o mesmo para protestar e mostrar como 10 segundos é tempo demais para traumatizar alguém pra vida toda.
A aluna que foi vítima se manifestou, dizendo que “Não pareceu uma brincadeira pra mim”, e que sente-se duplamente traída — pela escola e pelo sistema judicial.
A decisão dos juízes pode fazer com que meninas e mulheres não denunciem assédio. As estatísticas já são horríveis: cerca de 70% das mulheres que foram assediadas entre 2016 e 2021 não denunciaram, segundo um estudo.
Obviamente, não é a primeira vez que a “justiça” italiana faz uma barbaridade dessas. Em 2017, na cidade de Ancona, juízas (mulheres!) absolveram dois homens da acusação de estupro porque, segundo elas, que acreditaram na versão dos estupradores, a vítima era muito “masculina” e pouco atraente. A mulher, de origem peruana, voltou para o Peru depois de ser maltratada na cidade por haver denunciado os criminosos.
Esses casos me fazem recordar o belo hino feminista criado pelas chilenas em 2019, que inclui na sua letra “O patriarcado é um juiz que nos castiga por nascer. E nosso castigo é a violência que você não vê”. Não há dúvida: quando a Justiça, que deveria punir estupradores e assediadores, não cumpre seu papel, ela é cúmplice. Como diz o coro da música, “O Estado opressor é um macho estuprador”.
O post “NA ITÁLIA, PASSAR A MÃO POR MENOS DE DEZ SEGUNDOS PODE” foi publicado em 17/07/2023 e pode ser visto originalmente na fonte Escreva Lola Escreva