DO OC – Após duas semanas de debates, a reunião da IMO (Organização Marítima Internacional), braço da ONU para o transporte naval, terminou na última sexta-feira em Londres com uma estratégia de descarbonização do setor insuficiente para ajudar a atingir a meta do Acordo de Paris de estabilizar o aquecimento global em 1,5oC.
Os negociadores reunidos na capital britânica conseguiram acordar tão somente o que já é consenso entre a maioria dos países do mundo e que a ciência já vem dizendo desde antes da conferência de Paris: é preciso neutralizar emissões no meio do século. Só que, enquanto dezenas de países signatários do acordo do clima já se comprometeram com a neutralidade (“net zero”) até 2050, o setor de navegação não conseguiu nem mesmo fixar uma data. A meta deverá ser cumprida “até, por volta de ou perto de 2050”, afirma o documento final da conferência .
Para não dizer que estão chutando tudo para o proverbial longo prazo em que estaremos todos mortos, a IMO se comprometeu com metas intermediárias: 20% de corte de emissões até 2030 (“envidando esforços para 30%”) e 70% até 2040 (“envidando esforços para 80%”). Além disso, a intensidade de carbono tanto da navegação quanto dos próprios navios precisa declinar (ninguém falou a que taxa).
“A estratégia de redução de emissões da IMO perdeu o bote para a trajetória do 1,5oC. Não há tempo para meias-medidas, compromissos vagos e progresso lento. Precisamos que todos os setores sigam a ciência e aumentem sua ambição para limitar o aquecimento abaixo de níveis catastróficos”, disse Mark Lutes, do WWF, que acompanhou o encontro no Reino Unido.
O setor de navegação internacional responde por 3% das emissões globais de gases de efeito estufa (eram 2,2% quando se começou a discutir metas de redução para ele). Se fosse um país, seria um dos seis ou sete maiores emissores do planeta, no mesmo nível do Brasil. Como suas emissões não pertencem a país nenhum, elas precisam ser reguladas pela IMO, que é um organismo multilateral. O peso do transporte marítimo na economia de todos os países, e a dependência virtualmente completa de combustíveis fósseis para movimentar navios, têm tornado essa regulação especialmente difícil.
Um exemplo dessa dificuldade foi a tentativa de estabelecer, nesta última reunião da IMO, uma taxa sobre as emissões da navegação – que estimulasse o desenvolvimento e a adoção de alternativas tecnológicas de baixo carbono.
A proposta foi a pique, torpedeada pelos países latino-americanos sob liderança do Brasil. Essas nações argumentaram, não sem razão, que uma taxa indiscriminada prejudicaria economias que ficam distantes das grandes rotas de navegação, como a brasileira, e que, também como o Brasil, exportam commodities, produtos volumosos e de pouco valor agregado.
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