Desenvolvendo uma série de ações educativas (rodas de conversa, oficinas e atividades práticas) sob a perspectiva de, a longo prazo, reverter ou amenizar os efeitos negativos das mudanças nos hábitos alimentares e do sedentarismo na aldeia, o Projeto Abahi Tebrezê é uma ação das mulheres indígenas Xavante para o resgate do conhecimento tradicional, por meio da revitalização do cultivo de batatas nativas na reserva Pimentel Barbosa, em Mato Grosso.
Iniciado em 2010, o Projeto Abahi Tebrezê objetiva o fortalecimento da cultura; da segurança alimentar e nutricional; e da gestão territorial do povo Xavante de Pimentel Barbosa.
Inicialmente conduzido pelos homens, no ano de 2017 as mulheres decidiram assumir o protagonismo das ações, argumentado que são elas as mais interessadas na recuperação da alimentação tradicional e no repasse de conhecimentos às meninas e aos meninos da comunidade.
Promoção da alimentação tradicional e saudável
O foco adotado pelas mulheres Xavantes para o desenvolvimento do projeto tem sido a revitalização da produção das batatas tradicionais, em especial a Mo’ôni, promovendo expedições de coleta em diversos pontos do território e o seu cultivo em canteiros localizados perto da aldeia e da escola local.
O Abahi Tebrezê é uma iniciativa inspirada em ações anteriores, como o projeto Dasa Uptabi: De volta às raízes, coordenado pelo analista ecológico Frans Leeuwenberg e que ocorreu entre 2004 e 2007 com a participação de 57 mulheres xavantes das aldeias Tanguro, Papa Mel, Caçula e Pimentel Barbosa.
O projeto Dasa Uptabi nasceu de uma parceria entre as mulheres Xavante e a Sociedade de Proteção e Utilização do Meio Ambiente (PUMA).
Nessa iniciativa, foi praticado o intercâmbio de conhecimento intergeracional entre as anciãs e as jovens Xavantes que, juntas, chegaram a coletar 20 espécies de batatas silvestres que tradicionalmente faziam parte da alimentação do povo; relembraram as formas de cultivo; as características de cada planta; as formas de comer; e as indicações alimentares de cada tubérculo.
Os resultados do Dasa Uptabi podem ser conferidos na cartilha De volta às raízes: Uma tradição A’uwe nunca morre .
Intercâmbio de conhecimentos
A cada ano, por decisão das próprias mulheres Xavante, o projeto Abahi Tebrezê pode envolver também a realização de oficinas de artesanato ou o intercâmbio com outros povos – como ocorreu em 2018 com a visita das mulheres do projeto aos índios Kuikuro, que vivem no Parque Indígena do Xingu. Na ocasião, elas realizaram troca de artesanato e sementes.
Em 2019, o projeto centrou-se na reconstrução do Centro Etnoecológico Ababhi Tebrezê, destruído pelo fogo no ano anterior e localizado às margens do Rio das Mortes. O Centro é um espaço voltado à realização de encontros, reuniões e oficinas.
Para o ano de 2020, as mulheres Xavante manifestaram à Fundação Nacional do Índio (FUNAI) o desejo de promover debates sobre alcoolismo e violência, além de atividades culturais.
Disseminando e fortalecendo os direitos da mulher indígena
O projeto Abahi Tebrezê, além de focar na revitalização da alimentação tradicional, possui um caráter educativo mais amplo, envolvendo o intercâmbio de conhecimentos; o fortalecimento da cultura; a gestão do território; e maior conscientização sobre os direitos das mulheres indígenas da comunidade Xavante.
O projeto conta com o apoio da Fundação Nacional do Índio (FUNAI), sobretudo da Coordenação Geral de Promoção da Cidadania (CGPC) e envolvendo também a Coordenação Geral de Gestão Ambiental (CGGAM) do órgão. Em seu início, houve a importante participação no projeto da Coordenação Geral de Etnodesenvolvimento (CGETNO), também da FUNAI.
Campanha 2019 #MulheresRurais, Mulheres com Direitos
Entre 1 a 15 de outubro, a Campanha #Mulheres Rurais, Mulheres com Direitos promoveu 15 dias de mobilização para valorizar a contribuição das trabalhadoras do campo ao cumprimento dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (DS) relacionados à igualdade de gênero (ODS 5) e ao fim da pobreza (ODS 1) na área rural.
O tema norteador desta quinzena ativista foi: “O futuro é junto com as mulheres rurais”, veiculado nas redes sociais com a hashtag #JuntoComAsMulheresRurais.
O principal objetivo da campanha é destacar o trabalho promovido por pescadoras, agricultoras, extrativistas, indígenas e afrodescendentes.
A campanha no Brasil é coordenada pela Secretaria de Agricultura Familiar e Cooperativismo do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), em parceria com a FAO, a ONU Mulheres, a Reunião Especializada sobre Agricultura Familiar do Mercosul (REAF) e a Direção-Geral do Desenvolvimento Rural do Ministério da Pecuária, Agricultura e Pesca do Uruguai.
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