Em aula concedida na Universidade Nacional Autónoma do México (UNAM), em 30 de outubro, a secretária-executiva da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), Alicia Bárcena, pediu por novos pactos sociais e a revisão das conversações entre Estado, mercado e sociedade.
Bárcena reforçou seu chamado de promoção de uma mudança estrutural para a igualdade e a sustentabilidade ambiental na região. A aula, que aconteceu na Faculdade de Economia da UNAM – universidade na qual ela é doutora honoris causa, foi intitulada “Mudança de época e novo modelo de desenvolvimento: uma interpretação estruturalista”.
No evento, Bárcena afirmou que o desencanto e a raiva latente na região representam um ponto de ruptura à continuidade de um modelo que se associa a três décadas de concentração de riqueza e deterioração ambiental, aliadas a um crescimento que avaliou como “insuficiente”.
“Não somos a região mais pobre, mas sim a mais desigual. Nossa estrutura produtiva é a grande fábrica da desigualdade. As desigualdades têm erodido o contrato social e a democracia. Necessitamos de acordos entre o Estado, o mercado e a sociedade”, pleiteou Bárcena.
Heranças coloniais
A chefe da CEPAL lembrou que a região da América Latina e do Caribe se caracteriza por uma cultura do privilégio, herdada pelos vestígios da colonização, e que naturaliza hierarquias sociais e enormes assimetrias de acesso aos frutos do progresso, à deliberação política e aos ativos produtivos.
“A cultura do privilégio naturaliza as desigualdades, a discriminação, e aborda a justiça – e não a igualdade – com um enfoque assistencialista – e não de empoderamento”, expressou.
Bárcena afirmou que, por uma década, a CEPAL posicionou a igualdade como um fundamento do desenvolvimento, como um princípio ético irredutível, centrado em um enfoque de direitos.
Por um desenvolvimento sustentável
Ela também enfatizou que o “velho paradigma” do desenvolvimento é insuficiente: “não é o suficiente crescer; deve-se crescer para igualar e igualar para crescer”, pontuou.
Durante a palestra, a secretária-executiva da CEPAL assinalou que, para além de seu valor intrínseco, a igualdade tem um papel instrumental de ser impulsionadora do desenvolvimento sustentável, contribuindo para a inovação, aumento da produtividade e sustentabilidade ambiental.
Adicionou que a igualdade não é, somente, um resultado do sistema econômico, mas também uma variável explicativa de sua eficiência a longo prazo. Igualdade, produtividade e democracia são bens complementares estratégicos – e não concorrentes, ainda em um mundo com fortes tensões econômicas, políticas e ambientais.
Alicia Bárcena avaliou que a comunidade internacional tem passado por um processo de aprendizagem e tem chegado ao consenso de que um novo paradigma de desenvolvimento não somente deve apontar para um equilíbrio de renda, mas também fechar uma lacuna social através de uma abordagem de direitos.
Para ela, o novo paradigma de desenvolvimento deve respeitar, também, os limites do planeta e ser consciente dos perigos que envolvem a destruição ambiental como consequência da atividade humana.
“Se a destruição do meio-ambiente é a principal ameaça física à continuidade do desenvolvimento, a desigualdade é seu principal obstáculo ou ameaça política”, ressaltou Bárcena.
Rumo à sustentabilidade
A secretária-executiva da CEPAL acrescentou que as mudanças climáticas são a maior falha do mercado de todos os tempos, porém deve ser abordada, de preferência logo. “Temos que levar nossa economia rumo a um grande impulso em favor da sustentabilidade”, expressou.
Bárcena destacou que a região da América Latina enfrenta três brechas: a do equilíbrio externo, a do equilíbrio social e a do equilíbrio ambiental.
“Para fechá-las e alcançarmos a convergência entre suas taxas de crescimento se requer uma nova economia política e um pacto global”, concluiu.
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