DO OC – “Uma onda de calor monstruosa”, de acordo com os cientistas climáticos Peter Carter , diretor do Climate Emergency Institute e membro do IPCC (o painel do clima da ONU), e Maximiliano Herrera , pesquisador especializado em estatísticas climáticas. As temperaturas recordes que atingiram o continente asiático neste mês de abril causaram mortes, forçaram o fechamento de escolas e afetaram atividades econômicas, como a agricultura e a construção civil, em ao menos seis países.
Índia, China, Bangladesh, Laos, Vietnã e Tailândia foram os mais fortemente afetados pelas temperaturas extremas, que seguiram aumentando até a semana passada. Além desses países, Myanmar, Cambodja e Nepal também foram atingidos.
Na Índia, a onda de calor matou ao menos 13 pessoas que participavam de um evento ao ar livre, na cidade de Navi Mumbai, no último dia 16/4. Um policial da cidade declarou sob sigilo à CNN que entre 50 e 60 pessoas foram hospitalizadas em Navi Mumbai na ocasião. O número de atingidos, no entanto, pode ser muito maior, já que o evento contou com a participação de cerca de 1 milhão de pessoas vindas de diferentes regiões. Acredita-se que muitas delas podem ter buscado atendimento em suas cidades.
Na terça-feira da semana passada (18/4), o Departamento Meteorológico da Índia colocou parte do país em alerta para ondas de calor intensas, com destaque para áreas com preponderância de atividade agrícola e trabalhos que exigem permanência ao ar livre. Escolas foram fechadas por riscos à saúde em diversos estados.
Na China, que em setembro do ano passado enfrentou sua mais longa onda de calor desde o início dos registros, em 1961, novas temperaturas recordes foram atingidas. As regiões de Hangzhou e Nanjing, ao leste do país, e Chengdu, no sudoeste, foram inicialmente as mais afetadas. No último sábado, quatro províncias registraram temperaturas acima dos 39ºC. No dia seguinte, a província de Luodian, no sul do país, viu os termômetros marcarem 40,1ºC , o dia mais quente para o mês de abril registrado na região desde 1958. Os dados foram sistematizados pelo climatologista Maximiliano Herrera.
A capital do Laos, Vientiane, marcou 41,4ºC no último sábado, a temperatura mais alta de sua história. No mesmo sábado, Dhaka, capital de Bangladesh, teve seu dia mais quente em 58 anos, com temperaturas acima de 40ºC que fizeram estradas derreterem .
Na Tailândia, que registrou temperaturas acima de 45ºC (em 15/4, os termômetros chegaram a 45,4ºC em Tak , noroeste do país), foi declarado alto risco para insolação e a população de várias regiões foi alertada a permanecer em ambientes fechados. Segundo as autoridades, há temor de que o calor se prolongue para além dos meses de alto verão, que começa em março no país, ocasionando secas e prejudicando colheitas.
Índia: emergência climática pode barrar metas do desenvolvimento sustentável
Enquanto os termômetros não paravam de subir na Ásia, um estudo conduzido por pesquisadores da Universidade de Cambridge e publicado em 19/4 no periódico PLOS Climate mostrou que as ondas de calor agravadas pelas mudanças climáticas tornaram quase 90% da população indiana mais vulnerável a problemas de saúde pública, contaminações e escassez de alimentos, aumentando o risco de morte.
O estudo “Ondas de calor mortais estão ameaçando o desenvolvimento sustentável na Índia” (em tradução livre do inglês) apontou, ainda, que o indicador utilizado pelo governo do país (Climate Vulnerability Indicator) para medir a vulnerabilidade climática e elaborar políticas de adaptação não considera o risco físico provocado por ondas de calor, o que seria um fator-chave para analisar o real impacto da emergência climática para a população.
A pesquisa incluiu em sua análise um “índice de calor”, mensurando as respostas do corpo humano ao aumento vertiginoso de temperatura e umidade, e sugere que o índice atualmente utilizado para a elaboração de políticas públicas na Índia subestima os principais riscos e ameaças causadas por ondas de calor.
Segundo o time de pesquisadores, liderado por Ramit Debnath, as ondas de calor que se agravam na Índia por causa das mudanças climáticas podem impedir que o país atinja os objetivos do desenvolvimento sustentável pactuados pela ONU. O país se comprometeu com as 17 metas estabelecidas, incluindo a erradicação da pobreza, saúde e bem-estar e a fome zero e agricultura sustentável.
Como sugestões , a pesquisa apresenta a necessidade de ação politica para melhorar a medição da vulnerabilidade climática; elaborar ações de prevenção ao superaquecimento em habitações da população de baixa renda; o estabelecimento de parcerias com países vizinhos para adaptação às ondas de calor; e a necessidade de aprendizado a partir das experiências de outros países para combater ondas de calor, como a Austrália, o Reino Unido, os Estados Unidos e a União Europeia. “Se o impacto [das ondas de calor] não for enfrentado imediatamente, a Índia pode retardar seu progresso em direção aos objetivos do desenvolvimento sustentável”, reforçam os autores. (LEILA SALIM)
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