Estou imensamente feliz e aliviada com o resultado das eleições!
Ontem pela manhã foi tranquilo. Demos carona para umas amigas que votam na mesma seção eleitoral que a gente. Não tinha quase nada de fila. Tudo muito rápido. Ainda assim, como que para comprovar o boato que os bolsonarentos lotaram as seções de mesários e fiscais para tumultuar as eleições, um fiscal cismou porque, depois de votar, eu tirei fotos na UFC, como sempre faço. Desde quando isso é proibido? Já no primeiro turno um outro fiscal de verde e amarelo reclamou da minha bandeira.
Mas o pior estava por vir. Ao chegar em casa, vi vários relatos no Twitter de pessoas que estavam sendo impedidas de ir ao seu local de votação pela Polícia Rodoviária Federal, algo que nunca vi numa eleição: estradas bloqueadas. Na véspera, o presidente do TSE Alexandre Moraes havia proibido a PFR de realizar essa operação no dia do segundo turno. O diretor da PRF não só descumpriu a decisão como também, para provocar, colocou seu apoio à reeleição de Bolso nas suas redes sociais.
Quase metade de todas as operações rodoviárias foram feitas no Nordeste. Coincidência que é bem aqui que Lula tem sua maior base eleitoral, né? Logo ficamos sabendo que essa operação começou a ser articulada na noite de 19 de outubro no Palácio da Alvorada. Foi tudo premeditado, feito para aumentar as abstenções no Nordeste. Como se chama impedir eleitor de votar? É golpe!
Durou várias horas. Xandão deu uma declaração oficial só à tarde, que foi quando o diretor da PRF finalmente decidiu cumprir sua ordem e parar com a operação. Felizmente, o ministro acabou tomando a decisão acertada, fingindo que as eleições estavam correndo tranquilamente e desprezando o pedido de estender o horário das urnas no Nordeste (que daria chance para Bolso contestar o resultado depois). golpe não funcionou, os eleitores foram votar, e as abstenções até acabaram sendo um pouquinho mais baixas que no primeiro turno. Ainda assim, foi uma tentativa de fraudar as eleições. Espero que haja investigação e que os responsáveis (e seus mandantes ) sejam punidos.
Detalhe: hoje caminhoneiros apoiadores de Bolso fecharam as estradas em várias partes do país para tentar um golpinho básico e típico. A PRF, intitulada desde ontem a Gestapo de Bolsonaro, não está interferindo.
Mas voltando ao dia histórico que foi ontem, às 17 horas começou a apuração. Bolso saiu na frente, como esperado, mas com uma margem menor que no primeiro turno. No dia 2, pareceu que levou uma eternidade para Lula virar (e ganhar com 48,43%, contra 43,20% de Bolso). Se seguisse o mesmo ritmo, a virada só viria com 88% das urnas apuradas. Mas veio bem antes, com 67,76% das urnas. Alívio total e grande comemoração nessa virada.
O resultado final foi apertado, aliás, o mais apertado desde a redemocratização: Lula acabou com 50,9% dos votos válidos, contra 49,1% de Bolso. Ambos bateram todos os recordes de votos: Lula teve 60.345.999 votos, e Bolso, 58.206.354. Admito que só me tranquilizei no finalzinho, quando Lula passou Bolso em Minas Gerais e no Amazonas. Os dois estados têm a tradição de sempre votarem no vencedor.
Lógico que o Nordeste, a região que vota melhor no Brasil, foi a grande fiadora de Lula mais uma vez. Em quatro de seus nove estados (Piauí, Paraíba, Sergipe e Ceará), Lula ganhou em todas as cidades (aproveitando: este mapa é demais. Você procura uma cidade e vê como foi a votação nela). O Piauí foi o estado que mais deu votos a Lula (77%), seguido por Bahia e Maranhão. O que menos deu votos foi Alagoas, e mesmo assim foram 59% pra Lula. Haddad teve um pouquinho a mais de votos no Nordeste em 2018 do que Lula agora, mas a diferença é minúscula.
Mas não dá pra parabenizar só o Nordeste pela eleição de Lula. São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, nessa ordem, são os três maiores colégios eleitorais do Brasil. Em 2018 Bolsonaro teve quase 66% dos votos válidos nesses três colégios. Agora foram “apenas” 54%. Ou seja: Bolso ainda ganhou lá, mas por uma diferença muito menor. Foram 5,4 milhões de votos a menos que o Capetão recebeu no Sudeste em 2022. Ah, e São Paulo, capital, deu vitória a Lula (e a Haddad), algo que nem Rio nem Belo Horizonte fizeram.
Mas é inegável que o placar foi apertadíssimo. Se, no primeiro turno, a diferença foi de 6 milhões de votos a favor de Lula, no segundo essa diferença caiu para pouco mais de 2 milhões. Em outras palavras: se faltou 1,8 milhão de votos pro Lula ganhar já no primeiro turno, faltaram 2,1 milhões pro Bolsonaro se reeleger. Uma miséria.
Foi por um triz, o que mostra que, se não fosse Lula o candidato, Bolso teria ganhado. E digo mais: teria ganhado já no primeiro turno! Lula disputou contra o maior esquema de compra de votos da história (Bolso deu o Auxílio Brasil de R$ 600 a poucos meses do pleito, e com data pra terminar; deu vale-gás, deu abono a taxistas, motoristas de Uber, deu vale-diesel a quase um milhão de caminhoneiros, baixou a gasolina etc. Uma grande festa com data de validade próxima!).
Pra quem não sabe, há uma série de regras para tentar impedir que um chefe do executivo (prefeito, governador, presidente) tenha ampla vantagem contra seus concorrentes (não funciona direito: quem está no poder vai ficar inaugurando obras e se valendo da máquina). Por exemplo: aprovados em concursos públicos não podem ser nomeados durante os três antes das eleições até a posse (no caso, entre início de julho e 1 de janeiro de 2023). Mas Bolso conseguiu passar um pacote de bondades de bilhões de reais graças a um Congresso comprado com o orçamento secreto, vulgo Bolsolão, a menos de 3 meses da eleição.
E olha só a prova de como os pobres, principalmente os do Nordeste, são inteligentes: eles não se deixaram comprar. Avaliaram que Bolso nada fez por eles em quase quatro anos de governo, e que a PEC era meramente eleitoreira. E continuaram votando em Lula. Mas, pra não dizer que a PEC Kamikaze foi de todo ineficaz, ela quase que com certeza comprou um segundo turno pro Capetão. Sem ela, Lula teria tido o 1,8 milhão de votos que faltaram no dia 2.
Enquanto Lula fez discursos lindos e inspiradores, prometendo unificar o país e governar para todos os brasileiros, não só para os 60 milhões que votamos nele, Bolso se escondeu no Palácio da Alvorada. Seguindo à risca seu estilo golpista de quem odeia a democracia, ele foi o único a não reconhecer o resultado, parabenizar o vencedor, ou pelo menos agradecer seus eleitores (compare: o governo dos EUA reconheceu a vitória de Lula meia hora após o final da apuração). E, com isso, permite que seus seguidores fanáticos — muitos deles armados — continuem a brincar de golpe.
Em agosto do ano passado, Bolso declarou ter três alternativas para o seu futuro: estar preso, estar morto ou a vitória. A vitória não veio. Eu prefiro a primeira alternativa pra ele, se eu posso escolher. Já Lula disse em abril de 2018, pouco antes de ser preso: “A partir de agora, se me prenderem, eu viro herói. Se me matarem, viro mártir. E se me deixarem solto, viro presidente de novo”.
Profético, esse Luís Inácio Lula da Silva.
O post “A GRANDE VITÓRIA DE LULA. E DO BRASIL” foi publicado em 31st October 2022 e pode ser visto originalmente na fonte Escreva Lola Escreva