Desculpem o sumiço, trabalho demais…
Portanto, quem foram os grandes derrotados dessas eleições? Vamulá:
O PSDB
Pela primeira vez desde sua fundação, o PSDB não disputou a presidência. Não elegeu nenhum governador, embora vá disputar o segundo turno em quatro estados (nos quatro, os candidatos tucanos estão atrás). Elegeu 54 deputados para as assembleias legislativas, o que não está tão ruim. Não elegeu nenhum senador (mas ainda tem quatro lá por mais 4 anos). Sua bancada foi reduzida de 22 deputados federais para 13. Aécio continua sendo uma das lideranças, e foi reeleito deputado federal, mas com 20 mil votos a menos que em 2018. José Serra, nome histórico do partido, não conseguiu se eleger deputado. Só pra ter uma ideia da decadência: em 1998, quando FHC se reelegeu, o PSDB elegeu 99 deputados federais. Agora tem 13, já falei?
Mais um fracasso: depois de quase trinta anos de domínio total, perdeu o estado de São Paulo, e perdeu feio — sem disputa no segundo turno. E com o governador tucano apoiando Bolso, o que fere de morte qualquer história progressista do PSDB!
Como disse o grande Guilherme Boulos no Roda Viva: “essa direita tradicional foi tragada e engolida pelo monstro que eles criaram, chamado Bolsonaro. Soltar pitbull é muito fácil, prender depois é que é o problema”. Lembrei desta linda charge da Laerte:
Tasso Jereissati, tucano do Ceará, falou em setembro que os maiores erros foram Aécio questionar ter perdido pra Dilma em 2014, o PSDB votar contra seus princípios só por ser contra o PT, e fazer parte do governo Temer: “Fomos engolidos pela tentação do poder”. Também foi uma história de traições: Alckmin trouxe Dória, que o traiu; Dória trouxe Garcia, que o traiu. “Agora, Garcia trai a cúpula tucana, fecha a tampa do caixão e irá embora antes de apagar a luz”, escreve João Filho num ótimo artigo pra Intercept Brasil.
Não gosto muito de decretar morte de partidos, porque muita gente já fez velório pro PT e quebrou a cara, e eu imaginei, uns anos atrás, o fim do DEM, mas ele se uniu ao PSL e virou o União Brasil, um partido de direita bem forte. Mas que o PSDB vai ter dificuldade pra se recuperar, não há dúvida. E ainda que tudo que tenha acontecido com o partido seja merecido, não dá pra comemorar. A extrema-direita é muito pior que a direita. Bolso é muito pior que qualquer tucano.
Continua com apenas um prefeito (de Joinville) e um governador (de Minas). Não atingiu a cláusula de barreira . Isso quer dizer que, na próxima eleição pra presidente, um liberal inútil como Felipe D’Ávila, que teve só 0,47% dos votos válidos, não seria chamado pros debates presidenciais pra falar suas barbaridades (a iniciativa privada é fantástica, o Estado é terrível — tem que ter coragem pra continuar falando isso depois de uma pandemia. Se dependesse dos empresários, estaríamos todos mortos).
Os números falam por si: Ciro foi de 12,47% dos votos em 2018 para 3,04% agora. E, talvez ainda pior: aumentou seu índice de rejeição para 54%. Convenhamos, você tem que fazer algo muito errado pra ser tão rejeitado quanto um fascista responsável pela morte de quase 700 mil brasileiros. Diante desse desastre, o PDT, fiador do poço de rancor chamado Ciro, até que não se saiu tão mal: foi de 19 deputados federais para 17. Mas o partido lançou onze candidatos para governador, e não só não elegeu nenhum , como nenhum foi ao segundo turno. Nenhum senador foi eleito.
A campanha de Ciro realmente foi um desastre. Bateu tanto em Lula (quando deveria ter batido em Bolso, o segundo colocado e inimigo-mor da democracia) que teve suas peças usadas por bolsonaristas e foi chamado de linha auxiliar do bolsonarismo. Até funcionou: boa parte de seu eleitorado votou em Bolso no primeiro turno. Mas é triste ver o “voto útil” de muitos eleitores de um partido que se diz de centro-esquerda irem pra extrema-direita. Lógico, Ciro e o PDT vão culpar o PT, como sempre. Autocrítica não é com eles. Mas parece que Ciro coloca suas preferências (avalia que é melhor pra sua candidatura em 2026 que Bolso se reeleja e continue fazendo um governo hediondo) que o bem-estar do Brasil.
Por pura pirraça e teimosia, Ciro perdeu o domínio da família Gomes no Ceará! Brigou com os irmãos, isolou-se, rompeu a aliança que tinha com o PT no estado. “Ainda é um partido grande aqui no estado do Ceará. No Brasil, sofreu uma redução muito grande “, afirma o deputado federal reeleito Idilvan Alencar, do PDT. Candidato de Ciro, Roberto Claudio acabou ficando em terceiro, com apenas 14% dos votos válidos, contra 32% do capitão bolsonarento e 54% de Elmano Freitas (PT), que surpreendentemente venceu no primeiro turno. O ex-prefeito de Fortaleza ganhou em apenas um dos 184 municípios do estado (Pires Ferreira). O nome mais forte do estado hoje é o ex-governador Camilo Santana (PT), eleito senador com 70% dos votos.
Tudo bem, as pesquisas erraram menos que os bolsominions, que juravam que seu mito seria reeleito no dia 3 com 60% dos votos. E o problema não foi tanto com a votação de Lula — as pesquisas davam a ele cerca de 50% e indicavam que poderia haver segundo turno –, mas com a de Bolso, muito superior ao previsto.
E as pesquisas não erraram só pra presidente (o que pode ter ajudado Bolso: deram tanta vantagem pro Lula que vários eleitores conservadores não bolsonaristas podem ter votado no Coisa Ruim só pra evitar que Lula vencesse no primeiro turnos). As pesquisas previam 44% pro governador do Rio Claudio Castro (PL). Ele foi reeleito no primeiro turno com 58%. Pro senado, então, nem se fala. Erraram praticamente todas as previsões em 2018, e voltaram a errar agora em 2022. As intenções de voto para senadores chegaram a variar 20%, em alguns casos.
Os diretores dos institutos de pesquisa se defendem . Dizem que pesquisa é só um retrato do momento, que não é prognóstico, só aponta tendências. Certo. Mas se pesquisa não serve pra captar o voto envergonhado em Bolso, o antipetismo, e muito menos as abstenções, serve pra quê? (e isso quem tá falando é a filha de um cara que trabalhou boa parte de sua vida com pesquisa — de mercado, não eleitoral, mas ainda assim, pesquisa).
Lógico que não concordo com o que o pior governo de todos os tempos quer fazer com os institutos. Já tem bolsonarento desejando CPI das pesquisas. O Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), que responde ao Ministério da Justiça, abriu investigação contra Ipec, Datafolha e Ipespe, às quais acusa de atuar como um cartel para manipular as eleições. Tudo isso faz parte do plano golpista de Bolso de intimidar os institutos de pesquisa e poder contestar o resultado eleitoral se Lula ganhar. O que vale pra ele, afinal, é o “DataPovo” (tipo ontem e hoje no Recife?).
Não creio de maneira alguma que as pesquisas erraram de propósito ou que são compradas (muitas são ; fazer pesquisa custa caro, o que não quer dizer que os resultados são manipulados). Mas as pesquisas definitivamente demonstraram suas limitações e indicaram que não podem ser vistas com tamanha importância. Não deveriam nunca pautar a cobertura eleitoral da mídia. E o clima de “já ganhou” é sempre ruim pra quem é da militância.
O post “OS MAIORES PERDEDORES DAS ELEIÇÕES DE 2022” foi publicado em 14th October 2022 e pode ser visto originalmente na fonte Escreva Lola Escreva