Ontem eu vi a
entrevista inteira (40 minutos) que o pior presidente de todos os tempos deu ao
Jornal Nacional. Foi a primeira das sabatinas. Hoje é a vez do Six Gomes. Quinta é o Lula.
Pelo que constatei nas redes sociais, teve muita gente de esquerda que deixou o ódio à Globo falar mais alto e pelo jeito se distraiu. Disse que foi uma conversa de comadres, que foi tudo acertado, que William Bonner e Renata Vasconcellos deixaram Bolso mentir à vontade e não fizeram nenhuma pergunta difícil ou importante… Acho que não viram a mesma entrevista que eu.
Na entrevista que vi, o tom dos entrevistadores foi hostil desde o início, e o psicopata do planalto foi massacrado. Não que isso seja muito difícil, pois tá pra nascer um orador pior, mais incompetente, arrogante e mentiroso. O
Estadão, aquele da escolha muito difícil, contou três mentiras por minuto, mas confio mais no levantamento de
uma mentira por minuto . Ele não foi desmentido todas as vezes, mas foi em várias. Tem gente que fica esperando que, no momento da mentira, a TV coloque no ar a prova de que é mentira. Mas não é bem assim o jeito que as entrevistas funcionam, principalmente as que são ao vivo.
Pra quem tem dúvida se Bolso se saiu mal, é só ver a reação dos bolsonarentos, que reclamaram da cara de cínico do Bonner. O âncora começou perguntando sobre por que o presidente xingou ministros do STF. Bolso disse que isso era fake news, que ele não xingou. Mas sabemos que o
Capetão chamou Alexandre de Moraes de “canalha” e Luís Roberto Barroso de “filho da p*ta”. Ele se embananou e não soube responder,
apenas balbuciar “você falou ministros, não ministro”.
Em seguida, Bonner questionou os ataques que Bolso vem fazendo à democracia, e pediu um compromisso público de que o resultado das urnas seria respeitado, independente do vencedor. O golpista não conseguiu mentir sobre isso (o que já diz muito — ele mente sobre tudo, exceto que não dará golpe). Emendou com um “desde que as eleições sejam limpas e transparentes”. E quem decide se a limpeza e transparência das eleições? Ele, claro! Na sua falta de comprometimento, deixou evidente que não aceitará a vitória de Lula.
Outra falta de comprometimento surgiu com a pergunta da Renata, que acabou sendo o ponto que mais repercutiu de toda a entrevista. A troca foi mais ou menos assim: “Você se arrepende de ter imitado pessoas com falta de ar?” Bolso: “Eu não imitei”. Renata: “
Sim, imitou. Se arrepende?” (silêncio) Bolso: “Vamos mudar de assunto?”
Teve muita gente no Twitter que opinou que lembrar Bolso zombando da falta de ar de pacientes com covid não tira voto dele. Preferem que as entrevistas foquem no Queiroz, nas rachadinhas, no cheque de 89 mil… Tudo assunto batido de três ou quatro anos atrás! Pra piorar, ao insistir em temas passados (e que não ocorreram durante seu governo), ficamos com a impressão de que não há corrupção no governo Bolsonaro, que é justamente o que ele quer que acreditemos!
Não é questão de opinião. Há pesquisas qualitativas que mostram que uma das piores coisas que Bolso fez foi imitar falta de ar de gente morrendo. Por exemplo, numa discussão em grupo , concluiu-se: “A cena do presidente Jair Bolsonaro no auge da pandemia imitando um paciente com falta de ar depois de dizer ‘todos vamos morrer’, foi o que mais provocou reações negativas em grupos de eleitores”. Lembram de uma pastora, ex-apoiadora do genocida, que pediu desculpas publicamente após a imitação grotesca? Pois é. Quem acha que a pandemia não será muito explorada durante a campanha não está entendendo o jogo direito. São os quase 700 mil mortos, resultado da gestão desastrosa de Bolso, que mais impedem as mulheres de votar no Capetão. Por isso, a pergunta de Renata foi a mais bombástica pra Bolsonaro, do ponto de vista eleitoral.
Rapidamente a frase “falta de ar” virou uma das mais procuradas nos sites de busca. Por incrível que pareça, muita gente não sabia de mais essa barbaridade do genocida. Ele imitou pessoas com falta de ar nas suas lives em 18 de março de 2021 e 6 de maio de 2021. Desesperado com a repercussão negativa, ele agora deu a explicação oficial pra imitação: não era deboche, era uma denúncia do protocolo Mandetta, “que só recomendava ir ao hospital após sentir falta de ar. Foi justamente o contrário: eu defendi essas pessoas. Quem mandou ficar em casa é que desprezou suas vidas”. Só sendo muito bolsominion pra acreditar numa cretinice dessas.
Entre outras mentiras e baboseiras, Bolso afirmou que virar jacaré faz parte da literatura portuguesa, que escalou ministros seguindo critérios (mencionando um “padrão Marcos Pontes, padrão Salles” de competência, ao mesmo tempo que, para tentar explicar os cinco ministros absurdos no Ministério da Educação, disse “as pessoas se revelam quando chegam”), culpou Sérgio Moro pela interferência na polícia federal, e os ribeirinhos e o Ibama pela destruição da Amazônia!
Numa resposta ensaiada, parece ter agradado sua bolha. Bonner apontou que ele se elegeu prometendo uma nova política e xingando o Centrão, e hoje governa com o Centrão. Bolso respondeu acusando Bonner de querer que ele seja ditador para governar sem o apoio do Congresso. Nesse quesito, faltou perguntar sobre orçamento secreto. E óbvio que muitas questões fundamentais, como a volta do mapa da fome, ficaram de fora.
Em seguida, no
Jornal da Globo , Renata Lo Prete vaticinou que a negativa de Bolso sobre imitar pacientes com falta de ar foi sua mentira mais flagrante na entrevista do JN, mas que houve
várias outras , como a insistência num tratamento precoce que nunca existiu, ou que o governo foi rápido em providenciar oxigênio pra Manaus, ou sobre as urnas eletrônicas (a
Isabella elencou
algumas das muitas mentiras do seu Jair).
Como Lo Prete conclui, houve um “apagão do presidente diante de todas as perguntas que exigiam dele dizer o que pretende fazer com o país se for reeleito”. Sim, ele não aceitou se arrepender por imitar pessoas com falta de ar, nem afirmar sem meias palavras que respeitará o resultado das eleições. Resta saber se os que ainda estão indecisos ou pretendem anular o voto perceberam não só o embuste que é seu Jair, mas também a destruição e o perigo que ele representa.