Na madrugada de sábado para domingo aconteceu algo gravíssimo: o primeiro assassinato político na campanha eleitoral de 2022 (que, em tese, ainda nem começou). Tivemos outros episódios recentes — um drone lançando veneno num comício do Lula em Uberlândia, uma bomba de bosta num comício também do Lula na Cinelândia, no Rio. Em todos os casos, os terroristas eram bolsonaristas, que coincidência!
Numa associação em Foz do Iguaçu, Paraná, Marcelo Arruda, um guarda municipal que também era tesoureiro do PT na cidade e havia sido candidato a vice-prefeito nas eleições de 2020, comemorava seus 50 anos de vida com a família e amigos numa festa temática , torcendo para que Lula Lá seja eleito. Às 11 da noite, um desconhecido, o agente penitenciário José da Rocha Guaranho, 38 anos, parou o seu carro, que tocava músicas enaltecendo Bolso, em frente à festa. Não satisfeito com o barulho produzido, Guaranho (no carro também estavam sua esposa e um bebê) começou a gritar “Aqui é Bolsonaro, p*rra!, “Mito”, “Lula ladrão”, e outras coisas estúpidas do gado. Marcelo saiu da festa e Guaranho mostrou sua arma. Já ia atirar, mas sua mulher o convenceu a ir pra casa. Ele prometeu voltar.
Marcelo disse aos amigos, “Vai que esse maluco volta mesmo?”, e foi ao seu carro pegar sua arma. Pamela, sua esposa, também policial (investigadora da Polícia Civil do Paraná), não acreditou que o bolsonarista retornaria. Mas 15 a 20 minutos depois, Guaranho de fato voltou. Pamela mostrou seu distintivo, Marcelo disse que era policial, mandou-o embora. Guaranho começou a atirar e acertou a perna de Marcelo, que caiu. Quando ele se aproximou para executá-lo a queima-roupa, Pamela, desarmada, heroicamente, conseguiu derrubar Guaranho, que atirou, mas errou o alvo. Foi o tempo que Marcelo teve para se autodefender e atirar no bolsonarista. No dia de seu aniversário, Marcelo morreu no hospital.
Na arma de Guaranho havia ainda onze balas. Todas as testemunhas afirmam que, se não fosse por Marcelo, o bolsonarista teria matado muito mais gente. Um dos quatro filhos de Marcelo disse que o assassino gritou que iria matar todo mundo.Tudo indica que teria havido um massacre se não fosse por Pamela e Marcelo. O boletim de ocorrência confirma que o assassino tinha munição suficiente para uma chacina.
De cara, na manhã de ontem, a polícia divulgou que tanto Marcelo quanto Guaranho haviam morrido. Toda a mídia noticiou isso, de uma forma um tanto bizarra. Alguns exemplos:
Folha de SP: Petista é assassinado no PR, e PT fala em crime de ódio por bolsonarista
Estadão: Guarda municipal é assassinado em festa com tema do PT no PR e partido acusa bolsonarista
Poder360: Eleições 2022 no Br: Bolsonarista e lulista morrem em troca de tiros no PR
Estadão: Guarda municipal é assassinado em festa com tema do PT no PR e partido acusa bolsonarista
Poder360: Eleições 2022 no Br: Bolsonarista e lulista morrem em troca de tiros no PR
Sabe o manjado doisladismo? Aquilo que os dois lados são extremistas, que a polarização provoca isso? Foi esse o tom dado pelos jornais e pela maior parte dos políticos (menção honrosa para Ciro e seus robôs, que aproveitaram o dia para tentar conseguir uns votinhos em cima do terrorismo político). Essa narrativa mentirosa foi ajudada pela mentira de que Guaranho estava morto. Não estava . Está no hospital, em estado grave, porém estável. A informação que ele vive só foi corrigida no final da tarde de ontem.
Aliás, a primeira nota da Polícia do PR foi um festival de desinformação que precisa ser cuidadosamente analisada: dizia que “tratou-se de uma discussão em uma festa de aniversário de um guarda municipal. As vítimas são um GM e um Policial Penal Federal. Ambos entraram em óbito”. Foi isso, né? Uma discussão boba numa festa. Não um crime político em que um dirigente local de um partido de oposição foi morto por um policial que postava foto do seu encontro com o filho do presidente e fazia arminha até debaixo d’água.
Depois ficamos sabendo que a delegada responsável pela investigação do caso também é bolsonarista. Nas suas redes sociais, havia várias postagens contra Lula . Em ato falho, a delegada chamou o assassino de vítima. E estamos falando do Paraná, aquele estado que ainda não investigou os tiros à caravana de Lula em março de 2018. A delegada foi trocada. Não me espantaria se outra bolsonarista assumisse.
Assim que saiu a notícia, o Gabinete do Ódio se encarregou de criar fake news. Tipo: o assassino tinha problemas mentais (ainda era dado como morto), logo, não teve nada a ver com política. Ou: foi queima de arquivo, pois Marcelo sabia demais sobre o PT (boa essa: um bolsonarista mata um petista que iria abrir a boca contra o PT).
Mas a versão oficial do governo genocida parece ser de que foi uma briguinha à toa (por trás dos panos, os influencers e robôs bolsonarentos se encarregam de culpar a vítima, claro). Foi isso que disse o vice, o milico Mourão, ao alegar que casos assim acontecem todo final de semana , dois caras que bebem e brigam, e que não se deve fazer exploração política em cima de um… crime político. O podre do Bolso falou o mesmo no cercadinho.
A verdade é que bolsonarismo mata , como já ficou evidente na campanha de 2018. Temos um presidente genocida, psicopata, miliciano, que, além de ameaçar com golpe militar toda semana, sempre teve um discurso ultraviolento. Na live da semana passada, o excrementíssimo disse: “Nós sabemos o que temos que fazer antes das eleições”. Dois dias depois, um de seus seguidores mostrou que sabe e que entendeu o recado: entrou numa festa petista disposto a matar todo mundo, inclusive crianças e bebês ali presentes. Pouco tempo antes, o presida declarou sobre um agrupamento de eleitores do PT: “o bom é que uma granadinha mata todo mundo”. Aquela imagem de um comício do Acre em 2018 em que ele grita “Vamos fuzilar toda a petralhada” já entrou pra história. Mas há inúmeros exemplos. E toda semana o mandante fornece mais um.
Todos nós temos muito medo do que pode acontecer com Lula. Afinal, o miliciano sabe que vai perder a eleição e que ele e seus filhos corruptos podem ser presos depois. Farão o que puderem para evitar isso. E seus seguidores andam armados. Alguém vai me convencer que um bolsonarista como Guaranho não poderia invadir um comício do Lula e matá-lo lá mesmo? Cada vez que algum apoiador do genocida me deixa um recado do tipo “Lula não pode sair na rua”, eu vejo como ameaça.
O assassinato de Marcelo nos deixa tão mal não só por ser uma constatação de que o Brasil apodreceu totalmente sob o regime Bolsonaro, mas porque nos lembra da nossa fragilidade. Já se perguntou por que vemos tão poucos adesivos de Lula nos carros, ainda que ele seja favorito a ganhar no primeiro turno? É porque sabemos que o outro lado anda armado e quer sim nos matar. O assassinato de Marcelo nos lembra que não vivemos numa democracia e que estamos órfãos da justiça.
Dá uma sensação de desespero, de salve-se quem puder. De que eles vão nos matar e ainda jogar a culpa na gente.
O post “DISCURSO DE ÓDIO DE BOLSONARO MATA O PETISTA MARCELO” foi publicado em 26th julho 2022 e pode ser visto originalmente na fonte Escreva Lola Escreva