DO OC – Amazon, Nestlé, Google e outras multinacionais não estão cumprindo suas próprias metas de combate às mudanças climáticas e “greenwashing” e estão divulgando dados exagerados ou distorcidos sobre seus progressos na redução de emissões de gases de efeito estufa. A conclusão é do relatório Corporate Climate Responsibility Monitor , publicado nesta semana pelas organizações não-governamentais The New Climate Institute e Carbon Market Watch.
De acordo com o estudo, que analisou 25 empresas globais, os compromissos climáticos de “zerar emissões líquidas” correspondem, na verdade, a projetos de redução de gases média de apenas 40% – muitas vezes “a décadas de distância” – e não de 100%. Os autores apontaram ainda que muitas alegações de neutralidade climática reivindicadas como concretizadas pelas multinacionais referem-se na realidade a futuras reduções de emissões, e que, para distorcer dados, as empresas recorreram a estratégias típicas de greenwashing, como distorção ou omissão de dados.
Para chegar a essas conclusões, o relatório avaliou, através de um conjunto de indicadores qualitativos e quantitativos, os compromissos climáticos das multinacionais e classificou o grau de “integridade” de cada uma delas por meio de critérios de transparência e confiabilidade. Esses compromissos haviam, em sua maioria, sido chancelados pela Science-Based Targets Initiative (SBTi) como compatíveis com o objetivo do Acordo de Paris de limitar o aumento da temperatura global a 1.5°C ou abaixo dos 2°C com relação aos níveis pré-industriais. A SBTi é uma iniciativa composta por um grupo de trabalho de várias organizações sem fins lucrativos que busca alinhar os compromissos corporativos com a ciência do clima. O Corporate Climate Responsibility Monitor, no entanto, encontrou um cenário bem diferente.
Amazon, Google e Volkswagen estavam entre as grandes empresas classificadas com “baixa integridade” na meta de zerar emissões, enquanto Unilever, Nestlé e BMW Group “tiveram integridade muito baixa”. Nenhuma das principais multinacionais apresentou alta integridade. A Maesrk, empresa dinamarquesa de transporte de mercadorias, saiu no topo com “integridade razoável”, segundo o relatório, seguida pela Apple, Sony e Vodafone com “integridade moderada”.
De acordo com os autores do relatório, parte do problema é como essas empresas avaliam as suas emissões. Oito delas, por exemplo, excluem as chamadas emissões upstream e downstream na sua cadeia de valor, que são por atividades indiretamente ligadas às suas operações e correspondem a mais de 90% do carbono que as empresas produzem.
“Apenas 3 das 25 empresas (Maersk, Vodafone e Deutsche Telekom) claramente comprometeram-se com a descarbonização profunda de mais de 90% de suas emissões em toda a cadeia de valor”, apontou o documento.
“Os anúncios enganosos das empresas têm impactos reais nos consumidores e formuladores de políticas. Somos enganados ao acreditar que essas empresas estão tomando medidas suficientes quando a realidade está longe disso”, afirmou em comunicado Gilles Dufrasne, do Carbon Market Watch, um dos colaboradores do relatório.
Após a divulgação do documento, diversas empresas avaliadas emitiram notas defendendo seus compromissos climáticos e alegando imprecisões no relatório.
O post “Multinacionais falham em seus compromissos climáticos, diz relatório” foi publicado em 10th February 2022 e pode ser visto originalmente na fonte OC | Observatório do Clima