Quando meu filho ainda estava na barriga, eu já havia decidido que o português faria parte da vida dele. Desde lá falo cotidianamente minha língua materna com ele, e faço videochamadas diárias com meus pais, para que ele possa se familiarizar com o idioma.
Mas não sentia que era o bastante. Quem conhece minha história de vida e o trabalho com meio ambiente que desenvolvi durante todo o meu percurso profissional, sabe o quanto sou apaixonada pela biodiversidade brasileira. Ele também já se mostra um amante da natureza e, sendo assim, resolvi unir três dos nossos amores – ambiente, música e literatura – para fazê-lo conhecer um pouco mais das nossas origens.
“A dança do peixe boi, quero ver quem sabe dançar… Rebola pra lá, rebola pra cá e abre a boquinha assim: me dá um beijinho e nada um pouquinho, depois dá a mão para mim”. (Palavra Cantada)
Através de livros e canções, ele começa a descobrir a existência de animais que nos são familiares, como o jacaré, o tuiuiu, a capivara, a onça, o peixe-boi… Além disso, sabe como é uma mangueira, um açaizeiro, ou mesmo uma bananeira, árvores que a maioria dos seus conterrâneos italianos nunca nem tiveram a oportunidade de ver. Outro dia mesmo um adulto italiano me perguntou se a manga dava em uma palmeira! Parece um questionamento surreal para uma carioca que andou metade da vida pelos túneis de mangueira de Belém do Pará e passou alguns anos pelos seringais do Acre, mas se teve algo que as andanças pelo Brasil e pelo mundo me ensinaram é que toda chance de falar da nossa cultura e biodiversidade é válida e deve ser aproveitada.
Despertando curiosidades
Uma coisa interessante no meu filho é como ele adora mapas, especialmente quando relacionamos os animais que tem em cada parte do mundo. Aproveitei essa paixão e coloquei um adesivo de mapa-múndi na parede do quarto dele, e virou uma ferramenta pra mostrar um pouco da fauna brasileira. Lá tem tamanduá, ema, macaco-prego, peixes, borboletas, e de quebra ele já reconhece onde é o país em que vivem a vovó e o vovô (o “Basil”).
Meu filho adora fazer trilhas em bosques e florestas, brincar com terra, areia, insetos, rolar na grama, regar as plantas, interagir com os bichos, colher frutos e bolotas pelo chão… Felizmente temos o privilégio de ter jardim em casa, e de vivermos perto da praia, de um bosque (onde passamos todo dia no caminho pra escola) e de uma reserva natural do WWF Itália, então não falta lugar pra satisfazer essa necessidade dele de natureza, de vida!
Aqui perto de casa a gente tem a macchia mediterrânea (que é justamente o bioma em que o Oasi WWF trabalha na conservação). As árvores são sempre verdes, tem muito arbusto, o verão é quente e seco e o inverno é leve e chuvoso. É o bioma do litoral da Itália, e justamente por ser no litoral sofre muita depredação, especialmente no verão, claro.
Eu olho pra ele fazendo isso tudo e minha imaginação nos porta aos varadouros, seringais, igarapés amazônicos, às trilhas da Mata Atlântica, à Zona da Mata, às árvores tortas do Cerrado… Ele acabou de fazer dois anos e ainda não pôde ir ao Brasil (maldita pandemia!). No entanto, continuo tentando acreditar que logo poderemos ver juntos todos esses biomas que moram no meu coração e procuro mostrar pra ele as nossas raízes, o que está acontecendo com nosso país e com a nossa natureza. Tenho esperança de que mais pra frente esse conhecimento pode ser útil e, quem sabe, ele até faça a diferença na nossa luta pelo meio ambiente pois, como disse Andrés Gianni: “As crianças são excelentes multiplicadores dos conceitos socioambientais porque carregam ainda consigo o ímpeto por justiça e a ideia de um mundo simples, natural e fraterno que muitos adultos já esqueceram”.
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O post “Livros, mapas e imaginação: apresentando a flora e a fauna brasileiras a um gringuinho” foi publicado em 7th October 2021 e pode ser visto originalmente diretamente na fonte ((o))eco