Vocês devem ter acompanhado a seara política de ontem mais do que eu, que tive um dia cheio de trabalho.
Eu vi aquela palhaçada autoritária de colocar tanques na rua enquanto a Câmara votava uma das principais bandeiras do Capetão, o voto impresso. Ele foi derrotado no Congresso que comprou com nosso dinheiro. Mas não foi a derrota acachapante que queríamos: foram 218 votos contra e 229 a favor. Pra PEC ser aprovada, eram necessários 308 votos. Os 229 votos foram importantes pra nos lembrar que não temos apenas o pior presidente da história, mas também o pior Congresso. E que o impeachment de Bolso nunca passaria lá (mas suponho que já sabíamos disso, não?).
Engraçado está sendo ver o mascote número 1 de Bolso (ou seria o Aras?) falar “vamos virar a página, Bolsonaro vai aceitar o resultado da Câmara”, enquanto o genocida não para. Hoje no cercadinho ele repetiu três vezes “Não tenho provas”, depois de contar todas aquelas mentiras conspiratórias (países de esquerda e o Foro de SP pagaram um hacker pra roubar 12 milhões de votos dele nas urnas eletrônicas etc).
A coluna de hoje de José Roberto Torero, “Diário do Bolso”, está impecável. Explica melhor o clima político do que muita análise complexa. Vou reproduzi-la aqui, pra gente rir bastante.
Diário…, que fracasso…, que fiasco…
Nem sei o que foi pior: a surra na cuestão do voto impresso ou o vexame da minha tanqueciata.
Nós fizemos de tudo: demos emendas parlamentares, meus bolsominions ameaçaram os deputados por telefone, a Bia Kicis usou dinheiro público para mandar mensagens em massa por Telegram e até convoquei os blindados (não, não os meus filhos, os blindados mesmo).
Fizemos de tudo, mas, mesmo assim, faltaram 79 votos.
Confesso que a ideia da tanqueciata não foi minha. Roubei do Trump. Ele queria tanques no gramado da Casa Branca na comemoração do 4 de julho do ano passado (4 de julho é o 7 de setembro deles; até nisso os caras são mais adiantados que a gente). Mas as Forças Armadas de lá disseram que isso era coisa de ditador, tipo Stálin, e não toparam.
Já as Forças Armadas daqui toparam na hora. Podem xingar meus militares de tudo, mas uma qualidade ninguém pode negar: eles não têm medo do ridículo.
Porque foi ridículo mesmo. Em vez de centenas de tanques poderosos, só tinha um bando de calhambeques fumacentos. Deviam ser os mesmos do golpe de 64. Ou do golpe do Getúlio. Acho que aquelas fubecas nem atiram mais. Devem matar por asfixia. Ou tétano.
Sabe, Diário, eu até gosto de uma cortina de fumaça, mas não desse tipo aí, talkei?
A tanqueciata acabou causando o efeito contrário: a esquerdalha perdeu o medo do golpe. Tanto que a Joanna Maranhão, aquela nadadora lá, disse que o desfile era pro Luciano Huck selecionar carros pro Lata Velha. E a cantora Annita falou que alguém tinha que mandar um fax ou um bip pra mim dizendo o que o Brasil precisa de verdade.
Comentaram que os tanques pareciam o caminhão da pamonha, me chamaram de Rainha da Sucata, disseram que os tanques são movidos a lenha e que foi a primeira apresentação da esquadrilha da fumaça em solo.
Desde o começo, a coisa não tinha como dar certo mesmo. Esses blindados estavam indo pra Goiás participar de uma simulação de operação anfíbia. É isso mesmo, Diário: uma operação anfíbia em Goiás! Pô, até o Dudu sabe que lá não tem mar.
Enfim, como disse a capa do jornal Extra, “o voto impresso virou fumaça”…