As novas denúncias de corrupção envolvendo o pior presidente de todos os tempos não são exatamente novas. São de antes do cabra ser eleito. E não surpreenderam ninguém. Todo mundo sabia, só não tinha como provar. Agora tem. Resta saber se, bem no dia em que se anunciou que o STF vai arquivar o pedido de investigação sobre a Micheque, alguém ainda vai querer investigar.
Ainda assim, a jornalista Juliana Dal Piva merece os parabéns pela reportagem que mostra que seu Jair utiliza o esquema das rachadinhas desde 1991. Juliana teve acesso a uma gravação da ex-cunhada de Bolso, Andrea, que no momento deve estar temendo bastante pela sua vida, já que conhece bem os métodos da milícia. Andrea foi funcionária fantasma da familícia durante vinte anos.
Quando perdeu a boquinha — que não era grande coisa, cerca de mil ou mil e quinhentos reais (o resto ela tinha que devolver pra Bolso) –, reclamou com alguns familiares. Um deles (que previsivelmente quer se manter anônimo) gravou e entregou pra jornalista. Andrea não não deixou de receber a mamata por algo que ela fez errado. Afinal, o que uma funcionária fantasma pode fazer de errado? Aparecer no trabalho? Não, falando sério, na reportagem ficamos sabendo que um ex-cunhado, irmão de Andrea, fez coisa errada e foi exonerado. Ele não devolvia o montante que deveria devolver.
O que aconteceu pra Andrea perder a boquinha foi que Bolso e seus filhos tiveram que maneirar um pouquinho com as rachadinhas quando Bolso ganhou a eleição. Sabe como é, a imprensa tava de olho neles… Bem antes do primeiro turno a Folha já tinha descoberto a Wal do Açaí. Lembra? Ela foi a primeira funcionária fantasma denunciada. Boulos até a citou num dos poucos debates a que Bolso compareceu.
Era óbvio: Wal era contratada com dinheiro público pra cuidar de uma das muitas casas do Capetão. Acabou sendo demitida. O pessoal que chama Vômito de Mito culpou a esquerda por uma empregada exemplar perder o emprego, tadinha. Dois anos depois, ela se candidatou à vereadora com o apoio do ex-patrão. Recebeu apenas 266 e não foi eleita.
Outras matérias que apareceram antes da eleição mostravam o gigantesco aumento de patrimônio da familícia. Muitos imóveis comprados. Acontece que comprar imóveis é uma das melhores formas de lavar dinheiro. Bolso e sua familícia sempre andaram com dinheiro em espécie. Flavinho chamou de “coisinha guardada em casa” os 30 mil reais em tutu cash que usou pra quitar imóveis. O amigão Fabricio Queiroz pagou todas as suas contas em hospital (incluindo uma de R$ 174 mil) com dinheiro vivo. Sinceramente, tem que ser muito miliciano pra guardar tantos reais assim em casa ou na carteira. É a certeza de que você não será roubado de jeito nenhum.
Por falar em Queiroz, investigado por desviar 6 milhões de reais da Alerj, hoje ele anda livre e solto. Costuma ir a comícios de Bolso e tira fotos com o gado. É um ídolo entre bolsominions. A ficha ainda não caiu pra ele que pode ir pra cadeia um dia. Ele ainda sonha em voltar a ser assessor oficial da familícia. Como disse sua esposa Márcia na ocasião em que Queiroz estava escondido em Atibaia na casa de Wassef, o “Anjo” advogado da família Bolsonaro, “Parece aquele bandido que tá preso dando ordens aqui fora. Resolvendo tudo”.
Em abril Queiroz tentou emplacar uma de suas filhas na Casa Civil do Palácio Guanabara. Já estava tudo certinho, mas aí a mídia estraga-prazeres ficou sabendo e gorou. Mas Queiroz tem tanta certeza na impunidade que ele planeja se candidatar a deputado federal ano que vem.
Aliás, adivinha quem está respondendo às denúncias da reportagem? Ele mesmo, o “Anjo” Wassef. É um tapa na cara dos brasileiros que Queiroz esteja livre, leve e solto, e que o bandido que o abrigada continua sendo advogado da família.
Graças à reportagem , ficamos sabendo que Queiroz não era o único pau mandado da familícia. Surge outro nome que também recolhia o dinheiro: o coronel da reserva do Exército Guilherme dos Santos Hudson, que foi colega de seu Jair na Academia Militar das Agulhas Negras nos anos 1970. Como disse a ex-cunhada Andrea, era o “tio Hudson” quem a levava e buscava no banco para retirar o salário (sempre em dinheiro vivo) e repassá-lo ao chefe. A esposa de Hudson constou como assessora de Flávio durante 13 anos. Um dos filhos do coroné foi chefe de gabinete do vereador Carluxo.
Mais um detalhe: Ana Cristina Valle , a segunda-dama, mãe de Renan, perguntou numa reunião de família logo no início de seu casamento com Jair se alguém gostaria de ser nomeado no gabinete dele. Na época, final dos anos 1990, era só Jair mesmo, já que Flávio e Carluxo só entraram na política no comecinho dos anos 2000. Aos familiares que responderam que adorariam “trabalhar” no gabinete de Jair, Ana Cristina explicou que só precisava do CPF. Não tinha que fazer muita coisa, tipo comparecer ao gabinete. Bastava distribuir panfletos nas campanhas eleitorais. Ah, e também devolver 90% do salário ao patriarca.
No período entre 1998 e 2018, foram mais de dezoito parentes da segunda mulher de Jair nomeados em três gabinetes da família Bolsonaro (Jair, Carlos e Flávio). Fora toda a família Queiroz e Hudson e vários outros milicianos, também funcionários fantasmas. Imagina quanto dinheiro vivo dá pra se roubar em tantos anos. Vezes três! Que aquecimento incrível isso deve ter sido pro então deputado do baixo clero! Quanto o ladrão de vacina não deve estar lucrando agora que tem acesso às grandes fortunas! O cartão corporativo secreto é só a cereja do bolo! O céu é o limite!
Também sem limite é a cara de pau de quem ainda tenta defender a familícia. O BBB Adrilles, aquele que eu denunciei por stalking, olavette que hoje é comentarista da Jovem Klan e lambedor de coturnos profissional, disse que rachadinha não é roubo, é peculato. O que Bolso fez, no fundo, foi “reavaliar o salário do seu funcionário”. Entende? Pagar salário de funcionário fantasma com o nosso dinheiro não é roubar, não é corrupção, é “revalidação de salário”. Não é por acaso que Adrilles foi a favor do fim dos direitos trabalhistas. Ele tem uma noção bem peculiar do que é uma negociação salarial.
Outra justificativa pra que Bolso e seus filhos fizeram nos últimos trinta anos é que não é corrupção se você está livrando o Brasil do comunismo. Sério! Se aquela indignação dos bolsominions e demais reaças com a corrupção dos governos anteriores nunca te pareceu sincera, é porque não era mesmo. Nunca foi sobre corrupção! A justificativa atual é “todo político rouba”, ou “o Mito rouba, mas nos salva do comunismo”.
Claro que será cada vez mais difícil Jair vir com aquelas bravatas de “Me chame de corrupto” (todo mundo junto em coro, all together now: CORRUPTO!) ou slogans de “Podem chamá-lo de qualquer coisa, menos de corrupto”, ou dar entrevistas afirmando “A minha família é limpa na política”, mas como ele nunca teve qualquer compromisso com a verdade, não será impossível.
A reportagem ainda conversou com ex-procuradores da República (que previsivelmente quiseram se manter anônimos) pra explicar que, segundo a Constituição, Bolsonaro pode ser investigado por atos anteriores ao seu mandato de presidente. Isso aconteceu com Michel Temer, por exemplo (e vimos no que deu: NADA). Só quem tem que mandar investigar é o procuradorzinho particular da república, Augusto Aras. Não vai acontecer.
E o Brasil segue sendo desmoralizado e morrendo a cada dia.
O post “JAIR BOLSONARO, O REI DAS RACHADINHAS” foi publicado em 5th July 2021 e pode ser visto originalmente na fonte Escreva Lola Escreva