MARINA PIATTO
GABRIEL QUINTANA
DO IMAFLORA
A nova fase do Plano ABC para a década 2020-2030 foi lançada na semana passada pelo governo. Batizado ABC+ 2020-2030, o plano conta com os pacotes tecnológicos já estimulados anteriormente – plantio direto, recuperação de pastagens degradadas, integração lavoura-pecuária-floresta (iLPF), fixação biológica de nitrogênio, florestas plantadas e tratamento de dejetos animais e assistência técnica e crédito (Programa ABC) – mas também passa a incorporar novas estratégias para promover maior eficiência e resiliência dos sistemas produtivos frente à crise climática, assegurando conservação com produtividade.
O Plano ABC já mitigou aproximadamente 170 milhões de toneladas de gás carbônico equivalente (CO₂e) entre 2010 e 2018. Porém, o Ministério da Agricultura ainda não apresentou novas metas a serem alcançadas. O foco do lançamento foi o pacote de estratégias integradas de gestão das propriedades rurais, que, além de incluir as tecnologias de mitigação anteriores, passa a apoiar a regularização ambiental e a implementar o tão esperado monitoramento dos produtores que adotam essas práticas. Outro destaque foi considerar a valorização dos produtores que implementam práticas ABC, por meio de finanças verdes atreladas ao monitoramento dos resultados.
Para que essas estratégias sejam efetivadas, o ABC+ se baseia na abordagem integrada da paisagem,,combinando práticas de mitigação e adaptação customizadas para cada bioma, contando com a participação ativa dos Estados para implementação.
Como exemplo de resultado do efeito sinérgico entre o que já foi alcançado na primeira fase e o que agora será impulsionado pela nova, foi mencionada a Carne Carbono Neutro, desenvolvida pela Embrapa, com potencial de aplicação para outros produtos agropecuários, como leite, bezerros e couro, de acordo com Celso Moretto, atual presidente da empresa e participante do lançamento.
De forma geral, as novidades do ABC+ 2020-2030 buscam dar escala aos avanços obtidos para setor no período anterior. Segundo estudo realizado pela Agroícone, caso todas as atividades previstas pela primeira fase do Plano ABC fossem realizadas, seria necessário o valor de R$ 197 bilhões. Entretanto, de 2010 até 2020, foram disponibilizados somente R$ 19,1 bilhões pelo Programa ABC, aplicados principalmente em recuperação de pastagens, plantio direto e iLPF. É menos de 10% do orçamento demandado pelo plano.
Para a safra 2020-2021, o Plano Safra conta com R$ 236 bilhões, dos quais R$ 2,5 bilhões estão destinados para o Programa ABC, pouco mais de 1% do total. Essa quantia demonstra que apesar da nova versão do ABC+, o investimento está aquém da necessidade de redução das emissões no setor agropecuário que em 2019 foi responsável por 28% do total das emissões brasileiras segundo SEEG 2020.
O Brasil é hoje o quinto maior emissor de gases de efeito estufa do mundo. Somente em 2019 a agropecuária foi segundo setor que mais emitiu esses gases, com aproximadamente 598,7 milhões de toneladas de CO₂e, representando 28% das emissões nacionais, somente atrás das emissões provenientes das mudanças de uso da terra, as quais atingiram 968 milhões de toneladas de CO₂e.
Esse perfil de emissões nacionais se repete há mais de duas décadas e demonstra a importância do ABC+ e da necessidade do engajamento do setor produtivo para sermos um agro verde na totalidade do território brasileiro.
O post “Plano ABC ganha nova fase, mas permanece com 1% do Plano Safra” foi publicado em 29th April 2021 e pode ser visto originalmente na fonte OC | Observatório do Clima