Ontem o dia começou com o Gabinete do Ódio tentando transformar um PM surtado em herói. Mais tarde bolsonaristas passaram a divulgar um vídeo da Gaviões da Fiel (torcida de SP) como se fosse uma rebelião policial contra a morte do PM surtado. Também foi espalhado um vídeo de PMs protestando em frente do hospital em que o policial morreu. Um dos manifestantes discursou: “Agora era a hora do exército intervir nesse estado comunista”, referindo-se à Bahia, governada pelo PT.
Foi um prenúncio do que estava por vir, uma preparação do clima para um Golpe de Estado, que os bolsonoristas tanto desejam (mas preferem chamar de “intervenção militar”). Fazia tempo que a gente não ouvia tanto essas palavras. Mas não se preocupe que o mercado reagiu bem. A bolsa até subiu um pouco, o dólar caiu. Motivo pra pânico é só quando Lula sobe nas pesquisas.
Ainda ontem o ministro da Defesa Fernando Azevedo deixou o governo. Parece que Bolso lhe pediu para substituir o comandante do exército Edson Pujol e exigiu mais “demonstração de apreço” das Forças Armadas. Demonstrações públicas, bem entendido (traduzindo: O Capetão ficou indignado porque Pujol não ameaçou publicamente o STF no Twitter depois da decisão sobre Lula, como fez o Villas Boas em 2018). Daí o ministro saiu dizendo que preservou “as Forças Armadas como instituições de Estado”. Algo que está na Constituição. Então quem estava tentando mexer nas Forças Armadas?
Enquanto isso, o Gabinete do Ódio guiava o gado para fazer “vigília” nos quartéis para exigir intervenção militar e manter Bolso no poder. O que foi atendido: há apoiadores de Bolso orando por ele em frente ao Planalto. Por enquanto desarmados. Por enquanto. Hoje a tag da mentira é “O povo está com Bolsonaro”. Tão verdadeiro quanto Bolso se lançar como o pai das vacinas.
Roberto Jefferson, mais conhecido pelo seu apelido de vilão de quadrinhos Bob Jeff, presidente do PTB, velho corrupto e bússola moral e ética dos reaças, deu entrevista a um vereador de Juiz de Fora, MG, defendendo a criação de milícias para agredir violentamente a Guarda Municipal e derrubar a prefeita da cidade, Margarida Salomão (PT): “o Margaridão vai ser desfolhado”.
Mas tá tudo tranquilo — pergunte ao mercado que Guedes frequenta. Um outro general, Santos Cruz, assegurou que as Forças Armadas não embarcariam numa aventura golpista. E a gente sabe que os milicos que fazem parte deste governo marcado pela lisura e seriedade são de extrema confiança.
Olha, se você não está preocupadx, é porque não está prestando atenção.
Hoje, numa reunião tensa, todos os comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica foram exonerados . É a primeira vez desde a democratização que isso acontece. Quem insiste que não há nada de mais acontecendo jura que as mudanças são apenas para acomodar o Centrão. Já um jornalista americano avisa: Bolso está preparando seu próprio 6 de janeiro (quando Trump mandou invadir o Capitólio; Dudu was there). E um deputado bolsonarista tenta aprovar em regime de urgência a Lei de Mobilização Nacional, que daria amplos poderes ao Capetão.
O que
parece evidente , e que já foi amplamente anunciado pela famílicia, é que Bolso não vai renunciar, não vai aceitar o impeachment, e, se sobreviver politicamente até 2022, não vai acatar qualquer resultado nas urnas que não o leve a um segundo mandato (isso também se o Brasil sobreviver até 2022, claro). Mas ele não conta com o apoio das Forças Armadas (ou dos EUA) pra esse projeto. Tentará o golpe de qualquer jeito? Apenas as milícias e os policiais militares serão suficientes pra dar o golpe? Se houver golpe, as Forças Armadas que juram que servem ao país, não ao presidente, tentarão contê-lo? Mourão já está no aquecimento?
Ah, sim. Amanhã é aniversário do golpe de 1964. Que eles chamam de revolução. Na realidade o golpe ocorreu no dia 1o de abril, mas milicos odeiam celebrar uma data tão festiva no dia da mentira. Eu não sei quanto a você, mas eu estou bem preocupada.
Publico a thread do deputado federal Marcelo Freixo (PT-RJ), ontem no Twitter:
ATENÇÃO! A manipulação da morte do PM Wesley Soares e a incitação a motins policiais por Bia Kicis e outros deputados extremistas é mais um alerta sobre o uso político das forças de segurança pelo bolsonarismo para viabilizar o golpe. Segue o fio !
1. Bolsonaro quer rebaixar institucionalmente as polícias, afrouxando ainda mais os já precários controles civis, para que elas deixem de ser órgãos de Estado e passem a atuar como uma espécie de guarda política, ponta de lança de seu projeto de poder autoritário.
2. O que aconteceu no motim do Ceará em fevereiro de 2020 se repete agora na Bahia, políticos bolsonaristas estão diretamente envolvidos na incitação à rebelião armada de policiais contra governadores de oposição e desafetos do presidente para gerar instabilidade.
3. O episódio baiano tem um aspecto mais grave, que é a exaltação do ato violento do PM, tratado por Bia Kicis e toda a rede bolsonarista como um herói. O objetivo é claro, incentivar que outros agentes da segurança pública façam o mesmo p/ alimentar o medo e o caos.
4. Não é novidade que Bolsonaro e deputados aliados percorrem batalhões em todo Brasil para fazer pregações golpistas. Mas essa ofensiva ganhou um novo ingrediente na Câmara: um projeto de lei para retirar dos governadores o controle sobre as policias militar e civil.
5. O objetivo não é modernizar, valorizar os salários e melhorar as condições de trabalho dos PMs. O governo quer acabar com os poucos controles democráticos e legais que existem sobre a atividade policial. Quer a tropa livre para agir a seu serviço.
6. O outro ingrediente perigoso é a chamada lei de combate ao terrorismo, um antigo projeto de Bolsonaro que foi retomado pelo major Vitor Hugo. O PL amplia e generaliza a definição de terrorismo para que qualquer ato que desagrade o governo possa ser enquadrado como criminoso.
7. Dentre os muitos absurdos, a proposta cria a excludente de ilicitude, que é uma licença para matar, em ações de combate ao terrorismo e autoriza o acesso das autoridades policiais aos dados privados de suspeitos, sem qualquer tipo de controle.
8. Bolsonaro pretende institucionalizar um Estado policial com amplos poderes para violar garantias constitucionais dos cidadãos e os princípios básicos do Estado de Direito. É a intimidação e perseguição transformadas em política de governo.
9. Tudo isso sem perder de vista a destruição dos mecanismos de controle e monitoramento de armas e munições, permitindo que civis tenham acesso a grande quantidade de armamento pesado, como fuzis, com o objetivo de criar milícias políticas bolsonaristas.
10. Bolsonaro está montando um cerco armado contra a democracia. Ele já avisou que se não houver voto impresso em 2022, a violência no Brasil será maior que nos EUA. Ele se alimenta do caos. O Congresso Nacional e o STF precisam reagir IMEDIATAMENTE para frear o golpe em curso.