A rodovia BR-319 (Manaus-Porto Velho) corta um dos blocos mais conservados de floresta amazônica, e a proposta de reconstrução desta rodovia antes abandonada implica na migração de grileiros, madeireiros e outros atores do arco de desmatamento para vastas áreas de floresta intacta . O DNIT vem descumprindo a legislação ambiental para pavimentar um trecho da rodovia que carece de estudos ambientais, fato que o Ministério Público Federal classificou como de “má fé” . O governo federal se recusa a realizar as consultas prévias obrigatórias dos indígenas . Como denunciado por um cacique do povo Apurinã , um ramal ilegal que está sendo construído para ligar com a rodovia tem dado invasores acesso à sua terra indígena , e, além do desmatamento já documentado, as comunidades indígenas temem espalhado do coronavírus.
No Twitter do Ministério de Infraestrutura , foi divulgada uma postagem anunciando uma rota emergencial via BR-319 para facilitar o transporte de oxigênio para Manaus. A segunda onda de coronavírus que Manaus enfrenta foi prevista em agosto do ano passado na revista Nature Medicine . O Amazonas sabia desde novembro que o oxigênio em Manaus seria insuficiente , e o Ministro da Saúde Eduardo Pazuello sabia vários dias antes da atual crise . Mas o oxigênio não foi providenciado em tempo hábil.
Mesmo se a BR-319 fosse completamente reconstruída e pavimentada, o transporte de carga entre Manaus e São Paulo via esta rodovia seria 19% mais caro do que pelo o sistema atual , que passa via Belém com barcaças no rio Amazonas, e se o sistema portuário de Manaus fosse ampliado (por exemplo, em Itacoatiara) para fazer o transporte até Santos em navios, este transporte seria 37% mais barato que o sistema atual.
Caso o Ministério da Saúde tivesse enviado oxigênio em tempo hábil, poderiam ter providenciado o oxigênio de Manaus com menos custo. Com uma demanda urgente como a atual, faz muito mais sentido utilizar o transporte aéreo, não sendo justificado relacionar a crise de oxigênio de Manaus com a rodovia.
De forma propagandista em prol de um lobby da rodovia, o prefeito de Manaus (David Almeida) tentou justificar a crise de falta de oxigênio com a ausência da rodovia . Em seguida, o DNIT anunciou na sua conta do Twitter que iria escoltar carretas que transportariam oxigênio até Manaus pela rodovia BR-319. O atolamento e reboca dos caminhões transportando o oxigênio via BR-319 não deve ser visto como uma estratégia heroica ou uma demonstração de isolamento da região, mas uma tentativa de lobby de uma obra inviável economicamente e ambientalmente, além de estar violando os direitos dos povos indígenas.
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O post “Oxigênio para Manaus usado como manobra do lobby para uma rodovia inviável” foi publicado em 11th February 2021 e pode ser visto originalmente diretamente na fonte ((o))eco