Pense em um programa que seja capaz de articular o fortalecimento da cadeia produtiva dos biocombustíveis, garantindo a sustentabilidade na produção e o retorno econômico, aliando a transição da cadeia dos combustíveis derivados de petróleo para uma economia de baixo carbono. Parece uma boa ideia certo? Como diria meus amigos do sul, é uma baita ideia, e o RenovaBio é exatamente isso.
As distribuidoras de combustível ganham metas individuais para descarbonização, ou seja, precisam buscar reduzir a sua emissão de CO², algo que deveria já estar sendo pensado para toda a indústria, mas a agenda do Salles parece estar mais voltada ao boi bombeiro e ao programa do Chaves. Mas como as distribuidoras poderiam conseguir reduzir a emissão de CO²?
Aí entra o segundo eixo do programa, em que os produtores de biocombustível podem comercializar o CBIO (crédito de descarbonização), obtido a partir da conta de eficiência energético-ambiental das emissões dos biocombustíveis em relação aos combustíveis derivados de petróleo. Cada produtor multiplica a sua produção por esse valor e obtém uma quantidade de CBIOs para ser comercializado na B3, a nossa bolsa de valores.
Mas qualquer produtor pode fazer isso? Não vai gerar mais pressão sobre o desmatamento, como vimos nos últimos anos? Pergunta importante, ainda mais nos dias atuais e a resposta é não, pois um dos eixos do RenovaBio é a certificação da produção, ou seja, para poder entrar no jogo, o produtor precisa passar por uma auditoria de certificação que irá garantir a sustentabilidade da sua produção.
O RenovaBio é um programa completo e bem estruturado que promove a transição para uma economia de baixo carbono, utilizando-se dos instrumentos de mercado, o estado apenas define a meta de descarbonização, conforme os seus compromissos internacionais, como o Acordo de Paris.
Quando foi lançado o programa foi criticado por alguns economistas que diziam que a CIDE, o chamado imposto sobre combustíveis poderia funcionar melhor e sem o custo de operação do Programa. Porém essa é uma visão de quem conhece pouco da área de sustentabilidade, pois é justamente a garantia da sustentabilidade na produção dos biocombustíveis que assegura e garante a transição do setor para uma economia de baixo carbono.
Ainda assim, mesmo com críticas e durante um governo que não acredita na pauta da sustentabilidade, o programa após intensas discussões, formulações e testes foi lançado e começou a rodar no ano de 2020.
Porém como diria o Ronaldinho Gaúcho em sua passagem espetacular pelo Galo, “Quando tá valendo, tá valendo” e mesmo com tanto treino, o governo embolou o meio de campo, atrasou a entrega das metas individuais para as distribuidoras e abriu margem para contestação.
As distribuidoras deveriam receber as metas no início do ano, para que assim possam ter tempo suficiente para agir, por exemplo, comprando os CBIOs e assim garantir o cumprimento da meta. Porém as metas foram entregues apenas em setembro e aí a mão invisível do mercado agiu, elevando os preços dos CBIOs que chegaram a bater os R$ 64,00, um preço alto para um mercado que precisa comprar cerca de 7 milhões de títulos.
Diante desse imbróglio o liberalismo pareceu um preço muito caro a ser pago, quase meio bilhão para ser mais exato, e aí as distribuidoras entraram na justiça e garantiram uma redução da meta. Para continuar na gíria futebolística, apelaram para o VAR e conseguiram anular o gol.
Por enquanto foi apenas um jogo, porém no campeonato do ESG o RenovaBio pode ser o nosso camisa 10, contanto que as partidas não sejam decididas no tapetão.
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O post “Sobre o Renovabio, o liberalismo e o ESG” foi publicado em 10th November 2020 e pode ser visto originalmente diretamente na fonte ((o))eco