O geólogo Abdel Hach destacou algumas regras que devem ser seguidas para captação da água subterrânea. Paraná teve aumento de 170% na procura por poços por causa da estiagem
A estiagem prolongada no Paraná afetou o abastecimento de água e provocou o aumento da procura por poços artesianos em 170%, conforme o Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Paraná (Crea-PR).
De janeiro a maio deste ano, foram 1.049 pedidos de Anotações de Responsabilidade Técnica (ARTs). No mesmo período do ano passado foram 389. Em Curitiba, o aumento foi ainda maior: de 327% – foram 104 pedidos de janeiro a maio, enquanto no mesmo período de 2019 foram 22.
Entretanto, especialistas alertam para as etapas de construção dos poços e os perigos de fazer o serviço clandestinamente.
O G1 conversou com o geólogo Abdel Hach, coordenador da Câmara Especializada de Engenharia Química, Geologia e Minas, do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Paraná (Crea-PR), que destacou algumas regras para as pessoas interessadas em realizar a obra no imóvel ou empresa.
O Crea-PR lembra que as regras, autorizações e registros necessários para perfuração de um poço artesiano variam de acordo com o estado.
Etapas para construção do poço
Os poços artesianos são perfurados com o objetivo de captar a água que se encontra nos subsolos. De acordo com o geólogo, essa água possui melhor qualidade física, química e biológica, além de ser protegida da contaminação humana – não sendo necessário tratamento para o consumo.
A construção de um poço artesiano custa a partir de R$ 40 mil, dependendo da profundidade e vazão. “A instalação é cara, mas na verdade é um investimento. Ele dura uns 40 anos”, relatou Hach.
Além disso, o interessado deve enfrentar alguns processos, como solicitar a autorização do Instituto Água e Terra (IAT), do Governo do Paraná – que também é quem fiscaliza.
“Quem já tem um poço artesiano é preciso pedir a aprovação também, ou seja, regularizar o poço perante os órgãos competentes. Um poço artesiano você faz em cinco dias, mas a gente tenta mostrar a importância de ter a Anotação de Responsabilidade Técnica (ART), de não fazer nada de errado ou escondido porque depois o prejuízo é maior”, disse o geólogo.
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Análise da área
Conforme o Crea-PR, é preciso conhecer bem o local onde será realizada a perfuração. Para isso é necessária uma área de seis metros de largura e 22 metros de comprimento. A profundidade de um poço artesiano convencional vai de 100 a 1,5 mil metros, conforme o geólogo.
O Instituto Água e Terra (IAT) também reforça que é importante o dono do imóvel exigir sempre um contrato de trabalho, com todas as etapas especificadas.
O IAT explica que um poço consiste de perfuração, revestimento, filtro, pré-filtro, moto-bomba e vedação.
O Crea-PR alerta que a construção de um poço artesiano deve ser feita em um raio de, pelo menos, 500 metros de distância de outro, para evitar afundamento de solo. Um poço mal feito pode causar prejuízos graves, tanto na qualidade da água, quanto na segurança do local.
Abdel Hach comenta que a solução pode ser construída em casas, condomínios ou espaços maiores, como empresas, chácaras e indústrias. “Lembre-se que tem que ter um espaço grande para que caibam os equipamentos da perfuração e outras etapas da obra”.
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Deve ser perfurado por máquinas e empresas especializadas
Hach explica que o poço artesiano deve ser perfurado por máquinas e empresas cadastradas no Crea-PR, e por responsáveis técnicos – como um geólogo ou um engenheiro de minas.
“Deve ser colocada uma tubulação de aço perfurada, com peneiras que vão filtrar as impurezas da água que atravessam o cascalho. O filtro deve ser de aço galvanizado e não é recomendável que seja de PVC”, disse.
A empresa contratada deverá apresentar um relatório com os seguintes itens, segundo o IAT: localização, perfil de sondagem, perfil das características construtivas e hidráulicas, gráficos com condições de explotação, análise físico-química e bacteriológica e outorga de uso.
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Teste de vazão e análise de água
O especialista afirma que é necessário medir os valores hidrodinâmicos do poço, de acordo com as normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), padrão Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE), Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) e outros órgãos.
Segundo Hach, durante o teste é coletada uma amostra de água para análise em laboratório especializado da potabilidade, seguindo as especificações do Ministério da Saúde.
“Aquelas indústrias de alta precisão, por exemplo, precisam de uma vazão constante de água, qualidade física e química. Sou muito a favor da utilização do poço artesiano, mas com a retirada de água de maneira consciente e tecnicamente recomendada”, explicou.
A partir desses dados obtidos no teste de vazão e da necessidade de volume e armazenamento de água, será possível dimensionar o projeto do sistema de bombeamento submerso, disse o geólogo.
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Isolar obra da camada superficial
O Crea-PR indica que o poço artesiano deve ser revestido com tubos de aço para isolar a obra da camada superficial e evitar o desmoronamento e contaminações. Além disso, deve ser feita a cimentação e a laje de proteção sanitária.
De acordo com Hach, o poço será reaberto se houver a necessidade de instalação de tubos de maior diâmetro ou para a instalação de filtro e pré-filtro – que preenchem todo o espaço entre as paredes do furo e da tubulação, retendo impurezas e partículas maiores.
“O desenvolvimento do poço é feito pelo compressor ou pela bomba submersa para retirar os resíduos e promover a passagem de de água”, comentou.
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Fazer manutenção no poço
O Crea-PR afirma que a manutenção deve ser feita regularmente e é o que vai garantir maior vida útil ao poço artesiano.
Abdel Hach aconselha que anualmente sejam avaliadas a qualidade da água e dos equipamentos hidráulicos e elétricos.
Perigo na clandestinidade
Hach afirma que não é possível ter um número de quantos poços artesianos do Paraná são clandestinos, mas que esse é um fator preocupante.
“Empresas, moradores, enfim, fazem por conta a perfuração, constroem os poços e não regularizam, não registram, não têm licença. Muitos poços em um mesmo local, sem respeitar as regras, causa interferência hidráulica e, com isso, o aquífero pode se esgotar”, explicou.
Além desta questão, o geólogo relata a possibilidade dessas pessoas estarem consumindo água contaminada, já que o processo clandestino não segue as normas e também não tem fiscalização adequada.
Portanto, segundo ele, a pessoa que é dona do poço é responsável pela qualidade da água que se extrai.
“Não adianta ter água e ela ser contaminada. Tem substâncias que podem se infiltrar no solo e contaminarem tudo, por isso a importância de fazer tudo certo, regulamentado, que passe por análises periódicas”, concluiu.
Fonte: G1 .
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