A resposta à explosão ocorrida nesta terça-feira (4) em Beirute, no Líbano, exige apoio global para “superar o impacto devastador” da crise que o povo libanês enfrenta , afirmou o vice-coordenador especial da ONU para o país na quinta-feira (6), Ján Kubis.
As explosões causaram cerca de 140 mortes, 5.000 feridos e centenas de pessoas ainda estão desaparecidas.
Reiterando o compromisso do Secretário-Geral em ajudar o Líbano, a coordenadora-residente Najat Rochdi, que também coordena o esforço humanitário da ONU no país, liberou 9 milhões de dólares do Fundo Humanitário Libanês para ajudar a atender às necessidades imediatas.
A coordenadora-residente disse que ficou profundamente comovida com a solidariedade das pessoas e os atos espontâneos de bondade. “Estamos nisso juntos e estamos comprometidos em apoiar o Líbano neste momento muito difícil”.
O chefe de assistência emergencial da ONU, Mark Lowcock, também vai liberar recursos adicionais do Fundo Central da ONU de Resposta de Emergências (CERF) para atender às necessidades imediatas e ajudar a fortalecer a capacidade dos hospitais existentes. Isso incluirá a expansão e o estabelecimento de Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) adicionais, além do fornecimento de kits de trauma, ventiladores, suprimentos médicos e medicamentos.
Impacto nas crianças
Cerca de 80.000 crianças estão entre as 300.000 pessoas deslocadas pelas explosões de Beirute, segundo estimativas do UNICEF, com famílias afetadas que precisam desesperadamente de apoio.
De acordo com a representante adjunta do UNICEF no Líbano, Violet Speek-Warnery, nas últimas 24 horas o UNICEF está trabalhando junto com as autoridades e parceiros locais para responder às necessidades urgentes das famílias afetadas, focando na saúde, na água e no bem-estar das crianças.
Hospitais atingidos
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a explosão deixou três hospitais inoperantes. Além disso, outras duas instalações de saúde sofreram danos substanciais – o equivalente a 500 leitos hospitalares perdidos.
O vice-porta-voz da ONU, Farhan Haq, explicou que estão sendo realizadas novas avaliações, em coordenação com o Ministério da Saúde do Líbano, para “identificar a capacidade disponível, as necessidades materiais e as lacunas operacionais no setor da saúde”.
Instalações lotadas
De acordo com o Escritório das Nações Unidas de Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA), os centro de saúde em Beirute continuam lotados de vítimas com traumas e queimaduras, e muitos atendimentos estão sendo feitos nas calçadas e nos estacionamentos.
Muitas unidades de terapia intensiva já estavam próximas da capacidade com a COVID-19 e o surto no país está piorando.
A OCHA está enviando equipes de emergência para ajudar na resposta às explosões, incluindo especialistas da equipe de Avaliação e Coordenação de Desastres da ONU (UNDAC) e o Grupo Consultivo Internacional de Busca e Resgate.
Fechamento do porto
“Com o porto de Beirute inoperável, a ONU e seus parceiros estão buscando ajustar as redes de logísticas para garantir a realização das ações”, disse o vice-porta-voz da ONU, Farhan Haq. Segundo ele, os materiais humanitários provavelmente seriam redirecionados pelo porto de Trípoli, mas por ter uma capacidade menor do que o porto de Beirute, é possível que algumas cadeias de suprimentos sejam afetadas negativamente.
Missão da ONU
A Força Interina da ONU no Líbano (UNIFIL) informou que continua avaliando os danos a um de seus navios da Força-Tarefa Marítima, atingidos durante a explosão. Segundo o porta-voz da ONU, após as explosões, 23 soldados das forças de paz da UNIFIL de Bangladesh foram hospitalizados e 18 receberam alta. Dois soldados permanecem em condições críticas, mas estão estáveis.
A Missão da ONU continua a se engajar e oferecer apoio às autoridades e ao povo do Líbano para lidar com as consequências.
Líbano: tragédia, crise e pandemia agravam necessidades da população refugiada
Segundo o relatório Tendências Globais, o Líbano é a nação que abriga a maior população de refugiados per capita do mundo: 1 em cada 6 habitantes é uma pessoa que deixou seu país natal para escapar de guerras e conflitos, e buscou em território libanês uma vida em segurança. No total, o Líbano abriga mais de 925.000 refugiados registrados. A maior parte deles (98%) veio do país vizinho, a Síria, que está em guerra há quase dez anos. Em seguida, estão refugiados vindos do Iraque e do Sudão. A Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) atua no país para assegurar abrigo, alimento, saúde e educação aos refugiados e às comunidades que os acolhem.
Além disso, mais de 200 mil refugiados palestinos vivem no país sob o mandato da Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Próximo Oriente.
Pandemia de COVID-19 agrava crise socioeconômica
Altas taxas de desemprego, inflação e depreciação monetária já colocavam em risco o acesso a serviços essenciais pela população libanesa e milhares de refugiados que buscaram refúgio no país. A chegada da pandemia de COVID-19, somada às restrições para conter sua propagação, agravou o cenário de vulnerabilidade enfrentado pela nação.
No total, o ACNUR já realizou mais de 3.500 testes para COVID-19 em 147 locais em todo o país e participou de obras de expansão e reabilitação de três hospitais públicos. Fornecemos também abrigos com áreas de isolamento, equipamentos hospitalares, leitos de UTI e treinamento para profissionais da saúde. Além disso, o ACNUR distribuiu materiais de higiene para mais de 345.000 refugiados e mais de 10.000 cestas de alimentos foram doadas.
Comunidade libanesa no Brasil
No final do século passado, foram os libaneses que contaram com o acolhimento da comunidade internacional, em especial, do Brasil. De 1975 a 1990, uma guerra civil destruiu a nação e deixou cerca de 120 mil mortos, segundo números reconhecidos pelo Conselho de Direitos Humanos da ONU.
Diversas fés coexistem no Líbano – muçulmanos xiitas e sunitas, cristãos ortodoxos, católicos, maronitas e protestantes, drusos, judeus, bahá’ís, budistas, hindus – constituindo também uma multiplicidade de posicionamentos políticos dentro do país.
Com a adoção do Pacto Nacional, em 1943, determinou-se que certos cargos do governo deveriam ser ocupados por indivíduos de grupos religiosos específicos. O presidente da República e o comandante do Exército deveriam ser cristãos maronitas; o primeiro-ministro, um muçulmano sunita; e o presidente do Parlamento, um muçulmano xiita.
O equilíbrio entre as comunidades religiosas, contudo, foi fragilizado com os eventos da política internacional na metade do século XX. A guerra árabe-israelense de 1948 causou o deslocamento em massa de palestinos para o Líbano, modificando a demografia religiosa do país. A Guerra Fria também polarizou ainda mais as comunidades religiosas em campos ideológicos.
As tensões político-religiosas logo desencadearam ataques e massacres pelo país, com os grupos disputando o controle do governo. Em 1978, Israel invadiu o sul do Líbano em ofensiva contra a resistência palestina. Em 1982, os israelenses avançaram até Beirute, causando centenas de mortes. Outros países também participaram ativamente do conflito, como a Síria.
O Brasil recebeu milhões de pessoas que precisaram abandonar suas casas durante este período, oferecendo segurança e um novo começo. Esses migrantes estabeleceram-se principalmente nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Paraná, formando uma rede familiar de acolhimento para parentes que viviam no Líbano e queriam sair do país por causa do conflito. É justamente no Brasil onde vive a maior comunidade de libaneses no mundo, com uma população maior do que a do próprio Líbano.
Após cada cessar-fogo e acordo de paz, o povo libanês mostrou incrível resiliência para reconstruir seu país. Mesmo enfrentando suas próprias mazelas, como o alto desemprego, a inflação galopante e a depreciação de sua moeda, que colocaram o país em uma crise econômica sem precedentes, o Líbano segue sendo refúgio para milhões de pessoas que foram forçadas a deixar seus países.
O ACNUR presta sua solidariedade a população de Beirute e do Líbano e à comunidade libanesa no Brasil neste momento trágico.
Fonte
O post “ONU leva ajuda humanitária imediata para apoiar Beirute após explosão” foi publicado em 7th August 2020 e pode ser visto originalmente diretamente na fonte ONU Brasil