“Quantos cariocas saberão, porventura, que, a três ou quatro horas do centro urbano, ainda se encontram onças, entre elas a sussuarana (sic) e a jaguatirica, e capivaras, e estranhos símios (…)”, o trecho é do livro ‘O Sertão Carioca’, do autor Armando Magalhães Corrêa, publicado em 1936, e descreve as últimas ocorrências da suçuarana (Puma concolor), também conhecida como onça-parda, na cidade do Rio de Janeiro. Oitenta e quatro anos depois, a câmera de vigilância do Sítio Burle Marx flagrou na noite de sexta-feira (03) uma onça-parda caminhar na frente da cerca que protege a propriedade, o primeiro registro conhecido do felino na cidade desde as páginas do livro de Magalhães. O sítio é vizinho ao Parque Estadual da Pedra Branca, uma grande área florestal de 12.500 hectares, o que aumenta as chances do felino ser de fato um animal silvestre e não oriundo de alguma soltura irregular.
“A última informação que a gente tem citando a ocorrência da onça-parda na cidade é o livro do Magalhães Corrêa, de 1936, que faz referência a essa região do Maciço da Pedra Branca e ele cita, por diversas vezes, que tinha muita onça naquela região, fala de encontros pessoais, de caçadores pegando onça. De lá para cá não tem nenhum registro”, contou ao ((o))eco o biólogo Izar Aximoff. “É um registro muito interessante, agora é ver se a gente consegue mais dados”, acrescenta. O biólogo foi ao local neste sábado (04) para instalar duas armadilhas fotográficas na esperança de, quem sabe, registrar mais uma vez esse visitante inesperado das florestas cariocas.
“É um bicho que parece ser jovem e normalmente são os jovens que dispersam procurando novas áreas. Então estou investigando para ver se consigo registrar o animal de novo e também para saber lá pela região se alguém sabe de algum animal que pode ter sido solto ou algo do tipo”, explica Izar, que está fazendo um levantamento junto ao Inea para saber se existe algum criadouro com onça-parda na região.
O Rio de Janeiro é uma cidade privilegiada, cercada de maciços ainda florestados e protegidos hoje por unidades de conservação. Entretanto em nenhum deles, Parque Nacional da Tijuca , os parques estaduais da Pedra Branca e do Mendanha , há registro de ocorrência de felino de grande porte. Pesquisas com armadilhas fotográficas conduzidas nessas localidades registraram apenas felinos pequenos, como o ameaçado gato-do-mato pequeno (Leopardus guttulus), no Pedra Branca, e o gato-mourisco (Puma yagouaroundi), na região do Mendanha. Na Floresta da Tijuca, não há registro científico de nenhum felino nativo e em nenhum dos três maciços florestais há registros fotográficos da onça-parda, apesar de no Mendanha já terem sido encontradas pegadas que os pesquisadores suspeitam que possam ser dela.
A onça-parda (Puma concolor) é o segundo maior felino que ocorre no Brasil, atrás apenas da onça-pintada (Panthera onca) e apesar de ter uma ampla distribuição, já que ocorre em todo o continente americano, é considerada como vulnerável no Brasil, de acordo com levantamento do ICMBio no Plano de Ação Nacional para Conservação da Onça-Parda . As principais ameaças sofridas pela espécie são a fragmentação e destruição do seu habitat, caça e o atropelamento devido à expansão da malha rodoviária.
O vídeo gravado pela câmera de segurança que flagrou a onça-parda foi publicado na página do G1 .
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O post “Onça-parda é vista pela 1ª vez na cidade do Rio desde 1936” foi publicado em 5th July 2020 e pode ser visto originalmente diretamente na fonte ((o))eco